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As comédias são boas portas de entrada para quem não tem o hábito de leitura, sugere o especialista Cezar Tridapalli | Pedro Serápio / Gazeta do Povo
As comédias são boas portas de entrada para quem não tem o hábito de leitura, sugere o especialista Cezar Tridapalli| Foto: Pedro Serápio / Gazeta do Povo

O desejo é uma questão que está presente em Pequena Biografia de Desejos, romance que marca a estreia literária de Cezar Tridapalli. Durante 220 páginas, o personagem central, Desidério, trabalha como porteiro de um edifício, mas, acima de tudo, flerta com o que há de bom no universo da literatura, ou seja, a leitura.

A obra, escrita durante 2007, reelaborada em 2008, acaba de chegar às livrarias com o selo da editora 7Letras, do Rio de Janeiro. O escritor, curitibano de 37 anos, ambienta a narrativa em Curitiba. "Não tem como não citar Curitiba em uma obra de ficção, ainda mais se você é escritor e mora aqui", diz Tridapalli, que lecionou durante uma década e hoje trabalha na área da educação, mas está envolvido com projetos de audiovisual.

Pequena Biografia de Desejos, por meio de um texto ágil e envolvente do início ao fim, traz nas linhas e entrelinhas reflexões sobre algumas dicotomias da existência. A voz narrativa, em terceira pessoa, contrapõe, praticamente o tempo todo, o dilema da vida como ela é e a vida dos sonhos, a necessidade de estar inteiro do presente e o porvir. "Por falar nisso, há uma nuance em evidência no livro, o verbo esperar, que tem pelo menos dois sentidos no idioma português. A espera significa tanto aguardar como esperança. E isso ajuda a entender o protagonista, Desidério", diz Tridapalli.

Desidério espera e até alcança algo. Ele acaba recebendo os livros de uma biblioteca que foi incendiada. A descrição do transporte desse legado é um dos momentos nos quais o autor revela a sua perícia de prosador: "Desidério não foi para casa de ônibus. Alguns vizinhos pararam para ver o porteiro chegando em casa em uma Kombi de frete. Uma Kombi de cores combinadas, branco e azul, embora a tinta já envelhecida pelos anos de sol e chuva. O carro era próprio para transporte de cargas, e o chão da carroceria estava forrado de poeira de tijolos e telhas, os habituais produtos transportados."

O personagem chega em casa com livros, o que frustra completamente a sua esposa: "Livros. Livros que juntariam poeira, aranha-marrom, traça, rato, cobra. E nem tinham filhos, por que livro, ninguém mais vai pra escola, duvido que ele vá ler tudo aquilo. Ele já tinha uns dez, doze em casa, mais pra quê? Na hora que termina um, já esqueceu o outro. Duvido que exista tanta história assim."

Uma trajetória

Tridapalli conta que começou escrever ficção produzindo contos, e em seguida realizou, sem saber exatamente como, Pequena Biografia de Desejos. Ele pretende escrever o próximo romance com algum planejamento.

O escritor não usa, por exemplo, caderninhos para registrar ideias. Mas, pondera, controlar ou organizar a vida daqui para frente não será tarefa fácil. Cezar e a sua esposa, a bailarina Gladis, se revezam, durante o tempo livre, para cuidar da filha, Olívia, que nasceu há seis meses e transformou completamente a rotina do casal.

O escritor procura, ao menos, fazer exercícios físicos. Quanto às demais ações, ele nem sabe mais o que dizer. "Está tudo meio caótico", comenta.

Sobre leitura, afirma que não é compulsivo, apesar de ter dois interlocutores que leem por toda uma coletividade: Paulo Venturelli e Miguel Sanches Neto, escritores e conhecidos por serem leitores vorazes.

No momento, além de trabalhar, ficar em casa cuidando da filha, Tridapalli quer mesmo é, a exemplo do personagem Desidério, esperar, com paciência e esperança, pela recepção desse seu primeiro livro, que prende a atenção de quem lê e, ao final, surpreende.

Serviço

Pequena Biografia de Desejos, de Cezar Tridapalli. 7Letras, 220 págs., R$ 39.

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