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Claudio (José Mayer) | Globo/João Cotta
Claudio (José Mayer)| Foto: Globo/João Cotta

Ficou para trás o tempo em que interpretar um homossexual era motivo de medo para os galãs da TV. José Mayer que o diga. Na pele do sessentão de vida dupla Cláudio, de "Império", o ator entrega todo o seu orgulho e admiração pelo personagem assim que começa a falar sobre o atual papel. "Cláudio é um cara que se aceitou, mas, como milhões de gays, não faz questão de se assumir publicamente. As pessoas têm amplo direito de manterem a privacidade sobre sua orientação sexual", defende.

Acostumado a trabalhar com Aguinaldo Silva, autor da novela das 21 horas da Globo, Mayer valoriza o fato de poder experimentar uma interpretação diferente dos rotineiros "garanhões" que recheiam seu currículo na televisão. Principalmente por ser, mais uma vez, com Aguinaldo. Foi o autor quem decidiu chamá-lo para viver o asqueroso Pereirinha de "Fina Estampa" (2011/2012). "Foi uma ruptura estética da minha imagem de galã, que já estava solidificada. Agora, posso renovar ainda mais o olhar do público em relação ao meu trabalho", comemora.

Na trama, Cláudio é casado com Beatriz, vivida por Suzy Rêgo, que não só sabe da vida dupla do marido como faz de tudo para apoiá-lo e ajudá-lo a manter privada sua sexualidade. Já com relação aos filhos, enquanto a doce Bianca, papel de Juliana Boller, dá indícios de ter uma cabeça aberta para o assunto, o chef Enrico,personagem de Joaquim Lopes, se mostra um verdadeiro homofóbico. "Acho isso bom porque esse comportamento, vindo de um filho, é um ingrediente que enriquece ainda mais a trama", analisa Mayer.

Nesta entrevista, o ator fala um pouco mais sobre o papel e como se sente por dividir os estúdios da novela com sua filha, Júlia Fajardo. Na história, ela interpreta Helena, a melhor amiga e dama de companhia da ambiciosa Maria Marta, papel de Lília Cabral.Como você reagiu à escalação para viver um personagem gay em "Império"?

JOSÉ MAYER - O elemento surpresa é sempre muito interessante e enriquecedor para o ator. Aliás, não só para a gente, mas também para o olhar do telespectador. Me lembro que quando o Aguinaldo me chamou para fazer o Pereirinha em "Fina Estampa", aquela quebra de imagem já foi muito bacana. Ter abandonado a função de galã para fazer um antigalã foi fantástico. Agora, essa reversão de expectativas e de carreira é ainda maior. E eu me sinto bem desafiado. O Cláudio é um personagem rico e instigante com essa abordagem mais sutil da homossexualidade. É uma interpretação sem caricatura ou farsa, muito reconhecível.Depois de tantos anos, você já se cansou de ser o galã das novelas?

JOSÉ - Não diria cansar. Mas a função de galã está, na maioria das vezes, ligada à juventude. Agora, só se os autores criarem histórias românticas para homens maduros e sessentões como eu..

Em algum momento você sentiu medo da reação do público em relação ao Cláudio?

JOSÉ - É claro que a gente sempre espera aceitação. Até porque é uma abordagem delicada e habilidosa do autor e que nós, atores, tentamos realizar de maneira também delicada e sutil. Mas essa é uma realidade que precisa ser abordada. E com seriedade. Existem muitos Cláudios no mundo de hoje. A gente percebe, vive e testemunha isso. Nossa época é livre e a opção homossexual é visível e aceita por muitos.Fala-se demais em beijo gay de "Império". O que você pensa sobre isso?

JOSÉ - Eu acho essa história de beijo gay guardado para o capítulo 200 uma hipocrisia. É uma espetacularização de algo que deveria ser normal, cotidiano e simples. As pessoas se beijam por afeição, sejam homens ou mulheres. É só uma questão de assimilar um pouco melhor a expressão de afeto homossexual. Com o passar dos anos, a aceitação já é crescente. A moral não é algo estagnado. Tudo muda, inclusive os costumes.

Você faz, pela primeira vez, uma novela com sua filha, Júlia Fajardo. Como se sente?

JOSÉ - É uma alegria muito grande. Há dois anos, trabalhei com ela pela primeira vez no musical "Um Violinista no Telhado". A emoção é extraordinária porque quando existe pai e filha em cena, o coração bate de uma maneira diferente. Nosso encontro artístico já aconteceu no palco, um lugar em que é mais difícil controlara emoção. E agora, para arredondar a minha felicidade, ela está no elenco da novela e em uma personagem muito próxima da Lília Cabral, uma amiga querida e certamente uma mestra para a Júlia.

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