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Tony Ramos | Globo/Paulo Belote
Tony Ramos| Foto: Globo/Paulo Belote

Estreias sempre mexem com Tony Ramos. Mas o ator confessa que, com "O Rebu", novelas das 23 horas da Globo, viveu - e ainda vive - um sentimento mais intenso. A novela marca os 50 anos de carreira de Tony, que começou na televisão em esquetes na extinta TV Tupi, em 1964. E agora, cinco décadas depois, tem a chance de interpretar um papel que nem sempre teve oportunidade nos folhetins: o de um homem antiético e extremamente ambicioso.

Na história de George Moura e Sérgio Goldenberg - uma adaptação da obra original de Bráulio Pedroso, exibida pela Globo em 1974 -, Carlos Braga é um engenheiro brilhante que, após anos de uma sociedade próspera com Angela (Patricia Pillar) e seu marido, morto em um acidente, se vê ameaçado por ela. A empresária passa a plantar notícias na imprensa sobre um dossiê contra o sócio. E o conteúdo desse documento é um dos segredos que a trama policial guarda para o decorrer de seus capítulos. "É um enredo surpreendente que me cativou desde o início. Eu não sei o que vai acontecer, acho que ninguém sabe. Pelo menos não até quando o autor decidir que isso é preciso", despista o veterano, mostrando-se completamente entrosado com o clima de mistério que paira na novela.

Na primeira versão de "O Rebu", Carlos foi interpretado por José Lewgoy. Mas Tony garante que não tem lembranças do período. "Eu fazia teatro de terça a domingo e ainda gravava novela na Tupi. Era inviável acompanhar novelas", lembra. E fez questão também de, uma vez que acertou sua participação na novela, não buscar referências nos vídeos com cenas da trama original. Uma decisão que, apesar de se tornar um consenso no grupo, foi tomada pessoalmente por Tony antes mesmo de trocar ideias com os colegas de elenco e direção.

"Quando você faz um remake, precisa começar do zero. Deve ser como se fosse a primeira vez que aquilo está sendo feito. Foi assim que agi em 'Cabocla' e funcionou", defende.

Com a agenda comprometida até setembro em função de "O Rebu", Tony já sabe o que vai fazer assim que terminar de gravar suas cenas. O ator interpretou o protagonista do filme "Getúlio" - sobre os últimos dias de vida de Getúlio Vargas, que entrou em cartaz neste ano no Brasil - e vai viajar para a Europa, onde participará do lançamento do longa em Portugal.

Na entrevista abaixo, ele fala um pouco sobre suas expectativas a respeito da repercussão de "O Rebu" e do orgulho por comemorar um momento tão especial de sua trajetória profissional com um trabalho denso e fora dos padrões da tevê e, ao mesmo tempo, retratando uma fase tão decisiva da política nacional no cinema. "Sãoduas tramas que falam de ambição e, principalmente, do poder desmedido. Acho que ambas propõem uma reflexãointeressante para quem assiste e instigante para quem participa do trabalho", avalia.

"O Rebu" foi uma novela bastante ousada para 1974, ano em que sua primeira versão foi exibida. Quais são suas expectativas para a repercussão dessa trama policial nos dias de hoje?

TONY RAMOS - A gente sempre espera o melhor, mas acho que é o tipo de novela que vai surpreender todo mundo. Olha, quem aposta nisso ou naquilo para "O Rebu", esqueça. Tudo é novo. Hoje temos comportamentos diferentes e vivemos uma era totalmente dependente da informática. Há caminhos novos para se desenvolver essa trama policial que fala sobre o poder transformador do homem e, ao mesmo tempo, sua ambição desmedida.

Carlos Braga está longe de ser um mocinho, papel em que normalmente as pessoas estão acostumadas a te ver. O que pensa sobre isso?

TONY - Já me perguntaram se ele é um vilão. Na verdade, essa é a clássica pergunta que sempre pinta quando chega um trabalho novo Mas o que é um vilão e o que é um herói hoje? Eu mesmo me pergunto. As pessoas se acostumaram com a definição clássica de vilão, que é a do bandido que faz maldades. Para mim, vilão pode serpsicopata, sociopata ou passar por uma situação que o leva a isso.

O Carlos Braga comete atitudes absurdas,como ele diz, em nome de 40 mil empregos. Mas isso não justifica a postura antiética dele. Sendo que, para ele, existe uma justificativa. É uma moral absolutamente antiética. Essa é uma característica bem forte e prazerosa para mim.

Para você, "O Rebu" é uma comemoração aos seus 50 anos de carreira, completados no final de junho?

TONY - Esses 50 anos já vêm sendo comemorados lindamente bem. A começar pelo filme "Getúlio". Foi uma grande surpresa. Continua em cartaz em algumas salas e já passou de 60 mil pagantes. Para um filme político, no Brasil, esse resultado é uma grata surpresa. E a cereja do meu bolo vem agora, com esse personagem. Me sinto muito gratificado.

Você fala de "Getúlio" com imenso orgulho. Por quê?

TONY - É um filme que propõe uma reflexão forte sobre política e ambição. E não se trata de um recado para alguém. Não, é só uma reflexão mesmo. Acho que política é um exercício que o cidadão, dentro de uma democracia, tem de praticar. "Getúlio" trata de uma época conturbada, desses 19 últimos dias de Getúlio Vargas, mas é extremamente atual.

É um filme de época que serve para todas as épocas. Assim como "O Rebu", que adaptaram agora, mas foi uma novela de 1974. E é totalmente atual, moderna.

Você assistiu à novela original?

TONY - Não havia a menor possibilidade. Eu fazia teatro à noite e era uma época em que o teatro era de terça a domingo. Pode soar estranho, mas já houve isso no Brasil! Uma pena que não seja mais assim. E eu também gravava uma novela ("Ídolo de Pano", na TV Tupi, em São Paulo). Vim para a Globo em 1976, há 38 anos. Só depois que "O Rebu" acabou é que eu comecei na emissora.Depois de ser convidado para esta adaptação, teve curiosidade de procurar cenas da trama de 1974?

TONY - Ah, eu não quis saber. Acho que quando você faz um "remake", precisa começar do zero. Deve ser como se fosse a primeira vez que aquilo está sendo feito. Foi assim com "Cabocla" também. E funcionou.Após 50 anos de carreira na tevê, o que ainda te seduz para aceitar um trabalho?

TONY - O que mais me motiva são os próprios projetos. Alguém, por exemplo, me chamar e dizer que quer que eu faça o Getúlio Vargas. E, de repente, ver na tela o filme passando. Ou querer que eu faça um papel como o Carlos Braga, um engenheiro cheio de artimanhas da novela "O Rebu". Ou ainda pensarem em mim para virar mulher em "Se Eu Fosse Você". É assim que eu toco a minha vida. Eu nunca compliquei nada, sempre fui uma equação de primeiro grau.

"O Rebu" tem previsão de término para setembro. O que você pretende fazer depois disso?

TONY - Vou à Europa. Vamos lançar "Getúlio" lá. Mas não é uma viagem de descanso, é de trabalho mesmo. Só que sem ter texto para decorar, o que já ajuda a manter um ritmo menos intenso. Teremos uma série de entrevistas com imprensa em Portugal, onde vamos ficar.

Você vai sozinho?

TONY - Não, vou com minha mulher, a Lidiane. Não abro mão dela! Vai comigo sempre! Ela é minha boa sombra. Acha que vamos ficar ela aqui e eu lá? Quando acabar tudo isso em Portugal, a gente deve ir a Londres para ver alguns espetáculos.

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