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Park City, EUA – Um dos destaques das mostras competitivas do Festival de Sundance, encerrado ontem, pelo menos para brasileiros, Manda Bala, de Jason Kohn, estava na disputa da mostra mostra norte-americana de documentários.

O filme mostra o lado violento de um Brasil ligado a seqüestros, corrupção e as conseqüências para todos os envolvidos. A ligação umbilical entre a corrupção de políticos importantes e o crime organizado demonstra relações de causa/efeito inegáveis.

De imediato, o tema nos remete a um outro filme recente – o drama de ficção americano Turistas –, que também faz uma descrição muito pouco animadora da realidade brasileira. Mas Manda Bala tem uma proposta diferente. Além de ser um documentário, seu teor se encaminha mais para o viés de denúncia do que simplesmente buscar fatos da realidade recheados de imagens sensacionalistas.

O documentário procura expor, através de depoimentos e entrevistas com policiais, seqüestradores e suas vítimas, um retrato bastante tenso e realista de uma grande metrópole, no caso a cidade de São Paulo.

O diretor – que é nova-iorquino, filho de mãe brasileira – deixa nítida em seu filme a influência de Errol Morris, documentarista que o próprio Kohn diz ser seu mentor.

Manda Bala é muito bem fotografado pela cineasta curitibana Heloísa Passos, que acaba de lançar seu novo trabalho, o documentário Caminho da Escola Paraná, sobre a jornada vivida por crianças moradoras da Serra do Mar.

Ela está em Park City e, juntamente com Kohn, conversou com o Caderno G.

O diretor, de 27 anos, não cursou escola de cinema e atribui sua formação aos ensinamentos aprendidos no set com sua equipe. Kohn iniciou a entrevista contando como surgiu a idéia de realizar Manda Bala.

"A idéia inicial era simplesmente contar uma história mostrando como os ricos roubam dos pobres e como os pobres, de volta, roubam dos ricos. Eu conheço bem o Brasil – além de ser filho de brasileira, meu pai vive em São Paulo –, daí comecei a constatar a relação cíclica que existe entre violência urbana e corrupção política. O filme fala dessa relação", diz Kohn.

Como você chegou a essa constatação?

JK – É óbvio, para qualquer pessoa, que o principal fator dos problemas de desenvolvimento desigual é uma larga concentração de riqueza. Isso é verdade para o Brasil, mas igualmente para diversas partes do mundo. Os dois crimes (seqüestro e corrupção) decorrem dessa desigualdade e me parece o caminho irreversível para chegar à causa dos problemas de miséria e violência.

Mas qual sua intenção, o que você objetiva com o filme?

JK – Meu objetivo foi mostrar um outro lado do Brasil que ninguém conhece. O Brasil é muito grande, muito rico, mas tem problemas bastante complexos. Eu quis filmar esse contraste.

Como você acha que o filme vai ser recebido no Brasil?

JK – Aqui ou lá, é difícil ter uma expectativa. É o meu primeiro filme, uma história que eu queria contar e que tem começo, meio e fim. Como eu disse, eu quis mostrar esse lado escondido do Brasil, mas não sei como as pessoas vão recebê-lo.

Como foi sua entrada no projeto, Heloísa?

HP – Eu conheci o Jason no Brasil há cinco anos. Ele já tinha referências do meu trabalho como fotógrafa. E eu vi que ele tinha um olhar cinematográfico e que poderia fazer um belo trabalho pela preocupação que demonstrava com o tratamento da imagem. Enfim, nós tivemos aquela sintonia artística de coincidências, de referências e aí eu aceitei participar do projeto. Aliás, eu sou uma das pessoas do filme que permaneceu na equipe do começo ao fim.

Quais os elementos principais que vocês consideraram para retratar a realidade do filme?

HP – Nós queríamos mostrar como a situação está tensa em São Paulo. Por isso, filmamos várias ocorrências na cidade e procuramos colher depoimentos de todos os envolvidos, como o do seqüestrador, de uma seqüestrada e de um policial.

Que reação você espera para o filme no Brasil?

HP – Eu acho que os brasileiros têm de ver esse filme. Sei que vai ser difícil mostrar o filme lá. Politicamente, Manda Bala é uma bomba. Mas o olhar de Jason, não é um olhar de clichês. Acho que, sem dúvida, é um filme que vai provocar reflexão.

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