• Carregando...
ReNato Bittencourt Gomes sempre anda com uma bolsa ou mochila contendo livro, caderno e canetas. Gosta de usar camisas com abotoadura e boina, boné ou chapéu | Antonio Costa/Gazeta do Povo
ReNato Bittencourt Gomes sempre anda com uma bolsa ou mochila contendo livro, caderno e canetas. Gosta de usar camisas com abotoadura e boina, boné ou chapéu| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

O movimento ininterrupto da vida está presente em toda a obra literária de ReNato Bittencourt Gomes (o n maiúsculo é intencional, a explicação será feita logo mais). Ele é um contista, com três livros publicados – o mais recente é Inventário e Descobrimentos: os Tecidos do Corpo. "Vida é movimento, arte é movimento, literatura é movimento. Precisa haver algum movimento, de alguma ordem, para haver uma história sendo contada. Mesmo que esse movimento seja apenas interior", diz o paranaense de 44 anos, nascido em Telêmaco Borba, que já morou no Rio de Janeiro, e desde 2004 está radicado em Curitiba, onde viveu durante as décadas de 1980 e 1990.

Ler a ficção de Gomes é se deparar com um texto, mais do que conciso, preciso. "Caminhei, caminhei, caminhei. Anotei palavras, disse palavras, nessa minha ânsia de comunicar a mensagem fundamental, única, o centro de tudo." O trecho inicial do conto "O Mapa do Mundo" revela a profissão-de-fé do autor: ele é um sujeito visceralmente envolvido com a palavra escrita.

Gomes já ganhou a vida fazendo revisão de livros, e em seu currículo profissional de revisor estão os livros Gênio, de Harold Bloom (Objetiva), e a mais recente versão da História da Inteligência Brasileira, de Wilson Martins (Editora UEPG).

Paralelamente aos compromissos profissionais, o que ele mais gosta de fazer é escrever. "Escrever, escrever, escrever e publicar. Talvez um dia escrever para cinema. O cinema é outra paixão, além da literatura. Tanto literatura como cinema são narrativas e é disso que eu gosto: narrativas. Gosto de livros e filmes e de falar sobre livros e filmes", conta.

Amor de salvação

O amor, e as suas variações, é um dos assuntos centrais da ficção do escritor. "Esse foi um tema obsessivo em meus três primeiros livros. Talvez eu estivesse, sem ter essa intenção, compondo uma trilogia. Espero já ter consumido em mim esse assunto para seguir em frente. Espero também estar já em outro momento da vida, abrindo outros portais", afirma Gomes.

No que diz respeito às variações amorosas, o escritor tem um olhar, em especial, sobre os "desastres do amor", tema recorrente na arte desde o início dos tempos. "Todo mundo já passou por isso. Falando das dificuldades do amor, falamos da incompletude humana, essa constante busca a que estamos fadados, já que estamos aqui, nesta vida", argumenta.

O escritor encontrou uma maneira inusitada para amarrar toda a sua produção: os títulos dos livros mostram isso. O primeiro se chama Mecânica dos Fluidos (2002). Liturgia do Sangue: A Memória do Lobo (2009) é o segundo e, o terceiro, recém-publicado, tem como título Inventário e Descobrimentos: os Tecidos do Corpo. "Gosto desse diálogo com o aparentemente técnico, títulos que sugerem um tratado de ciências exatas, ciências físicas e biológicas, ciências jurídicas, mas a jogada é essa mesma: revelar o humano", argumenta.

ReNascido

O prosador decidiu assinar com n maiúsculo para evidenciar o significado de seu nome. "Renato significa nascido de novo, re-nascido. A maiúscula no meio do nome é uma tentativa de evidenciar essa etimologia. Sou grato a meus pais pelo meu nome, parece que ele me determinou um destino de sempre renascer", explica.

Analista de conteúdos em uma empresa que produz material para ensino à distância e professor de produção de textos acadêmicos, Gomes defendeu, recentemente, dissertação de mestrado na Universidade Federal do Paraná (UFPR) sobre a obra do escritor Tabajara Ruas e, para manter o hábito, sempre está com algum material para revisar.

Ele faz questão de dizer que, por circunstâncias do cotidiano, não escreve os seus próprios textos diariamente. "Mas trabalho com textos todo dia, isso sim. Mas pouco a pouco tenho me disciplinado. Aprendi, nos livros da americana Natalie Goldberg, que trabalha há décadas com oficinas de redação criativa, que o ato de escrever é o ato de manter a mão ocupada", finaliza.

Serviço: Inventário e Descobrimentos: os Tecidos do Corpo, de ReNato Bittencourt Gomes. Fundação Cultural de Curitiba/Coleção Cidade de Curitiba, 112 páginas. O livro não é comercializado, apenas distribuído para bibliotecas. Contos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]