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Em pleno ano de Copa do Mundo e overdose futebolística, uma música se espalha rapidamente pelo underground curitibano. "Atletiba", da novíssima banda Mão-de-Ferro, tem tudo para se tornar uma espécie de hino hooligan local. "Hoje eu vou pro futebol/ Beber cerveja até cair/ Vou arrumar confusão/ É dia de se divertir/ Só que o jogo é muito longe/ Vai ser lá no Pinheirão/ 30 pila é pra cerveja/ E unzão para a condução", diz a letra, embalada por acordes tipicamente punk.

O baixista e vocalista Gustavo, ex-Catalépticos, admite que a violência entre torcedores é um problema social, mas chama a atenção para o perfil dos brigões. "São pessoas absolutamente normais, trabalhadores honestos, mas que levam uma vida tacanha. Têm como uma única diversão beber e brigar no fim de semana", comenta.

Gustavo, único atleticano entre quatro coxas-brancas, não acredita que "Atletiba" possa incitar atos violentos. Outras letras do grupo, no entanto, seguem a mesma cartilha polêmica. "Rota 77", por exemplo, trata das hostilidades entre turmas nos bairros curitibanos. Eis um trecho: "Seguindo a Rota 77/ Esteja pronto pra lutar/ Sangue de gangue em cada bairro/ E é bom se cuidar!". "Curitiba tem 77 bairros e a violência corre solta em todos eles. Não adianta dizer que não", afirma.

O que dizer então de "Curitiba", acusada de separatista e racista? "Para estranhos, arrogância e antipatia/ E se não fosse isso, o que mais você queria?/ Chegar, pegar, tomar conta do meu lugar?/ Se você pensa assim está na hora de voltar", provoca um dos versos. "Aí tem realmente um dedo mais pesado, que até me deixa com um certo mal-estar. Não sei se deveria ter colocado essa parte, mas a verdade é que temos um pacto moral de não falar mal de ninguém, seja por raça ou qualquer coisa parecida", garante Gustavo, autor da canção.

O fato é que a proposta do Mão-de-Ferro é justamente "preservar, com orgulho, as tradições sulistas", como descreve um de seus releases. Para o baixista, existe um certo tabu em torno da defesa apaixonada de Curitiba. "Se você fala que gosta daqui, das coisas daqui, logo é taxado de racista, nazista. No nosso caso, não é uma coisa ofensiva. Apenas falamos do que a gente conhece, de forma sincera", justifica o músico (e advogado) de 37 anos.

Outro detalhe para colocar ainda mais lenha na fogueira: a banda assume a influência do som Oi!, estilo primo do punk e normalmente associado aos skinheads. "O Oi! é a parte aceitável do movimento skinhead, a parte que não é nazista. É o punk de rua, honesto, criado pelas bandas inglesas dos anos 70. Já os skinheads nazistas ouvem heavy metal", afirma Gustavo.

Mas, afinal, contra quem o grupo está se manifestando? "Não existe ‘o inimigo’. É só uma postura. Sem gentileza, sem se preocupar com o que vão pensar da gente", diz.

O Mão-de-Ferro também conta em suas fileiras com ex-integrantes de grupos como Missionários, Os Cervejas e Limbonautas. Completam a formação Tim-Tim (guitarra), Germano (bateria) e Tico (acordeão, responsável pelo acento folk-gauchesco da banda), além de um estranhíssimo "quinto elemento", que prefere se manter anônimo no material de divulgação.

Formado em janeiro deste ano, o conjunto colhe os frutos da divulgação via web. Além de colocar "Atletiba" na boca dos internautas, a rede proporcionou ao quinteto algo inimaginável em outros tempos: um contrato para lançar o álbum de estréia no exterior. "Na época dos Catalépticos, a gente tinha que correr atrás desse tipo de coisa. Dessa vez, fomos procurados pelo selo alemão Ransdale Records, que vai lançar nosso disco em CD e vinil", comemora Gustavo, que rodou boa parte da Europa com sua antiga banda.

Enquanto o álbum não fica pronto, o Mão-de-Ferro segue fazendo shows em sua amada Curitiba. Ou melhor, ainda pretende fazer, porque sua carreira ao vivo se resume a única apresentação, realizada em maio. "A gente sabe que vai tocar pouco, porque não fazemos política de boa vizinhança. É uma pena, mas o underground virou uma extensão do clube de escotismo", ironiza o cantor da autoproclamada "banda mais bronca e truculenta do Sul do mundo". Vai encarar?

Para ouvir o Mão-de-Ferro, acesse www.myspace.com/maodeferro e www.tramavirtual.com.br/mao-de-ferro.

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