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São Paulo – Saga (Companhia das Letras, R$ 46; 344 págs.), publicado em 1940, encerra uma fase na produção literária de Erico Verissimo, o ciclo de Porto Alegre, que tem como obra mais conhecida Olhai os Lírios do Campo, de 1938 (reeditado pela Companhia das Letras). O romance narra, na primeira parte, a participação de Vasco Bruno como combatente em defesa do governo republicano durante a Guerra Civil Espanhola e, em seguida, o seu retorno, derrotado, para a capital do Rio Grande do Sul e a sua união com Clarissa.

O escritor (1905-1975), que já foi um dos autores mais populares do país, não gostava de Saga, considerando-o seu "pior romance", como lembra Flávio Aguiar no prefácio do volume agora reeditado. E, de fato, trata-se de uma obra problemática, com inúmeras passagens e personagens desnecessários, que parecem surgir ali por conta de uma vontade já muito acentuada de assimilar os acontecimentos históricos da maneira mais abrangente possível ao universo ficcional.

Em um curta-metragem recentemente relançado (no DVD Encontro Marcado com o Cinema de Fernando Sabino e Davi Neves), Verissimo diz que a sua intenção máxima como criador era elaborar um vasto panorama literário com a história do Rio Grande do Sul e que a primeira parte de sua produção (na qual se inclui Saga) deveria ser vista mais como um exercício preparatório para o que viria depois (principalmente a trilogia O Tempo e o Vento). E, de fato, essa era a preocupação maior de Erico Verissimo (vale a pena ler seus comentários, sempre nesse sentido, a respeito do que seria o romance mais representativo do Brasil em suas palestras depois reunidas no livro Breve História da Literatura Brasileira, publicado pela editora Globo).

Paradoxalmente, talvez seja esse "desejo de história" tão acentuado que, hoje em dia, torne menos interessantes os livros de Verissimo. Na primeira parte de Saga, por exemplo, chama muito mais a atenção a força expressiva da situação de um homem (qualquer homem) diante de um conflito absurdo (como é por definição qualquer guerra, ainda que seus motivos sejam concretamente legítimos) tão bem retratada pelo autor do que o sucessivo surgimento no texto dos estrangeiros que vinham participar dos combates e das impressões que causavam no narrador.

Estão no livro de Verissimo misturadas as duas coisas: há páginas de profundo impacto sobre a vida sem sentido em um campo de batalha, há outras, nas quais se busca acumular "casos" e abranger do modo mais amplo possível o momento, bastante descartáveis. Entretanto, como diz Vasco Bruno para justificar sua escolha dos fatos que resolveu contar em sua "reeducação sentimental", "este pode ser um modo parcial de ver as coisas, mas é o "meu" modo e, seja como for, este é o "meu livro". Tamanha convicção precisa, no mínimo, ser respeitada.

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