
Estreia, na próxima sexta-feira, dia 15, o último filme da saga de Harry Potter. Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2, baseado no livro homônimo dividido em duas partes para o cinema é o derradeiro lançamento previsto de um produto cultural com a marca que projetou a carreira da escritora britânica J.K. Rowling a níveis estratosféricos.
Entre simpósios dedicados a avaliar criticamente o fenômeno e conferências para decifrar os segredos do mercado baseado nesse case de sucesso, ninguém tem dúvidas a respeito do impacto cultural dos sete livros que narram a história de um menino bruxo destinado a salvar a humanidade do maligno Voldemort.
Tudo começou em 30 de junho de 1997, quando o primeiro livro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, foi lançado na Inglaterra após ser rejeitado por oito editoras. Sem maiores divulgações, teve uma chegada discreta no mercado. "O sucesso da série foi todo devido ao boca a boca, e a partir do terceiro livro a febre começou, pois coincidiu com o lançamento do primeiro filme, em 2001", afirma o crítico de cinema Marden Machado. "Talvez o grande mérito da autora tenha sido fazer com que seus personagens envelhecessem junto com o público", diz, referindo-se ao fato de Harry ter 11 anos no primeiro livro e envelhecer um ano a cada novo volume.
A jornalista Renata Bossle é um exemplo de fã que cresceu junto com Harry. Ela tinha 12 anos quando leu o primeiro livro e 19 quando leu o último. Participou da equipe de tradução do mugglenet.com, o maior portal dedicado a Harry Potter do mundo e se mantém atualizada sobre as novidades referentes à saga. "É uma leitura de entretenimento. Não exige muito, mas é bem escrito e existem camadas de texto que podem cativar leitores mais exigentes, como intrigas políticas, por exemplo", explica. Para ela, que até então lia clássicos ou literatura específica para adolescentes do sexo feminino, como a série Diário da Princesa, da escritora Meg Cabot, o que angariou um público tão grande foi a presença de um protagonista masculino, capaz de gerar empatia com meninas e meninos.
Já para Laercio Demarch, gerente de produtos editoriais da Fnac Curitiba, a saga criada por J.K. Rowling abriu também um nicho ainda pouco explorado de best seller infanto-juvenil: "Antes, tínhamos pouca coisa voltada para essa faixa etária. Os livros eram mais puxados para os clássicos, como As Viagens de Gulliver ou Os Três Mosqueteiros, ou tinham mais um caráter didático, com lições de moral sobre o uso de drogas ou gravidez precoce. A partir de Harry Potter outras séries foram surgindo".
Marden Machado concorda com a opinião de Demarch, mas afirma que outros livros publicados a partir do sucesso de Rowling, como A Bússola de Ouro, Coração de Tinta e mesmo As Crônicas de Nárnia, publicados pela primeira vez na década de 50, não tiveram tanto sucesso no cinema: "Os outros filmes infantilizaram demais os personagens, e isso elimina parte do público potencial", e explica ainda que uma das razões pelas quais os três primeiros filmes de Harry Potter não fizeram tanto sucesso se deve à pouca idade dos personagens: "A partir do quarto [Harry Potter e o Cálice de Fogo], os personagens entram na adolescência, e os jovens que se interessam por histórias de amor e relacionamentos integraram a audiência".
Para Machado, uma coisa é certa: o fim da saga de Harry Potter vai deixar uma lacuna na indústria cinematográfica. "A Warner Bros., produtora do filme, dividiu o último episódio em duas partes porque sabe que a mina de ouro está secando. Não há outro investimento tão seguro e tão rentável para se apostar quanto as adaptações dos livros de J.K. Rowling", diz.
Renata Bossle, porém, acredita que a saga vai perdurar um pouco mais: "A autora tem um timing incrível. Já anunciou, em um vídeo promocional, o site pottermore.com, em que criará materiais colaborativos com os fãs, lançará material inédito e disponibilizará a venda de e-books da saga. Além disso, foram confirmados os boatos de que os estúdios Leavesden, na Inglaterra, onde foram feitos parte dos filmes, será transformado em museu. E novos fãs vão curtir esses elementos, não é uma moda que vai passar tão rápido".






