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Julian Casablancas: jaqueta de couro permanece, mas sonoridade de seu primeiro disco-solo é diferente | Divulgação/Sony
Julian Casablancas: jaqueta de couro permanece, mas sonoridade de seu primeiro disco-solo é diferente| Foto: Divulgação/Sony

A salvação do rock-and-roll, iludiram-se alguns, estaria no disco Is This It, de 2001, da banda norte-americana The Strokes. De quebra, o vocalista Julian Casablancas tinha tudo para ser uma das maiores estrelas do rock de nosso tempo. Realmente, eles chegaram a impressionar, se aproveitando de uma época em que se reciclava de forma nada original o que já se havia feito nas décadas anteriores e pipocavam bandas que se preocupavam mais com o visual do que propriamente com música. O grupo, entre outras coisas, criou canções poderosas, repletas de guitarras distorcidas embaladas por uma voz que, embora fosse mediana, tinha personalidade. Mas hoje o Strokes parece estar perdido, além de desmembrado mesmo sem perder nenhum integrante. O lançamento de Phrazes for the Young, primeiro disco-solo de Casablancas, é outra pista disso.

Depois do golpe quase fatal nos Strokes – o lançamento do trágico First Impressions of the Earth, em 2006 –, o baterista brasileiro Fabrizio Moretti foi "tirar férias" e se aninhou ao ensolarado Little Joy, em companhia de Binki Shapiro e do hermano Rodrigo Amarante. E faz sucesso. O talentosíssimo guitarrista Albert Hammond Jr. se consolidou em carreira-solo com o lançamento de dois ótimos discos, em 2006 e 2008. Nikolai Fraiture, o baixista, reencontrou amigos de infância e formou o delicado Nickel Eye. Nick Valensi, o outro guitarrista, pouco fez além de participar de um clipe do Little Joy. E Julian Casablancas? Ele não salvou o rock, mas, se esquecermos sua vida "strokeana" e o tomarmos como um simples artista-solo em começo de carreira, seu primeiro disco é digno de destaque.

Com apenas 40 minutos e oito músicas, o recado é bem dado. Julian, que tocou todos os instrumentos – exceto por algumas participações de amigos –, construiu um disco de baladas baseadas em sintetizadores, teclados, bateria eletrônica e solos de guitarra simplórios. Sim, há algo a ver com o último disco dos Strokes, mas o fato de não ter de se contemporizar com o resto da banda parece ter resultado em algo melhor, mais sintético. Afinal de contas é o primeiro disco de Julian e não o próximo – haverá um próximo? – dos Strokes.

E os anos 1980 – sempre eles – surgem em todas as músicas, quase descaradamente. Mas o diálogo que se possibilita quando esses elementos encontram uma guitarra suja e alguns estranhamentos, como cornetas e tamborins, não os tornam démodés. É o que ocorre na linha de baixo do single "11th Dimension", que poderia ser de um álbum tardio do Pet Shop Boys, ou na pegajosa "Ludlow St". Esta começa em tom sombrio, mas logo a bateria eletrônica e um solo inesperado de banjo li­­vram a sugerida tensão. Em "4 Chords of the Apocalypse", talvez a melhor do disco, Julian se solta em meio a guitarras-trêmolo e acordes simples ao piano. O refrão, cheio e empolgante, é a parte maior de todo o álbum. "Glass" é arrastada e preguiçosa, e parece que aí o resto da banda – ou a companhia de outros bons músicos – fez falta. "Left & Right in the Dark" embalará pistas com seu riff de sintetizador, que lembra desde o lado mais brega de ABBA ao new wave do MGMT.

A bonita "Tourist" encerra o álbum, mas é "Out of the Blues", primeira música, o maior segredo para tentar desvendar o que se passa na cabeça do ex-futuro salvador do rock e, talvez, seu sentimento atual em relação ao que foi um dia a promessa chamada Strokes. "Em algum lugar do caminho, minha esperança se transformou em tristeza/ minha tristeza se transformou em amargura/ minha amargura se transformou em raiva/ minha raiva se transformou em vingança", canta o solitário Casablancas, logo na primeira frase de seu primogênito disco. GGG1/2

Serviço

Phrazes for the Young. Julian Casablancas. Sony Music. Preço médio: R$ 28,90.

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