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A bandeira americana é dobrada, queimada e hasteada de ponta-cabeça, enquanto o hino é criticado pelo iconoclasta Ricky Seabra | Divulgação
A bandeira americana é dobrada, queimada e hasteada de ponta-cabeça, enquanto o hino é criticado pelo iconoclasta Ricky Seabra| Foto: Divulgação

Ricky Seabra é dono de um passaporte brasileiro e um norte-americano. A primeira nacionalidade, no entanto, é deixada momentaneamente de lado durante o espetáculo Império, Love to Love You, apresentado no domingo no Teatro da Caixa. Pronto a revelar – e a satirizar – a imagem que seus conterrâneos fazem de si mesmos, o artista assume sua identidade de cidadão que perdeu as Torres Gêmeas e precisa decidir entre John McCain e Barack Obama.

Sua ação iconoclasta começa pela bandeira de 13 listras e 50 estrelas. Ricky enfatiza a força do seu simbolismo na cultura ianque, ensinando a platéia a dobrar a bandeira – há um jeito correto e é algo que todo americano aprende – enquanto, ao fundo, um vídeo ilustra o processo passo-a-passo repetidamente, dando ao espectador uma boa idéia de como aquilo é martelado nas mentes.

Apela novamente à insistência para familiarizar a platéia com "The Star-Spangled Banner" ("A Bandeira Estrelada"), o hino dos Estados Unidos. Cinco vezes o ouvimos – comentado e traduzido por Ricky – nas vozes de Mariah Carey, Beyoncé, Whitney Houston, Marvin Gaye e nas distorções da guitarra de Jimmy Hendrix, que distorcem também, criticamente, o ideário que originou a canção, escrita após a Guerra de 1812, que consolidou a independência dos EUA.

Nessa primeira parte do espetáculo, Ricky se dirige diretamente ao público sem recorrer a personagens ou estruturas dramáticas. Seu tom é crítico, explicativo e coloquial, parecendo, às vezes, improvisado. A abundância de inserções audiovisuais, porém, desfaz essa impressão, mostrando planejadas associações de símbolos e imagens que compõem o imaginário norte-americano. Sobra até para Obama – em quem o artista revela ter votado para a presidência –, e seu discurso anti-guerra respaldado na justificativa de que os EUA são a "última esperança" mundial.

Rickyoncé

Convencido de que se trata de um império sem imperador, Ricky elege Beyoncé como a imperatriz norte-americana. A comédia – e o ridículo – passa a dar o tom até o fim da encenação, que agora é conduzida por uma personagem, a Rickyoncé, caracterizada com peruca cacheada, vestido longo de brilho e fendas intermináveis sobre uma tanguinha fio-dental. "Um ataque preventivo de glamour".

Essa segunda metade, mais descontraída e debochada, termina com um hit do youtube, a coroar a atmosfera pop do espetáculo: "Chinese Backstreet Boys", o vídeo de dois garotos vistos mais de 8 milhões de vezes dublando a música "That Way".

Ficou comprovado que Ricky conseguiu o interesse e o envolvimento da platéia quando, após os aplausos, o público todo permaneceu no teatro para fazer perguntas – coisa rara. E se esse espetáculo fosse apresentado nos Estados Unidos, o ator seria preso? – alguém quer saber. A resposta é não. Mas questionar o incontornável apoio às tropas americanas no Iraque, que, manda o bom-senso, deve preceder até as manifestações anti-guerra, diz Ricky, poderia lhe custar uma bela surra.

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