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Nelson Rodrigues é conhecido como o "anjo pornográfico". Sua última peça, A Serpente, tem argumentos de sobra para justificar o apelido. Foi escrita em meados de 1979, pouco antes da morte do escritor, em dezembro de 1980. Sua saúde estava crítica quando o texto foi concebido, muitas vezes nas camas de hospitais, entre um procedimento cirúrgico e outro. O resultado é uma obra enxuta e intensa, a única peça de um ato de Rodrigues, que narra a relação entre duas mulheres apaixonadas pelo mesmo homem.

O espetáculo estréia hoje, às 20h30, no Teatro HSBC. Amanhã, às 18 e 20h30, a peça será apresentada no mesmo local. A direção é de Yara de Novaes, que já havia incursionado na obra de Rodrigues ao dirigir Senhora dos Afogados, em 1997. "Esse é o texto mais curto, de um ato apenas, e nele Nelson consegue, com extrema concisão, potencializar suas principais características na estutura dramática, no tema e nos personagens. Há muito tempo namorava esse texto, primeiramente como atriz, depois como diretora", afirma Novaes. A global Débora Falabella, que foi dirigida por Novaes em Noites Brancas ( da obra de Dostoiévski), e Mônica Ribeiro interpretam, respectivamente, as irmãs Lígia e Guida. A relação tensa e ambígua entre as duas mulheres é o núcleo da trama.

As irmãs casam no mesmo dia e dividem o mesmo apartamento com seus respectivos maridos, Décio (Paulo Madeira) e Paulo (Alexandre Cioletti). Depois de um ano, Guida vive um casamento bem resolvido nutrido por uma vida sexual intensa enquanto Lígia é praticamente virgem. Esta cogita o suicídio e expulsa o marido de casa. É quando Guida oferece uma noite com o seu próprio companheiro para a irmã. "Guida é muito feliz até que cede o marido. A partir desse instante, sentimentos como ciúme, raiva e loucura vem à tona e ela sofre uma grande transformação", afirma Débora Falabella, pela primeira vez interpretando uma personagem de Rodrigues. No subtexto da estranha situação familiar, emerge o relacionamento incestuoso entre as duas irmãs, mediado pela presença masculina.

A pesquisa dos atores partiu do improviso, centrada nos ímpetos naturais e instintivos dos personagens, evitando a "psicologização". "A psicologia tem que estar presente na cabeça do espectador, não em cena, até porque os motivos são evidentes", afirma Novaes.

A diretora conta que buscou dar um sotaque ao texto, com uma abordagem contemporânea e respeitosa com relação às concepções do autor. O tratamento cenográfico oscila entre o realismo e o abstrato, incorporando o uso de de algumas mídias. O estilo tem origem na Companhia de Teatro Odeon, no Rio de Janiero, fundada em 1999 e da qual Novaes faz parte. "Quando se escolhe montar Nelson Rodrigues, é pelo entendimento que ele tem dos artistas e do público por um viés muito brasileiro, não apenas como ele aborda esses temas, mas como ele entende o teatro. Ao mesmo tempo que respeitamos Rodrigues, não quisemos perder de vista o nosso tempo, o hoje", conta a diretora.

A Serpente tem cenário e figurino assinados por André Cortez, iluminação de Telma Fernandes, trilha sonora de Morris Piccioto e direção de produção de Gabriel Fontes Paiva.

Serviço: Peça A Serpente, de Nelson Rodrigues. Teatro HSBC (R. Luiz Xavier, 11), (41) 3232-7177. Hoje, às 20h30. Amanhã, às 18h e 20h30. R$30 (R$15 estudantes e clientes HSBC).

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