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Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita). | Divulgação
Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita).| Foto: Divulgação

Nina Horta dá sabor ao que cozinha e ao que escreve. É dona do bufê Ginger, na capital paulista, e colunista gastronômica do caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo. Mineira, chegou a São Paulo com cinco anos, onde aprendeu a cozinhar e formou-se em educação na Universidade de São Paulo – USP.

Caderno G - A culinária dá mais sabor à literatura? E vice-versa?Nina Horta - Não, são duas coisas estanques. É claro que um belo jantar bem filmado ou escrito dá prazer, mas qualquer coisa bem escrita dá prazer, independente do assunto.

Para escrever e cozinhar bem, é preciso criatividade. Que outros atributos em comum há entre estas duas artes?Além da criatividade? Acho que ela e a coisa mais importante. Um desejo de coisas novas, um jeito de se jogar numa tarefa sem medo de ser feliz....

Você disse que "esnoberia em matéria de comida é aberração". A literatura é como a culinária, quanto mais simples melhor?Depende do que se quer dizer por complexidade e refinamento. Uma comida muito simples, para ser gostosa precisa ser perfeita, com vários níveis de intuição e técnica no modo de temperar, no tempo de cozimento. E a literatura também tem vários níveis de entendimento. Estou lendo Rumo ao Farol, de Virgínia Woolf, que é o que existe de mais básico, nem enredo tem, mas descascando a cebola há mais níveis de entendimento do que nas escavações de Tróia. A reposta é que o simples geralmente é muito denso e complexo.

Em sua opinião, que autores de ficção souberam falar de comida como ninguém? No Brasil, Pedro Nava, descrevendo cafés da manhã, festas de São João, com a abóbora sendo cozida na fogueira com vinho do Porto. Ele fala muito em comida e muito bem. E Marcel Proust, com a empregada matando um coelho, e judiando da auxiliar que tinha alergia de aspargos frescos. E as madeleines dele que fizeram-no escrever toda uma enorme obra, tocando os sentidos, e obrigando que sua vida voltasse à tona.

Que prato mencionado em um romance lhe deu água na boca? Já chegou a correr atrás de um prato difícil de encontrar/ou de fazer que leu em um livro?Já, muitas vezes, mas em livros de culinária. Não com receitas, mas com descrições em boa prosa, do prato.

Comer nunca sai de moda. No entanto, é crescente o número de programas televisivos e livros lançados relacionados à gastronomia. A que atribui este interesse sempre maior pelo tema?A falta de empregados. O que se é obrigado a fazer tem que ser glamourizado. E também os problemas que o sexo trouxe. Não se pode fumar, não se pode transar, não se pode beber, o que é que sobra, e que assim mesmo está cheio de proibições? Comer. E, para comer, é preciso cozinhar. Esta moda de comida surgiu nos anos 80, com os yuppies ricos. É preciso ter dinheiro para fazer funcionar estas redes de restaurantes especiais, de ingredientes importados etc.

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