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Livro-imagem

A Trilogia da Margem – O Livro-imagem Segundo Suzy Lee

Suzy Lee. Tradução de Cid Knipel. Cosac Naify, 192 págs., R$ 69.

A fama de Suzy Lee não se baseia em palavras, mas em imagens. Artista gráfica, ela se dedica a contar histórias sem usar um a. Sem considerar, é claro, as letras que vão nos títulos: Espelho, Onda e Sombra. Eles compõem a chamada Trilogia da Margem, em que a sul-coreana explora o formato do livro com uma criatividade incomum.

Suzy veio ao Brasil há dois anos, quando a Coreia do Sul foi homenageada pelo 12.º Salão do Livro pra Crianças e Jovens. Na ocasião, ela realizou uma série de conferências e, destas, surgiu o livro A Trilogia da Margem – O Livro-Imagem Segundo Suzy Lee, que acaba de ser publicado pela Cosac Naify, editora também dos outros três.

Trata-se de uma obra instigante, em que Suzy explica o que a animou quando começou a desenvolver a ideia de fazer livros que fossem também obras artísticas. E isso não é um exagero. O que ela faz é arte.

O volume disseca Espelho, Onda e Sombra, além de outros trabalhos de Suzy, e ela se dispõe a analisar cada uma das páginas, mostrando pequenos detalhes em que investiu tempo e esforço e oferecendo abordagens possíveis para as histórias. É como um guia de leitura para livros sem palavras. Ou então uma forma de ensinar como ver as imagens que fazem parte do livro.

Por e-mail, a reportagem perguntou se Trilogia da Margem seria uma forma de ensinar como ver. "Eu não acho que ele possa ensinar como ver. Existem possibilidades variadas de ler uma imagem e um livro, e acredito que todas elas são corretas", responde Suzy. "A Trilogia da Margem sugere apenas um tipo de caminho possível. Uma vez eu li uma resenha sobre meus livros-imagens que eu não consegui decifrar (e eu fiquei muito feliz)", diz.

No livro, a autora reúne exemplos de reações aos livros, reproduzindo até desenhos de leitores que se inspiraram em sua obra. O fato é que as crianças são a parte do público que oferece as interpretações mais criativas para as imagens. "Quem ensina quem? Eu não sei dizer", responde Suzy.

Divisão

A "margem" a que se refere a artista é formada pelo encontro das páginas na coluna do livro, onde elas estão encadernadas e coladas. Você abre o livro e há nesse meio, nessa divisão entre a página da esquerda e página da direita, uma região inexplorada, um local que deveria ser evitado inclusive pela dificuldade de se alinhar um desenho que começa de um lado para migrar ao outro.

Curioso é que esses riscos e as consequências de assumi-los eram exatamente o que interessava a ela. "Eu acredito que muitos dos artistas (que lidam com livros em todas as formas possíveis) estão cientes das características do livro quando eles trabalham. É natural, pois se trata do meio que eles usam", explica.

Um dos artistas que ela admira é Bruno Munari, autor de Na Noite Escura (Cosac Naify), um designer italiano que trata o livro como um objeto de arte. Munari usa tipos diferentes de papel, recorta, fura, dobra e consegue efeitos incríveis com essas intervenções.

Suzy não interfere tanto quanto o italiano, mas consegue fazer o leitor se relacionar com o livro de maneira diferente. Se estivesse lendo palavras, ele percorreria o texto e viraria a página para continuar a leitura. Normal. No caso de Onda, o leitor é levado a observar o que se passa na página: a menina à esquerda se aproxima do mar, que está à direita. Aos poucos, a criança perde o medo e enfrenta a onda, mas é escaldada por ela. O mar recua deixando um monte de "presentes": conchas e estrelas que a criança recolhe antes de ir embora com a mãe.

"Algumas histórias precisam ser contadas por palavras e outras, não", diz Suzy. "Eu acho que depende do tipo de história que você quer contar. As próprias histórias decidem como querem ser narradas. O problema surge quando a forma escolhida é errada."

E se Onda tivesse palavras? "Talvez os leitores não ouvissem o som do mar", diz.

Lendo os livros de Suzy, quase dá para ouvir a autora sussurrando: "preste atenção nos detalhes"...

"‘Deus está nos detalhes’. Eu concordo", diz a coreana. "E existem pessoas que nunca perdem o que eu escondo em meus livros: as crianças. Elas chegam a contar o número de botões no casaco de um personagem!"

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