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Amigos de longa data, atores se reencontraram nas gravações do filme | Divulgação
Amigos de longa data, atores se reencontraram nas gravações do filme| Foto: Divulgação

Opinião

Sobre o tempo e a perda da inocência

Paulo Camargo

Mais do que um filme sobre a amizade, ou a respeito das consequências de um erro cometido no passado, Entre Nós fala, do início ao fim, sobre o tempo, e o impacto, em alguns aspectos devastador, que o passar dos anos tem sobre os personagens.

Existe na trama um suposto "grande mistério" – não cabe aqui revelá-lo –, que, por ironia, é o calcanhar de Aquiles do longa-metragem, por ser previsível demais, capaz de ser deduzido após 15 minutos de projeção. Envolve, pode-se adiantar, a amizade entre Felipe (Caio Blat) e Rafa (Lee Taylor), que além da atração que ambos sentem por Silvana (Maria Ribeiro), também compartilham o desejo de se tornarem escritores. Os dois tentam finalizar seus primeiros livros.

Felizmente, o roteiro de Entre Nós não se limita ao artifício de guardar um segredo – pouco original, diga-se de passagem – para envolver o público, e se sustentar dramaticamente.

A história se inicia em 1992, quando um grupo de sete amigos, entre eles os personagens já citados, passa um fim de semana em um cenário idílico: o sítio da família de Silvana na Serra da Cantareira, em São Paulo. Completam a turma dois casais de namorados, Lucia (Carolina Dieckmann) e Gus (Paulo Vilhena) e Drica (Martha Nowill) e Cazé (Julio Andrade).

Nos dias que passam juntos, todos bebem, conversam, transam e, sempre sob alguma tensão, discutem o misto de amor e amizade que os une, e os divide, porque esses sentimentos podem permitir diferentes configurações dentro do grupo – todos parecem um pouco apaixonados uns pelos outros.

Nesse clima, escrevem cartas que são enterradas numa caixa sob a terra da chácara, para serem lidas dez anos mais tarde, quando todos estiverem, enfim, adultos. Mas a vida se antecipa e os faz sofrer uma grande perda que muda o rumo da história muito antes do que esperam.

Por conta dessa tragédia, o reencontro, em 2002, tem sabor agridoce. Nada é como era antes e, literalmente, desenterrar os sonhos do passado pode não ser uma boa ideia.

Se o roteiro do filme de Paulo Morelli e seu filho, Pedro, erra ao acreditar que a força da história está no segredo que envolve os destinos de Felipe e Rafa, acerta em outras instâncias. Os personagens são interessantes, os diálogos quase sempre convincentes e, principalmente, a dupla de diretores consegue imprimir ao filme uma atmosfera tensa e envolvente, também resultante da competente fotografia de Gustavo Hadba (de Faroeste Caboclo). O elenco está bastante afinado, e cada ator tem a oportunidade de brilhar a sua maneira.

No fim das contas, o que fica de Entre Nós é a coragem de escapar do humor barato que anda impregnando ultimamente a produção nacional feita para o grande público, optando por contar uma história sem a obrigação de ter um final feliz, e que se propõe a discutir o tema nem sempre palatável do fim da inocência, das ilusões perdidas. GGG

  • O elenco de Entre Nós passou 15 dias hospedado na casa que serviu de locação para o filme. Lá, houve a recriação de situações que os personagens enfrentam no roteiro

A passagem do tempo e as dores do amadurecimento são o mote principal de Entre Nós, filme dos cineastas Paulo e Pedro Morelli, que estreia hoje nos cinemas (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo). Com um roteiro denso, misto de drama e suspense, o longa rema contra a maré de comédias nacionais que tem tomado as salas do país. Mesmo assim, aposta em um elenco com estrelas consagradas na televisão – como Caio Blat, Carolina Dieckmann e Paulo Vilhena – para fisgar o público.

"É mais fácil vender uma comédia", diz Paulo Morelli, que tem o apoio dos números como aliado: Entre Nós estará presente em 120 salas do Brasil, contra 440 da comédia S.O.S – Mulheres ao Mar, que está há uma semana em exibição. "Mas é fundamental ter espaço para o drama", completa o diretor, que tem no currículo Cidade dos Homens (2007), Viva Voz (2004) e O Preço da Paz (2003), filmado em Curitiba.

No novo trabalho, Paulo se juntou ao filho para contar a história de um grupo de amigos que se reúne para passar um fim de semana um em sítio regado a conversas, bebedeiras e delírios juvenis. O encontro acaba em tragédia e, dez anos mais tarde, em 2002, eles se reúnem no mesmo local para desenterrar cartas que haviam escrito na ocasião. O que traz à tona não só desejos antigos para o futuro, mas também decepções, mudanças de comportamento e um grande segredo.

O argumento foi concebido há oito anos pelos diretores, que aperfeiçoaram a história e buscaram recursos para filmarem seu primeiro trabalho juntos. E se o ambiente atrás das câmeras era familiar, entre o elenco não foi diferente. Além do fato de Caio Blat e Maria Ribeiro formarem um casal, praticamente todos os atores são amigos de longa data, assim como os personagens que interpretam.

"Esse é o filme da nossa história", resume Blat, que revelou curiosidades sobre os bastidores. Para entrar no clima, por exemplo, o elenco e os diretores passaram 15 dias isolados no sítio onde a história se desenrola. Lá, reviveram as situações que os personagens enfrentam no roteiro e fizeram alterações no texto. "Foi um encontro prazeroso e artístico", lembra Vilhena.

A flexibilidade de Pedro e Paulo Morelli também foi destacada pelos atores, que tiveram liberdade para improvisar em algumas falas e ações dos personagens. Numa cena em especial, em que o grupo, durante o jantar, destila opiniões sobre os mais diversos assuntos, de política a sexo, todo o texto foi criado pelo elenco, que só recebeu os tópicos para os quais deveriam direcionar a conversa. "Nós até liberamos a cerveja no set este dia", revela Pedro Morelli.

O entrosamento da equipe e a satisfação com o resultado final do trabalho – além do fim aberto para diversas interpretações – gerou a torcida para que exista uma sequência, nos moldes de O Albergue Espanhol, uma das inspirações dos Morelli. "Não vou dizer que não existe o sonho de dar continuidade [à história]", revela Blat.

Desafios

Famosos por seus papeis na televisão, Paulo Vilhena e Carolina Dieckmann tiveram a oportunidade de mostrar uma faceta diferente em Entre Nós. Gus, personagem de Vilhena, é desajeitado e passa por uma enorme crise existencial – muito diferente do tipo garanhão e malandro que o ator costuma interpretar. Já Lúcia, vivida por Carolina, traz uma intensidade pouco vista na televisão. Com poucas falas, a personagem dialoga muito mais com suas expressões, exigindo um trabalho minucioso da atriz, que diz se interessar por esse tipo de desafio. "Fazer o papel de sofredora me interessa muito mais do que o de diva. Meu temperamento tem muito mais a ver com o da sofredora."

O repórter viajou a convite da Paris Filmes.

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