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As soluções dadas por Márcio Aurélio, Lígia Pereira e Fernando Yamamoto (o trio de diretores, com o primeiro a frente) desprezou o menos, para valorizar o mais | Divulgação
As soluções dadas por Márcio Aurélio, Lígia Pereira e Fernando Yamamoto (o trio de diretores, com o primeiro a frente) desprezou o menos, para valorizar o mais| Foto: Divulgação

Este Hamlet que a companhia potiguar Clowns de Shakespeare estreou nesta sexta-feira (29), e leva neste s´bado (30) à noite pela última vez no teatro Bom Jesus, é um espetáculo imperdível. Isto dito por mim, que escrevi uma frase como esta acima, apenas umas duas vezes na vida. Confesso que quando vi o programa do Festival pensei, mais um Hamlet? O que entre o céu e a terra ainda não foi feito com este texto?

A montagem intensa e elegante deste Hamlet, afinal um dos grandes textos dramáticos da era cristã, me surpreendeu, entretanto. Primeiro pela cenografia que obedeceu a lógica do "menos é mais". Um andaime de quatro peças com uma porta metálica. Seis cadeiras de ferro. Três microfones em pedestais. Um Pano de fundo negro, trocado por um rubro nos atos finais da peça. Participação aparente da contrarregra, deixando o jogo da encenação aberto ao público. A luz dado um clima quase "noir", a trama de demência, conspirações políticas, mortes e traições.

As soluções dadas por Márcio Aurélio, Lígia Pereira e Fernando Yamamoto (o trio de diretores, com o primeiro a frente) desprezou o menos, para valorizar o mais: o texto e a atuação arrebatadora do grupo de atores.

Quanto ao texto enxuto e preciso, a impressão na plateia é de que cada palavra foi cuidadosamente burilada e discutida com os atores – para que cada personagem tivesse uma voz própria e verossímil. Quem é afeito ao texto do bardo ou tem alguma tradução preferida, às vezes, demora para reconhecer a linha que está sendo dita, visto que o texto final condensa várias traduções. O resultado final deste trabalho todo foi ritmo, música e poesia.

A atuação do elenco é uniformemente competente, mas Dudu Galvão faz um Hamlet ao mesmo tempo demasiadamente humano e animalesco que vai direto para a antologia. Arlindo Bezerra e Marco França (em vários papéis) quase roubam a cena. Titina Medeiros emociona a plateia com a enlouquecida Ofélia.

Destaque também para o timing fantástico, quase acrobático das passagens e mudanças de cena. Outra força de um espetáculo recém- estreado, com apenas um punhado de apresentações.

A parte da metalinguagem, uma homenagem do texto as "armadlilhas do teatro" funciona muitíssimo bem – misturando teatro de bonecos e circo.

Para não dizer que tudo foi uma maravilha, a cena de abertura com as mascaras de carnaval de rua ficou mais com cara de piada interna do que qualquer outra coisa. E talvez o teatro do Bom Jesus não tenha sido a melhor escolha, pois nas primeiras filas você não consegue ver o chão do palco, algo que compromete algumas cenas.

Mas isto é de "menos". No mais, os clowns já tinham causado impressão fulgurante em 2011, quando abriram o festival com o cordélico Sua Inselença, Ricardo III, mostraram ontem outra face, mais madura e inteligente. Ao fim da expressa hora e meia de peça, ficam as certezas de que este Hamlet será um dos destaques do festival e que será uma das mais importantes do ano no país.

Poucas vezes a vocação do público de Curitiba (que já foi tomado como antena crítica do país em outros tempos) para aplaudir em pé todo e qualquer espetáculo foi tão justificada. Nesta noite de sábado, quem puder como comprar o ingresso ou tiver acesso a cortesias, não pode vacilar. Ou perde a chance de real de ver teatro "cinco estrelas" neste festival.

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