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O regente e professor Osvaldo Colarusso, em seu estúdio com cerca de três mil partituras: o Brasil precisa mais de maestros com visão didática do que de estrelas da regência | Priscila Forone/Gazeta do Povo
O regente e professor Osvaldo Colarusso, em seu estúdio com cerca de três mil partituras: o Brasil precisa mais de maestros com visão didática do que de estrelas da regência| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Rádio

Confira os programas apresentados pelo maestro Osvaldo Colarusso na Rádio Educativa do Paraná (97,1 FM)

Domingo – 12h e 21h

O Maestro Explica

Colarusso escolhe tópicos de música para apresentar em detalhes. Hoje, às 12 horas, o tema é a Quinta Sinfonia de Beethoven, e, às 21 horas, o Pas de Deux, utilizado no balé.

Terça – 20h

Os Grandes Ciclos da História da Música

O programa trata de ciclos completos de grandes compositores. No dia 5, será apresentada a primeira parte dos poemas sinfônicos de Franz Liszt.

Sexta – 20h

Falando de Música

O maestro fala de novas gravações de música erudita. No dia 8, o tema é o bicentenário do nascimento de Liszt.

Inserções

Romeu e Julieta

A coordenadora da E-Parana, Adriana Sydor, e Colarusso escolhem uma música popular e uma erudita que têm relação entre si.

Entre uma parede inteira de livros e o piano, o maestro Osvaldo Colarusso move as cadeiras de lugar e sugere os melhores pontos em sua sala para ser fotografado. O paulista radicado em Curitiba se porta com receptividade e desenvoltura de comunicador. Não é por menos: além de reger, como convidado, algumas das grandes orquestras do país, Colarusso produz e apresenta programas de música erudita na Rádio Educativa do Paraná [leia quadro ao lado] desde que deixou a regência da Orquestra Sinfônica (OSP), em 1998. Começou no programa A Música de Hoje É, em que explicava e colocava para tocar um clássico por dia, das 13 às 13h30. "Com esse programa, eu percebi que falar para o público era uma coisa muito boa", diz.

Quando, quase por reflexo, Colarusso retira um de seus livros de artes visuais da estante e fala sobre relações entre a pintura abstrata de Kandinsky e a música atonal de Schönberg, sua vocação fica mais clara. A didática do maestro tem história, e não apenas porque também é professor. Explicar os concertos faz parte de sua atuação como regente, influenciada por um de seus professores, o maestro Eleazar de Carvalho (1912-1996) – de acordo com Colarusso, um excelente comunicador. "Aprendi muito nos concertos em que ele falava quando eu era garoto e, posteriormente, quando comecei a estudar música com ele. Ele tinha um talento para comunicador, que foi uma coisa que me norteou", diz. "Em todos os meus concertos, e as orquestas já sabem disso, eu comento e faço o público se aproximar mais da obra."

Nos ouvidos da rua

A aproximação é uma constante nos objetivos artísticos de Colarusso, seja no rádio ou nos concertos. Ele quer encurtar a distância entre os ouvintes de música popular da erudita, e vice-versa. Quer fazer perceber a relação do jazz com Debussy, e entre os homens do sertão de Guimarães Rosa e da Bachianas Brasileiras n.º4 de Villa-Lobos. Sobretudo, quer trazer as orquestras e os maestros para mais perto do público. "Uma orquestra é como um museu. Permite que as pessoas tenham acesso a uma arte verdadeira. No caso de um país com um problema de educação tão sério como o Brasil, é um instrumento social impressionantemente importante", diz. Para isso, as orquestras deveriam sair mais dos teatros para fazer concertos ao ar livre, por exemplo.

De acordo com Colarusso, nesse processo pedagógico, os regentes são curadores. Eles devem compreender o que a comunidade deve ouvir, selecionar obras variadas e incluir o repertório brasileiro para fornecer uma visão completa da música erudita para o público – para o maestro, um instrumento de compreensão histórica. "A im­­portância de um maestro ou uma orquestra é maior aqui do que num país de primeiro mundo", afirma Colarusso, que se diz decepcionado com regentes brasileiros "sem visão social" em suas atuações. "O Brasil está precisando de maestros que tenham visão didática, mais do que de grandes estrelas da regência."

Causas

Quando críticas vêm à tona, é natural que Colarusso fale sobre a crise na Orquestra Sinfônica Brasileira – em sua opinião, um episódio que contribui para a antipatia em relação à música erudita no Brasil. Por solidariedade a amigos músicos que foram demitidos e por considerar injustas as ações dos gestores da orquestra, o maestro abraçou a causa. "Estou num ponto da minha vida em que não tenho medo de nada. Estou com 53 anos de idade, já regi mais de 500 concertos, e não vou sofrer se não reger algum concerto de alguma orquestra dirigida por essas pessoas", diz. O maestro conduziu, em 30 de abril, um concerto de protesto dos músicos demitidos. "Se alguma vez na minha vida eu não tive certeza de que era uma pessoa útil, sei que nesse dia eu fui", diz, ao lembrar que se virou para a plateia para reger o "Hino Nacional".

Esse é o principal projeto de Colarusso: ser útil. É o que diz sentir quando percebe que está fazendo diferença na vida musical da cidade e da Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina (UEL) – seu principal trabalho de regência atual. Ou quando prepara o material que apresentará no rádio. "Meu objetivo sempre é alertar as pessoas de que o conhecimento pode melhorar muito a vida delas", explica o maestro, que diz ter, hoje, objetivos mais concretos em relação à satisfação pessoal do que à carreira, ao contrário de cerca de dez anos atrás.

"Eu não tenho filhos, nem religião – apesar de não ser desprovido de espiritualismo. Acho que o que posso garantir para mim é fazer alguma coisa útil para quem quer que seja. Preencho minha vida com coisas úteis", diz. "Quero passar as coisas para frente."

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