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Texto A Noite Devora Seus Filhos, nunca dirigido por Veronese, chega ao festival com a mineira Paisagens Poéticas | Guto Muniz/Divulgação
Texto A Noite Devora Seus Filhos, nunca dirigido por Veronese, chega ao festival com a mineira Paisagens Poéticas| Foto: Guto Muniz/Divulgação

Abertura

Festival tem início nesta terça-feiraHelena Carnieri

Começa nesta terça-feira o 22º Festival de Teatro de Curitiba, uma edição em que a escolha de espetáculos para a mostra principal tem sido elogiada pela crítica especializada. O evento faz um panorama do que fez sucesso em 2012 no eixo Rio-São Paulo, mas também lança novos trabalhos, alguns com produção própria.

A abertura, para convidados, acontece na noite de terça-feira na Ópera de Arame, com a apresentação de Homem Vertente, coprodução do festival com o grupo argentino Ojalá, sob direção de Pichón Baldinu. O espetáculo volta ao palco nos dias 30 e 31 de março e de 5 a 7 de abril, com ingressos à venda.

Para o público em geral, a quarta-feira começa com atrações do Fringe ao longo do dia e quatro peças da mostra principal, às 21 horas: a belga Kiss & Cry, Parlapatões Revistam Angeli, Cine Monstro Versão 1.0 e O Líquido Tátil.

Ingressos

As peças mais concorridas, para as quais já se esgotaram os ingressos, são A Arte e a Maneira de Abordar Seu Chefe para Pedir um Aumento, com Marco Nanini; Esta Criança, peça com Renata Sorrah que acaba de ganhar quatro estatuetas no prestigiado Prêmio Shell de Teatro (etapa Rio de Janeiro) e O Espelho, que acontece no Bosque do Papa.

Para Em Nome do Jogo, com Marcos Caruso, havia apenas 200 ingressos à venda até o fechamento desta edição.

Outras peças para as quais há poucas entradas são Parlapatões Revistam Angeli, O Terraço e Kiss & Cry.

A mostra de humor Risorama teve várias sessões esgotadas e abriu horários extras, dias 29 e 30 de março, às 22h30. No Fringe, o stand-up local Tesão Piá também abriu sessão extra no dia 1º, às 21h45.

O festival acontece até o dia 7 de abril.

Leia mais

Saiba tudo sobre o Festival de Teatro de Curitiba na página especial da Gazeta do Povo: www.gazetadopovo.com.br/cadernog/festivaldecuritiba ou baixe o aplicativo gratuito para celular sobre a mostra principal na Apple Store.

  • Pichón Baldinu, de Homem Vertente: estreia para convidados

Se Brasil e Argentina ainda pouco conhecem do teatro um do outro para dois países vizinhos, a principal exceção é Daniel Veronese, autor e diretor dos mais respeitados em atividade nos palcos portenhos. "É uma referência importante para nós e, acredito, para nossa geração", diz o mineiro Gustavo Bones, integrante do Espanca! e do coletivo Paisagens Poéticas.

Homenageado na primeira edição do festival Mirada (2010), em Santos, Veronese volta a viver um momento de particular atração sobre os brasileiros. Três de seus textos motivaram montagens recentes no país. São obras reveladoras dos distintos caminhos criativos seguidos pelo argentino ao longo do tempo.

Todas podem ser vistas no Festival de Curitiba. À Mostra 2013, o Espanca! traz O Líquido Tátil. No Fringe, a CiaSenhas apresenta Circo Negro. E o Paisagens Poéticas, A Noite Devora Seus Filhos, dentro da programação mineira.

Duas dessas peças foram escritas quase ao mesmo tempo, em 1997. "Circo Negro pertence à produção que realizei com El Periférico de Objetos", diz Veronese, sobre o grupo que fundou em 1989. "Era uma dramaturgia concebida para teatro de objetos e seus manipuladores. Líquido... foi a primeira que escrevi para atores dirigidos por mim. E A Noite... é uma de minhas últimas obras. Depois desse período, foquei mais na direção", conta.

Gustavo Bones atua em O Líquido Tátil e dirige A Noite... "São espetáculos muito diferentes, mas ambos trazem visceralidade e violência numa construção textual extremamente cuidadosa e inteligente", compara.

O Líquido... é, segundo ele, uma obra "irônica e surreal", cujos sentidos só se completam quando encenada. "Um texto aparentemente banal gerou um espetáculo cheio de camadas, mistérios e discussões através da ação dos atores no espaço", diz.

Inenarrável

A Noite Devora Seus Filhos, por sua vez, é definida por Veronese como um texto "antiteatral e literário, com risco de cair em armadilhas enunciativas ao dirigi-lo". O próprio autor nunca o fez. "Ele me disse que esta é a primeira montagem", conta Bones.

A protagonista emaranha histórias sobre si, sua mãe e seu passado. Constrói, assim, um espaço íntimo habitado pela memória, até revelar a violação sofrida num contexto de crise social.

"Optamos por uma construção no espaço que fosse uma metáfora do que o texto trata", diz Bones. Luz e o som são operados em cena aberta, e a organização do cenário é feita aos olhos do público.

Mais que isso, a encenação duplica a personagem colocando em cena duas atrizes com idades diferentes, como passado e presente sobrepostos. "Isso nos ajudou a quebrar a estrutura rígida de um monólogo", diz o diretor mineiro.

Em meio à confissão do trauma vivido, ela o admite "inenarrável". "E o mais bonito é que a personagem está exatamente narrando quando diz isso. A peça é sobre essa tentativa", diz.

Radical

Circo Negro representa outra fase da obra de Veronese, marcada pelo expressionismo de imagens fortes do grupo Periférico de Objetos – parceira com o diretor Emilio García Wehbi encerrada com o espetáculo-instalação Manifiesto de Niños.

Antes, "a histórica montagem de Hamlet Machine (1995) havia lançado o ‘novo teatro argentino’, misturando manipulação de objetos, atuação performática, novas tecnologias e muitos efeitos visuais", observa Bones.

Se no texto original de Circo Negro a rivalidade entre ator e boneco era apresentada como um choque entre vida e morte; na versão da CiaSenhas os bonecos são dispensados.

"Recorremos à crueldade entre seres humanos e à relação entre realidade e ficção para discutir o lugar do teatro e o teatro da existência", diz a diretora Sueli Araújo, cuja identificação com Veronese passa pela "visão dura, seca, sem concessão".

Ela se apropriou do texto – um roteiro repleto de quebras e fissuras – com liberdade. "Levamos algum tempo para conseguir decifrá-lo e torná-lo um discurso nosso", diz.

A mudança de perspectiva proposta pela CiaSenhas faz sentido diante da trajetória do diretor argentino, que se desligou do Periférico justamente para se concentrar no que considera essencial: o ator e o espaço.

"No último encontro, perguntei a Veronese qual seria sua principal contribuição ao teatro argentino [e ao teatro]. Ele me respondeu: ‘radicalidade e síntese’. Acho que foi nesse sentido que seu trabalho caminhou", conta Bones.

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