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Grandes Momentos

Clássicos – O rigor e a sofisticação das músicas de Edu Lobo se tornaram mais conhecidas do público brasileiro na década de 60, com as interpretações de Elis Regina para duas composições do artista: "Arrastão", parceria com Vinicius de Moraes e vencedora do Festival de MPB, em 1965; e "Upa Neguinho", composta com Gianfrancesco Guarnieri. No DVD, Lobo e Guarnieri recordam que a canção nasceu em mais ou menos meia-hora, durante a criação da trilha sonora da peça de teatro Arena conta Zumbi.

Trilhas – "Estou sempre procurando alguma coisa relacionado ao teatro e ao cinema", revela o compositor no documentário Edu Lobo – Vento Bravo. De fato, o músico foi responsável por um grande número de trilhas sonoras ao longo de sua carreira, como para O Grande Circo Místico, ao lado de Chico Buarque; musicou na década de 80 os filmes O Cavalinho Azul, de Eduardo Escorel, e Imagens do Inconsciente, de Leon Hirshman. Mais recentemente, compôs a trilha sonora de Guerra de Canudos, de Sérgio Resende; e de O Xangô de Baker Street, de Miguel Faria Jr.

O ano era 1967 e o jovem cantor e compositor Edu Lobo pisou no palco da segunda edição do Festival de Música Popular Brasileira ao lado da intérprete Marília Medalha e do Quarteto Novo. Ao som de gritos de "Edu! Edu! Edu!", canta "Ponteio" e recebe o primeiro lugar. Era a segunda vez que ganhava o prêmio maior em um Festival de MPB. O primeiro foi em 1965, com a canção "Arrastão", composta junto a Vinícius de Morais e interpretada por Elis Regina.

"No dia seguinte cem jornalistas queriam falar comigo", lembra Lobo no documentário Edu Lobo – Vento Bravo, dirigido por Regina Zappa e Beatriz Thielmann (Biscoito Fino, R$ 42,90). Mas a fama – ao contrário da música – nunca o seduziu completamente. "Edu passou pela fase em que poderia ter virado popstar, mas ele não queria isso", conta a cantora e compositora Joyce.

Filho do também compositor Fernando Lobo, Edu Lobo pertence a um grupo de artistas que entraram na música por meio do acordeão e da influência de Luiz Gonzaga e Dorival Caymmi, como lembra o jornalista e crítico musical Tárik de Souza, que assina a consultoria musical do DVD.

Essa mistura sofisticada de ritmos nordestinos, como o frevo e o maracatu, com a bossa nova carioca tem razão de ser: apesar de nascido no Rio em 1943, Edu Lobo é filho de pais pernambucanos e foi em Recife que passou boa parte da infância. Os teatros de mamulengos, os pregões e a família esperando no porto, "como em um filme de Fellini", forneceram um farto material para a musicalidade do artista.

"Esta idéia de misturar a música do Nordeste com a bossa nova foi uma coisa quase que de sobrevivência. Porque eu convivia com pessoas cuja barra era muito pesada", conta o compositor, que através do parceiro Vinicius de Moraes, com quem compôs, aos 19 anos, "Só Me Fez Bem", conheceu Tom Jobim, Carlinhos Lyra, Baden Powell, entre outros. "Se entrasse nessa área, seria expulso de campo. Os caras eram muito craques e eu, muito garoto", lembra.

Edu Lobo chegou com seu jeito tímido e em pouco tempo conquistou os pesos pesados da música brasileira com suas idéias novas. "Eu era escravo da bossa nova até começarem as primeiras parcerias com Baden e Vinicius. Depois, o maior impacto que recebi foram as músicas de Edu, uma coisa inteiramente nova, com muita vitalidade e um pé no Nordeste. Era uma porta que se abria", revela Chico Buarque, que, ao lado de Lobo, canta um trecho de "Choro Bandido" no DVD.

Em um tempo de paz, luz e céu, o músico Ivan Lins recorda o impacto que a obra de Lobo causou. "Depois do amor e da flor, a música de cunho social de Edu."

Depoimentos também de parceiros como Maria Bethânia, Wagner Tiso, Dori Caymmi e Marcos Valle, o escritor Eric Nepomuceno e o maestro Chiquinho de Moraes, entre outros, além de um emocionante encontro de Lobo com o ator e poeta Gianfrancesco Guarnieri, morto em 2006, em que relembram a trilha sonora da peça Arena Conta Zumbi (1964).

Apesar de se ater à trajetória musical do compositor, o documentário em alguns momentos revela lembranças íntimas, como quando relembra a parceria com Torquato Neto em "Pra Dizer Adeus". Aparentemente a letra falava de amor, mas após o suicídio de Torquato, em 1972, Lobo descobriu que se tratava também de outra despedida.

O DVD, o primeiro da trajetória do artista, traz também um show no extinto Mistura Fina, no Rio de Janeiro, gravado em 2006. Ao lado dos músicos Cristóvão Bastos (direção musical, arranjos e piano), Jorge Helder (contrabaixo) e Rafael Barata (bateria) o compositor apresenta 12 composições, abrindo com a elegante "Casa Forte", que apesar de não ter letra foi censurada durante o regime militar.

Ao longo do show, canções como "Corrida de Jangada", "Forrobodó", entre outras, além canções de O Grande Circo Místico, compostas junto a Chico Buarque. Um mergulho nos "mares muito profundos" de Lobo, nas palavras de Maria Bethânia. GGGG

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