• Carregando...
Samantha e Cyril compõem uma espécie de fada-madrinha e herói infantil | Divulgação
Samantha e Cyril compõem uma espécie de fada-madrinha e herói infantil| Foto: Divulgação

O Garoto de Bicicleta, dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, emocionou a plateia que lotou a sessão de imprensa no Festival de Cinema de Nova York. O filme – que dividiu em Cannes o grande prêmio do júri com Once Upon a Time in Anatolia, do turco Nuri Bilge Ceylan – é mais uma investida dos Dardenne na temática político-social, que eles vêm seguindo desde o perturbador La Promesse, de 1996, sobre o trabalho análogo à escravidão feito por imigrantes ilegais na Bélgica.A história de O Garoto de Bicicleta segue o jovem Cyril (interpretado pelo excelente Thomas Doret), de 13 anos, que vive em um lar para menores. Na busca desesperada pelo pai – e tendo dele como última recordação uma bicicleta –, o jovem passa os fins de semana com a cabeleireira Samantha, que lhe oferece abrigo e carinho.

O filme apresenta vários elementos de contos infantis – como cenas numa floresta e pessoas boas e más – que fazem Cyril perder suas ilusões e colocam Samantha (Cécile de France) na posição de uma espécie de fada-madrinha. Leia abaixo os principais trechos da coletiva com Luc Dardenne (por vezes, Jean-Perre fazia intervenções, mas sempre utilizando o pronome "nós", para complementar o pensamento do irmão).

Como surgiu O Garoto de Bicicleta?

Nós tínhamos essa história na cabeça já há um longo tempo. Uma mulher que ajuda um garoto a emergir da violência que o faz prisioneiro. Inicialmente havíamos imaginado Samantha como uma médica, mas mudamos de ideia e decidimos que seria uma cabeleireira, por ser algo que nos pareceu bem mais convincente.

Foi difícil evitar que o filme apelasse para o sentimentalismo?

Era uma cilada fácil, mas realmente conseguimos que isso não acontecesse. Nosso desejo é que a audiência nunca descubra por que Samantha se sentiu atraída por Cyril. Também não queríamos explanações psicológicas e nem o passado explicando o presente. O importante para nós é que os espectadores simplesmente reflitam sobre as ações e o relacionamento dela com o garoto.

Cécile de France foi a primeira opção para o papel?

Nada foi programado. Nunca escrevemos tendo algum ator específico em mente. Assim que terminamos o roteiro, começamos a pensar sobre atrizes e a primeira que nos veio à cabeça foi Cécile. Nós enviamos o roteiro e ela aceitou de imediato. Apenas nos fez algumas perguntas sobre a motivação do seu personagem. Thomas foi o quinto menino que apareceu no dia da escolha do elenco, que tinha 150 aspirantes ao papel.

Como você definiria o filme?

Muitos têm dito que o filme é uma história de amor e nós concordamos. Toda a construção dramática decorre da ligação do menino com Samantha, a personagem de Cécile, que no convívio com uma criança se reencontra com a infância que deixou para trás. Na verdade, o encontro transforma a vida de ambos.

É um filme grave, mas ao contrário dos seus anteriores, traz esperança. É essa a principal diferença?

Sim, mas também fala de responsabilidade, de amadurecimento, de redenção. Contamos histórias simples sobre pessoas simples. Nosso cinema procura mostrar os pequenos dramas que acontecem no lugar onde vivemos e que na verdade são universais, mas desta vez queríamos encontrar uma fluidez maior, desde que não retratasse uma bondade de clichê e que ficássemos o mais próximo possível do sentimento de troca.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]