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Aos 60 anos, Ramalho grava seu estilo épico nas canções de Jackson do Pandeiro. Próximo plano é um disco dedicado aos Beatles | Antonio More/Gazeta do Povo
Aos 60 anos, Ramalho grava seu estilo épico nas canções de Jackson do Pandeiro. Próximo plano é um disco dedicado aos Beatles| Foto: Antonio More/Gazeta do Povo

São Paulo - Nos últimos três anos, Zé Ramalho escreveu canções em número suficiente para compor um álbum só com material autoral inédito. Mas o paraibano de 60 anos não fez isso ainda. Autor de indiscutíveis clássicos nacionais dos anos 1970 e 80, co­­mo "Avô­­hai’’, "Vila do Sossego’’, "Chão de Giz’’, "Admirável Gado No­­vo’’, "Garoto de Aluguel’’, "Frevo Mulher’’, entre outros, ele volta a lançar um trabalho inteiramente dedicado a um dos músicos que mais o influenciaram artisticamente.

Ramalho fez isso três vezes na década passada. Com o baiano Raul Seixas (em 2001), o americano Bob Dylan (2008) e o pernambucano Luiz Gonzaga (2009). Agora, no álbum Zé Ramalho canta Jackson do Pandeiro (1919-1982), o cantor presta contas ao seu conterrâneo, compositor de "Chiclete com Banana’’, "O Canto da Ema’’ e "Sebastiana’’ (aquela do refrão "a, é, i, ó, u, ipsilône’’).

"Eu tinha 10 anos e Jackson se apresentava frequentemente no auditório da Rádio Borborema, em Campina Grande (na Paraíba)’’, lembra Ramalho. "Para minha cabeça de menino, era curioso ver as vogais misturadas com aquele y, eu achava engraçado.’’

Mais velho e já músico, Ramalho foi entender que, além daquele "ipsilône’’, o que o encantava na música de Jackson era a divisão, a quebrada rítmica dos versos e das palavras que fazia ao cantar.

Beatles

O disco mistura canções gravadas especialmente para este projeto, entre elas, "Quadro Negro’’, "Lamento Cego’’, "Lá Vai a Boiada’’, "Cabeça Feita’’, "Forró de Surubim’’ e "Forró na Gafieira’’, a faixas já editadas em trabalhos anteriores de Ramalho.

Em muitas das gravações, sobretudo nas novas, o cantor mantém intacto o estilo épico de interpretação que o tornou célebre. A intenção de trazer Jackson para esse universo grandiloquente – e não percorrer o caminho contrário – comandou a concepção do trabalho. "A ideia era assimilar as lições do mestre e manifestá-las do meu jeito pessoal e único’’, diz Ramalho. "E isso é um processo que, de tanto exercitar, já sai com facilidade e naturalidade.’’

Mais exercícios estão por vir. O cantor planeja, para novo volume da série, um Zé Ramalho Canta Beatles, em inglês. Mas nem o quarteto de Liverpool será capaz de reproduzir o clima criado sob as canções de Jackson do Pandeiro.

O próprio Zé Ramalho reconhece: este é o álbum mais solar e menos melancólico de toda sua carreira. A dúvida é se tal alegria provém das canções ou é sintomática da atual fase do intérprete, ao completar 60 anos. "É assim que era o Jackson: rei do ritmo e da alegria’’, diz. "Quanto à vida aos 60, vou parafraseando o mestre Dylan, que disse, aos 67 anos, que se sentia no meio da carreira.’’

Serviço

Zé Ramalho Canta Jackson do Pandeiro, de Zé Ramalho. Discobertas. Preço médio: R$ 23.

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