• Carregando...

Há exatos 30 anos, o cineasta Sylvio Back produziu um filme que, poucos dias após sua estréia em Curitiba, provocou furor em todo o país. Aleluia Gretchen foi o longa-metragem mais premiado de 1977. "As projeções no Festival de Cinema de Brasília e no Festival de Gramado geraram convulsões na platéia", lembra o diretor.

A julgar pela temática do filme, não poderia ter sido diferente. Em plena ditadura militar, Back ousou abordar a presença do nazismo – exemplar maior dos regimes autoritários – no Brasil, ao narrar a trajetória de uma família de imigrantes alemães refugiados que, na década de 30, vai morar em uma cidade não-identificada do Sul do Brasil. Em plena Segunda Guerra Mundial, alguns membros da família envolvem-se com a Quinta Coluna e com o Integralismo. No elenco, estão Carlos Vereza, Miriam Pires, Lilian Lemmertz, Sérgio Hingst, Lala Schneider e José Maria Santos, entre outros.

A situação é fictícia, mas Sylvio Back, que na época atuava como jornalista, baseou-se em fatos reais: elementos da história de sua própria família (ele é filho de pai judeu-húngaro e mãe alemã) e de outras famílias alemãs que chegaram ao Brasil fugindo do nazismo e notícias de jornal que denunciavam a presença de ex-oficiais alemães no Sul do país, na Argentina e no Paraguai. "Nunca se prendeu ninguém, mas havia essa mitologia", conta Back. Ele juntou todas essas informações e idealizou um argumento absolutamente original para a época, visto que ainda não havia um filme que tratasse da presença do nazismo no Brasil.

Pouco depois do lançamento do filme, a Cinemateca do Museu Guido Viaro (hoje, Cinemateca de Curitiba), então dirigida pelo escritor e cineasta Valêncio Xavier, publicou o seu roteiro do filme, como já fizera um ano antes com o primeiro filme de Back, Lance Maior (1968). Com um tiragem despretensiosa, a edição não durou muito nas prateleiras das livrarias. No ano seguinte, a editora gaúcha Movimento tomou para si a tarefa de relançar nacionalmente três outras edições. Novamente esgotado, desde os anos 80 cinéfilos disputam os raros exemplares do reoteiro restantes nos sebos. "Agora mesmo, em Goiânia, onde fui participar do júri do Festival de Cinema, uma pessoa me disse: ‘Estou há 20 anos com seu roteiro, que comprei num sebo, assina pra mim’", conta Back.

O cineasta atribui o interesse pelo livro à pouca quantidade de roteiros disponíveis no Brasil – nacionais, então, dá para contar nos dedos. Ele se diz o escritor com maior número de roteiros publicados, 11 ao todo, somando-se uma novidade: o roteiro de Aleluia, Gretchen acaba de ser relançado, 30 anos depois da primeira edição, pela Fundação Cultural de Curitiba e a Editora Imago, do Rio de Janeiro.

O roteiro foi escrito por Sylvio Back com a colaboração dos jornalistas Manoel Carlos Karam (hoje, também escritor) e Oscar Milton Volpini, parceiro habitual do cineasta. Ele conta que a idéia foi reproduzir com fidelidade a primeira versão da edição original. Por isso, todos os textos introdutórios e explicativos foram mantidos ipsis literis – incluindo o release (material dedicado à imprensa) de 1976, textos de apresentação e de memória escritos por Back e o texto "Chamada à Discussão", do articulista da Folha de S. Paulo Inácio Araújo, que foi o montador e editor do filme.

O livro é reeditado poucos meses depois que a Versátil Home Vídeo, com o apoio da TV Cultura, lançou uma caixa com seis filmes em DVD de Back, incluindo Aleluia, Gretchen, já disponíveis nas locadoras. Em dezembro, a Editora Imago publica uma edição bilíngüe de 400 páginas do roteiro de Lost Zweig (2003), filme de Back falado em inglês.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]