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Livro

AC/DC – A BiografiaMick Wall. Tradução de Marcelo Barbão. Globo Livros, 456 págs., R$ 49.

Depoimento

"Só ali percebi que eles eram humanos"

Marcelus dos Santos, vocalista da banda Motorocker

"Quando eu soube que o AC/DC iria tocar em Curitiba, meu coração quase saiu pela boca. Guardo até hoje o flyer de divulgação do show, altamente distribuído pela cidade entre setembro e outubro de 1996. Nele, coisas escritas como: ‘168 toneladas de equipamentos, cenários gigantescos e efeitos especiais poucas vezes vistos no Brasil’, só aumentavam a minha ansiedade e a de todos os meus amigos. O telão jumbotron, que era o maior fabricado para shows na época, também iria estar lá. Pensei: ‘O troço vai ser maior do que eu imagino!’ E realmente foi. Mas se só a banda estivesse naquele palco, já valeria mais que o ingresso. A performance foi impecável, e Phil Rudd, que havia voltado a pouco tempo para a banda, fez uma diferença muito positiva no contexto geral do som do AC/DC original. Lembro de eles terem se perdido numa parte da ‘Let There Be Rock’. Só ali percebi que eles eram humanos.

Foi o melhor show que já vi na vida. Na época, eu tinha uma banda tributo ao AC/DC. Através de um plano estratégico e com a ajuda de amigos, consegui até conhecer Angus e Malcolm Young e ainda entregar o meu material na época. Mas isso é outra história."

  • A formação original do AC/DC, ainda com Bon Scott (à dir.)

Na semana passada, um boato sobre o possível fim do AC/DC assustou seus muitos milhões de fãs pelo mundo inteiro. Surgido em uma rádio australiana, dava conta de que a banda penduraria as guitarras em função de uma doença grave que acomete o guitarrista (e efetivamente o líder do grupo) Malcom Young.

Show da banda em Curitiba foi histórico para fãs

A banda se apressou em esclarecer o caso, anunciando em seu site que: "após 40 anos de vida dedicados ao AC/DC, o guitarrista e membro fundador Malcolm Young vai dar um tempo do grupo devido a um problema de saúde. Malcolm gostaria de agradecer às ferrenhas legiões de fãs pelo mundo por seu amor sem fim e apoio. Por conta disso, o AC/DC pede que Malcolm e a privacidade de sua família sejam respeitados durante esse tempo. A banda vai continuar a fazer música."

Ainda não veio o crepúsculo da superbanda que no ano de 2013 superou os Beatles como o catálogo mais vendido (contando coletâneas e regravações) dos Estados Unidos. Com um afortunado timing, na mesma semana a Globo Livros lançou o livro AC/DC – A Biografia, do jornalista britânico Mick Wall.

Especializado em hard rock, Wall também escreveu biografias das bandas Metallica, Black Sabbath e Led Zeppelin. No livro que agora chega ao Brasil, admite que fazia parte desta cena musical e conta, inclusive, que era normal jornalistas descolarem drogas para conseguir entrevistas com bandas no final dos anos 1970, como ele mesmo fez com o Sabbath e o UFO.

Wall escreve bem e não fez uma biografia para agradar aos fãs. Ele, que foi amigo do falecido vocalista Bon Scott (1946-1980), despreza o atual frontman Brian Johnson e acha que o grupo deveria ter acabado nos anos 1980. Quem conhecer a banda a partir desta biografia vai achar que Scott era o grande artista e a alma do AC/DC.

O jornalista também pega pesado com os irmãos Young, Malcom e Angus, taxados como autoritários e arrogantes, ainda que os respeite como os músicos infernais que são. O livro, no entanto, tem o mérito de ser, talvez, a melhor pesquisa sobre a banda feita até agora.

Capítulos

A narrativa começa com a família Young – os pais e os oito filhos – imigrando da Escócia para a Austrália num programa chamado Viagem por Dez Libras. Mostra a infância e adolescência hooligan dos meninos que foi salva pelo irmão mais velho, George Young, uma celebridade australiana como guitarrista da banda Easybeats e depois produtor e mentor de todo o som, do conceito e da disciplina de clã que levou o AC/DC ao estrelato mundial.

O capítulo mais interessante, no entanto, é o que remonta os últimos momentos da vida de Bon Scott e contesta a versão oficial sobre a sua morte. Até hoje se diz que Scott morreu em decorrência de um coma alcoólico, dentro do carro de um músico medíocre que ele acabara de conhecer dentro da casa de sua traficante e ex-namorada. Wall "prova" que Scott usou heroína em sua última noite e reescreve um dos episódios mais desconcertantes da história do rock-and-roll.

Show da banda em Curitiba foi histórico para fãs

O AC/DC é, sem medo de errar, uma das bandas mais queridas pelos roqueiros curitibanos. O show dos australianos na capital paranaense, em outubro de 1996, é lembrado até hoje como um dos maiores eventos musicais já realizados na cidade. (Leia nesta página o depoimento do músico Marcelus dos Santos sobre a apresentação.)

O grupo, que havia conquistado o Brasil 11 anos antes, em sua bombástica aparição no Rock in Rio, em 1985, veio a Curitiba já com status de uma das maiores bandas do planeta, trazendo a turnê do álbum Ballbreaker (1995).

Angus, Malcom, Brian Johnson e seus parceiros superlotaram a Pedreira Paulo Leminski em um show superproduzido e cheio de efeitos especiais. Quem os apresentou ao público, em um telão, foi a dupla Beavis e Butt-Head, estrelas da MTV da época.

No palco, os riffs e solos poderosos que são a marca da banda. E mais pirotecnia, como relâmpagos, "sinos do inferno" e um muro que foi destruído pela bola de demolição presa a um guindaste que dava título à turnê.

Um espetáculo que não sai da cabeça do fã Luiz Moro: "Tinha 18 anos na época. Naquele dia, saí do trabalho mais cedo e fui para a Pedreira por volta das 14 horas. Quando abriram os portões, fomos os primeiros a entrar, escolhemos um lugar bacana, perto do palco e do bar e o resto da história todos os que foram conhecem. Duas horas de muito rock-and-roll e algumas fotos no Aeroporto Afonso Pena. Foi o melhor show de todos os tempos em Curitiba", relembra.

A banda tocou seus principais hits, como "Dirty Deeds Done Dirt Cheap", "You Shook Me All Night Long" e "Whole Lotta Rosie". No bis, Angus entrou com um boné de chifres para tocar a diabólica "Highway to Hell" e a banda se despediu com o hino, "For Those About to Rock (We Salute You)", finalizada com tiros tonitruantes de canhão que parecem ecoar até hoje do Pilarzinho para toda a cidade.

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