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Música

Um mercado de ouvintes a conquistar

Chegada do Spotify ao Brasil aumenta as expectativas de popularização dos serviços de streaming de música no país

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As amigas Priscila Guimarães (à esq.), Sheila Salvador e Juliana Marchioro: por enquanto, nada de pagar para ouvir música |

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As amigas Priscila Guimarães (à esq.), Sheila Salvador e Juliana Marchioro: por enquanto, nada de pagar para ouvir música

Gilberto Gil é um dos

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Gilberto Gil é um dos

Depois da chegada do Rdio, no fim de 2011, e do Deezer, em 2013, o mercado brasileiro de streaming de música está de olho na chegada efetiva do Spotify – por enquanto, disponível apenas para usuários cadastrados que receberam um convite do serviço a partir de abril. A empresa sueca é líder mundial neste mercado e costuma chegar fazendo barulho convocando artistas expressivos para referendá-la, como faz com Gilberto Gil por aqui (o medalhão é um dos "embaixadores" do serviço e tem sua discografia completa disponível no catálogo).

A expectativa é que a movimentação ajude a popularizar o streaming no país, conforme explica o diretor-geral do Deezer para a América Latina, Mathieu Le Roux.

"Vejo muito positivamente. Lógico, vamos trabalhar para ficar na frente. Mas acho que a imensa maioria que precisamos convencer não é a que usa um serviço diferente, e sim a que nunca ouviu falar [no modelo de streaming]", diz o executivo, por telefone.

Popularizar um modelo pago como esse no Brasil, no entanto, não é simples, conforme explica Simone Pereira de Sá, professora da Universidade Federal Fluminense, onde coordena o Laboratório de Pesquisa em Culturas Urbanas e Tecnologias. Para a pesquisadora, os serviços de streaming, além de terem de contornar a baixa qualidade das redes no Brasil, enfrentarão uma resistência que já é cultural.

"O público brasileiro não tem o habito de pagar por música na internet. O mercado é enorme, mas não se sabe se isso vai mudar", explica. "As plataformas demoraram a chegar e descobrimos outras formas de ouvir", diz, citando exemplos como o YouTube, que, no fim das contas, se tornou o maior distribuidor de música por streaming.

Compartilham dessa resistência a jornalista Priscila Guimarães, 34, a designer gráfica Juliana Marchioro, 27, e Sheila Salvador, 28, formada em marketing. Elas trabalham no setor de projetos e marketing do Pequeno Cotolengo Paranaense, onde usam diariamente, há mais de um ano, o Superplayer – um serviço grátis que oferece estações temáticas. Pagar por um serviço, por enquanto, não faz parte dos planos. Mas a presença de anúncios e a falta de recomendações musicais personalizadas já incomodam, conforme explica Priscila. "Seria bom que o Superplayer fizesse isso, como faz o Google", diz, se referindo a sistemas inteligentes, que aprendem o gosto musical dos usuários.

A oferta de facilidades é a aposta das companhias de streaming, conforme explica Le Roux, do Deezer. "A gente tenta enfrentar esse costume [de não pagar] oferecendo uma experiência bem melhor do que a pirataria", diz. "É um sistema que te inicia e não tem mais volta."

Plataformas apontam para cenário mais plural

Uma das peças fundamentais para a estratégia dos serviços de streaming é a recomendação. Por meio de sistemas inteligentes, alimentados por dados dos próprios usuários, os softwares fazem indicações personalizadas para o ouvinte. A ideia é que estes sistemas se desenvolvam a ponto de fazer recomendações cada vez mais certeiras, do ponto de vista do usuário. E que sejam ferramentas para a indústria da música reunir dados valiosos e identificar tendências e artistas emergentes – cenário onde a chegada dos gigantes Apple e Google, que anunciaram seus próprios projetos no fim do ano passado, chama a atenção.

Para a pesquisadora Simone Pereira de Sá, o fortalecimento dos sistemas de recomendação é um movimento sem volta. "É um sistema baseado em afinidades, na captação das redes sociais. O que as plataformas têm feito é conseguir algoritmos que traduzam essas afinidades. Vemos cada vez mais a força desde tipo de informação", diz.

De acordo com Simone, estas ferramentas permitem uma relação mais personalizada com o que se ouve, o que provoca mudanças no mundo da música, mas não substituem o sistema antigo por completo. "Por um lado, temos o consumo de nicho. Por outro lado, continuamos a ter os grandes hits. Há espaço tanto para as coisas mais populares como para uma certa curadoria de mediadores interessados em mostrar coisas novas. Sem dúvidas, acho que o mercado ficou mais plural", diz.

Colaborou Lucas de Vitta.

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