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Estreia

"Último Voo do Flamingo" leva magia de Mia Couto à tela

Filme de João Ribeiro procura não apenas mostrar um país com conflitos históricos, mas também a riqueza de sua cultura e misticismo

Cena do filme "O Último Voo do Flamingo" | Divulgação
Cena do filme "O Último Voo do Flamingo" (Foto: Divulgação)

Duas curiosidades chamam a atenção em O Último Voo do Flamingo (veja horários das sessões; atenção à data de validade da programação em cinza): a rara oportunidade de se assistir a uma produção de Moçambique e o fato de ser baseada em uma das obras do celebrado autor Mia Couto.

Dirigido pelo politizado João Ribeiro, que estudou cinema em Cuba e teve como mestre o escritor Gabriel Garcia Márquez, o filme procura não apenas mostrar um país com conflitos históricos, mas também a riqueza de sua cultura e misticismo. Tudo isso, narrado com a destreza do discurso literário de Couto, que elegantemente oscila entre o fantástico e o poético.

Tal como no livro, o palco é a pequena vila de Tizangara (esta fictícia), no período seguinte à guerra civil em que o país esteve mergulhado até o início da década de 1990. Na época, tropas da missão de paz da ONU foram enviadas para garantir uma tranquila transição política.

Já no inicio do romance, um fato insólito: um pênis é encontrado no meio da rua de Tizangara, pertencente a um dos soldados estrangeiros. A aparição, precedida de uma explosão, faz com que as autoridades da ONU enviem o italiano Massimo Risi (Carlo D'Ursi) para investigar o caso.

A estranheza do protagonista com o seu entorno, acompanhada também pela do espectador, só aumenta com o desenrolar da investigação. A começar pela identificação da vítima, realizada pela prostituta Ana Deusqueira (a brasileira Adriana Alves, da novela "Duas Caras") com base em sua, por assim dizer, expertise.

Quanto mais se aprofunda em sua missão, o oficial precisa enfrentar sua própria resistência ao mundo fantástico em que mergulhou, povoado por administradores corruptos, feiticeiros e fenômenos sobrenaturais inexplicáveis para o italiano. Cada um dos personagem apresenta uma versão dos fatos, que evocam sonhos, memórias e magia.

Com um texto difícil de se transpor para as telas, o projeto de João Ribeiro se mostrou ambicioso demais para sua estreia em longas. Embora preserve alguns trechos do livro, a narrativa mostra-se pouco fluida, mesmo irregular no equilíbrio entre o poesia e prosa.

Com exceção de Carlo D'Ursi e Adriana Alves, o elenco se mostra amador frente à densidade que deveriam ter os personagens nas cenas planejadas pelo diretor. Embora corajoso em levar Mia Couto às telas, o resultado do projeto de Ribeiro se mostra menor, mas nem por isso menos curioso.

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