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Lennon: incapaz de acatar qualquer tipo de ordem, foi um aluno brilhante e indisciplinado | Divulgação
Lennon: incapaz de acatar qualquer tipo de ordem, foi um aluno brilhante e indisciplinado| Foto: Divulgação

Bastidores

Saiba mais sobre o livro John Lennon – A Vida, de Philip Norman

Antes de pesquisar a vida de Lennon, o autor londrino escreveu um livro sobre a trajetória dos Beatles, chamado Shout!.

Ele chegou a encontrar Lennon pessoalmente em duas ocasiões, quando trabalhava como jornalista para o Sunday Times.

Em 2003, conseguiu o aval de Yoko Ono para realizar a biografia de Lennon.

Com a ajuda da viúva, foi o primeiro biógrafo a conversar com Sean, o filho de Lennon com Yoko (antes, ele teve Julian com Cynthia Powell). O depoimento de Sean rendeu um capítulo final comovente.

Yoko não endossou a biografia e disse que Norman foi "maldoso" com Lennon.

A fissura de Philip Norman por detalhes é obscena. Dá até para aceitar a arrogância no título de John Lennon – A Vida, já que é evidente a sua determinação em destrinchar cada etapa da existência do homem que mudou o rumo da música com os Beatles, ao lado de Paul McCartney, George Harrison (1943-2001) e Ringo Starr.

O jornalista e escritor se dá ao trabalho de contar qual era e onde ficava a loja oficial que vendia o paletó que Lennon (1940-1980) teria de usar na escola – Wareigns de Smithdown Road, em Liverpool. Só para explicar, em seguida, que Mimi preferiu encomendar uma peça sob medida no mesmo alfaiate de George pelo valor alto de 12 libras.

Mimi e George, no caso, são os tios de Lennon, responsáveis por sua educação depois que seus pais se separaram.

Antes de Norman, outros dois autores escreveram biografias sobre o compositor de "Imagine": Ray Coleman e Albert Goldman. Aquele teria feito um trabalho excessivamente elogioso, enquanto esse acabou pesando a mão nas difamações.

Philip Norman se oferece como o meio do caminho entre um e outro. Assim, ele se dispõe a falar das tendências homossexuais de Lennon, mas as descarta como uma característica típica dos boêmios da época – nunca colocada em prática –, incitados a experimentar um pouco de tudo. Fala também do desejo que o músico admitiu sentir pela mãe, Julia, morta em um acidente de carro quando ele tinha 17 anos.

Numa tarde em que gazeava as aulas da escola, Lennon foi visitar a mãe e a encontrou dormindo. Naquele momento, ele já era um adolescente com hormônios escorrendo pelas orelhas. Deitou ao lado dela e, sem querer, encostou em seu seio. Anos mais tarde, durante uma entrevista, disse ter sentido desejo pela mãe naquele momento e supôs que, se tivesse tentado alguma coisa, Julia teria consentido.

Na verdade, todo o episódio é uma especulação de Lennon. Julia gostava de festas e de rock, não se importava de viver com um homem sem se casar com ele (o que, para a época, era algo promíscuo) e amava o filho, mas não há nenhum indício de que simpatizava com a ideia do incesto.

O ponto de partida para a biografia foi uma conversa com Yoko Ono em 2003, quando a viúva aceitou pela primeira vez colaborar com um escritor. Por meio dela, Norman teve acesso a Sean Lennon, o filho, que também nunca havia sido citado em livros – até porque as biografias anteriores saíram quando Sean ainda era criança. O encontro dele com o biógrafo rendeu o capítulo final de John Lennon – A Vida, em que lembra pequenos detalhes da convivência breve que teve com o pai. Em 1980, quando Mark Chapman assassinou Lennon na frente do edifício Dakota, em Nova Iorque, Sean tinha 5 anos.

Um ponto alto do livro é reconstrução detalhada que Norman faz da infância e adolescência de seu personagem, períodos que não estavam muito claros em outras obras. O autor conseguiu, por exemplo, encontrar vários colegas da época dos Quarrymen, a banda que mais tarde seria rebatizada The Beatles.

O maior problema de Norman talvez seja o texto esquemático, sem atmosfera. Não demora para o leitor perceber a lógica da forma adotada por ele, que varre as informações de modo linear. Como um jato de tinta de uma impressora de computador, os dados são apresentados na ordem em que aconteceram, um após o outro, página atrás de página.

A sorte de Norman é que a história que ele conta é muito boa e atrai por si só. Não precisa fazer esforço nenhum.

No fim, embora tenha conquistado o aval de Yoko, ele ficou sem sua aprovação. Depois de ler o manuscrito original, ela disse ter ficado "perturbada" e que não o endossaria porque Norman foi "maldoso" com Lennon.

Serviço

John Lennon – A Vida, de Philip Norman. Companhia das Letras, 840 págs., R$ 69.

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"Essa viagem de dez dias entrou para a lenda como o momento em que Brian (Epstein) afinal abriu o jogo sobre a sua alegada paixão homossexual por John – e em que John, fugazmente, a teria reciprocado. Aceitando-se ou não tal interpretação, todo o episódio foi bizarro ao extremo. Quaisquer que fossem os sentimentos de Brian, teria sido um desvio inexplicável em relação ao seu caráter normalmente tímido e decoroso, sobretudo num momento em que o primeiro dever de John era tão obviamente para com Cynthia e o filho recém-nascido – o afilhado de Brian."

Trecho de John Lennon – A Vida, de Philip Norman, com tradução de Roberto Muggiati.

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