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São vários os motivos para assistir novamente ao thriller musical 8 Mulheres, de François Ozon, que acaba de ser relançado pela Versátil. O primeiro deles, sem dúvida, é o elenco. Poucas vezes um diretor conseguiu reunir em um mesmo filme veteranas do calibre de Catherine Deneuve, Fanny Ardant e Isabelle Huppert, e novatas talentosas, como Ludivine Sagnier e Virgine Ledoyen. Se isso não for suficiente, lembre-se de que cada uma delas tem um número musical em um filme que faz uma paródia das histórias de suspense com boas doses de humor negro.

Para quem não conhece o enredo: na véspera do Natal de 1953, no interior da França, uma família decide se reunir para celebrar a data. Logo pela manhã, Marcel, o patriarca – único homem do grupo – é encontrado assassinado com uma facada nas costas. As circunstâncias apontam que o culpado não pode ter sido alguém de fora, logo é uma das oito mulheres que estão na casa.

Todas elas têm algum motivo para ter cometido o crime: a esposa ambiciosa (Catherine Deneuve), a irmã "liberada" (Fanny Ardant), a cunhada problemática e neurótica (Isabelle Ruppert), a nova camareira (Emmanuelle Béart), a filha mais velha (Virgine Ledoyen), a caçula (Ludivine Sagnier), a governanta da família (Firmine Richard) e a sogra alcoólatra (Danielle Darieux).

Com fortes referências ao universo detetivesco de Agatha Christie, o filme lembra em alguns momentos Assassinato em Gosford Park, de Robert Altman. Essa não é, aliás, a única piscadela de olho do diretor para os fãs de cinema. Ozon aproveita para homenagear divas do cinema como Audrey Hepburn em Sabrina, inspiração para o figurino de Ledoyen; Rita Hayworth, na dança strip-tease de Gilda, relido no número musical de Ardant; Marilyn Monroe, pela loiríssima Deneuve... e a lista continua.

Toda a ação se passa em um mesmo cenário – a casa da família –, já que o filme surgiu a partir de uma peça de teatro. A cuidadosa direção de arte se encarregou de recriar um ambiente burguês de província, que beira o kitsch, e se torna um palco um tanto claustrofóbico para as divertidas atuações das atrizes.

Após a descoberta do cadáver de Marcel e um momento de histeria coletiva, a filha mais velha, que acaba de chegar na casa, decide levar a cabo uma investigação interna. Isoladas pela neve, com o fio do telefone cortado e sem poder usar o carro, as mulheres iniciam uma troca de farpas e acusações que não deixa espaço para dúvidas: nenhuma delas é totalmente inocente.

Inevitável pensar no quanto as atrizes se divertiram rodando o filme. De tempos em tempos, cada uma delas apresenta um número musical inusitado, revelando seu estado de espírito ou alguma faceta de sua personalidade.

8 Mulheres funciona como uma espécie de respiro na densa filmografia de Ozon, responsável pelos dramas Sob a Areia, com Charlotte Rampling; e O Amor em Cinco Tempos, em que reconstrói a história de um relacionamento de trás pra frente, ou seja, do divórcio ao primeiro encontro.

Em tempo: não deixe de conferir os extras. No delicioso making of, o sofrimento das atrizes para aprender as coreografias dos musicais e a marcação precisa do diretor. O mais sádico também se sacia ao ver uma atriz do porte de Catherine Deneuve errando falas e sendo corrigida por Ozon. E, para os que gostaram das músicas, dois clipes especiais: Deneuve, em um sensualíssimo ensaio em preto-e-branco, e Sagnier cantando seu "Papa T’es plus dans le Coup" (Papai está por fora). GGG1/2

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