
Alguns dos artistas que melhor conhecem a complexa obra de Itamar Assumpção (19492003) têm uma difícil missão a partir de amanhã, em Curitiba. Ao longo de três dias, a banda Isca de Polícia recebe os convidados Jards Macalé, Arrigo Barnabé, Serena Assumpção e Ná Ozzetti para um tributo ao músico paulista, que é um dos ícones da vanguarda paulistana da década de 80 e um dos mais inventivos artistas da música brasileira. No repertório dos três shows (veja quadro ao lado), que acontecem no Teatro da Caixa, estão músicas de diferentes fases da carreira de Itamar todas apresentadas pela Isca de Polícia e pelos convidados, que tiveram papéis importantes na vida do músico.
Paulo Lepetit, um dos integrantes, conta que os músicos passarão por um repertório amplo de Itamar, que está na essência da sonoridade da banda. "O som veio, principalmente, da linguagem do Arrigo e do Itamar. A banda foi sendo atraída para essa linguagem. Cada músico que entrava tinha que absorvê-la, para daí interferir", conta. "Mas a gente foi construindo uma linguagem de banda, uma linguagem que já é da gente também. Então temos muito prazer em trabalhar sobre essa obra, que acaba sendo um pouco nossa, pelo tempo que trabalhamos juntos."
O primeiro a acompanhar a banda será Jards Macalé, um dos mais importantes artistas da MPB e amigo de Itamar. "Eu, com o maior prazer, participo. Itamar é uma grande figura humana, um tremendo de um compositor, um cantor particularíssimo", diz Macalé. Ele conta que eram frequentes as visitas à casa do amigo, em São Paulo, em que passavam horas cantando músicas de Ataulfo Alves um dos cantores preferidos de Itamar. Macalé e Itamar chegaram a gravar juntos um disco voltado à obra do cantor. Algumas dessas músicas serão apresentadas no show.
Redescoberta
Lepetit explica que, assim como o show Nego Dito e o documentário Daquele Instante em Diante, de Rogério Velloso (em cartaz no Unibanco Crystal, em sessão gratuita), várias outras ações estão sendo feitas para divulgar a obra de Itamar para ele, até então, "um pouco escondida" do público. "Sempre foi um pouco restrita. Agora tem tido muito disso. O lançamento de Caixa Preta [projeto do Selo Sesc que reuniu todos os álbuns de Itamar, incluindo dois inéditos, no ano passado], e vários trabalhos de estudantes. Tem um interesse novo pela obra. É uma redescoberta. Acho que tem muita gente para conhecer esta que é uma das grandes obras da música brasileira", diz Lepetit, para quem a grandeza do trabalho de Itamar favorece o interesse. "Não adianta fazer documentário se a obra não for consistente."
Macalé também comemora a visibilidade que o músico está tendo. "A obra é enorme. Agora é que se vê o quanto é grande o volume de trabalho dele", diz. O músico carioca conta que a divulgação do trabalho da geração de Itamar foi prejudicada pelo golpe militar de 1964. Hoje, no entanto, o momento é mais propício para que seu ineditismo seja descoberto pelo público. "Os espaços se modificaram. Tanto que, agora, pela internet e pela mídia geral, o trabalho de Itamar está mais visível", diz. "Toda uma geração, agora, está ouvindo, tomando ciência do assunto, conversando, vendo as letras, discutindo aquela forma musical altamente sofisticada, que é muito forte."
ServiçoNego Dito Homenagem a Itamar Assumpção (confira o serviço completo dos shows), no Teatro da Caixa (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Amanhã e sábado, às 21 horas, e domingo, às 19 horas. Os ingressos custam R$20 e R$ 10 (meia-entrada).




