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Beyoncé, uma das atrações do Rock in Rio: sem crise | Divulgação
Beyoncé, uma das atrações do Rock in Rio: sem crise| Foto: Divulgação

Com promessas de turnês milionárias e de festivais grandiloquentes, previu-se um ano de fartura no mercado de entretenimento musical. A vinda de bandas como The Cure, New Order e The Who (ainda não confirmada), o gigantismo do Lollapalooza e as ousadias do Popload Gig se somariam à tradição do Rock in Rio num 2013 de muito crescimento. Mas uma série de decepções recentes quebrou a euforia, contradizendo as expectativas. O clima de desconfiança provocado pelo cancelamento do SWU em 2012, além da dificuldade de divas como Madonna e Lady Gaga venderem uma cota desejável de ingressos, também no ano passado, intensificou-se com o anúncio, há duas semanas de que o festival alternativo espanhol Sónar desistiria das apresentações programadas para os dias 24 e 25 de maio, em São Paulo. Ao alegar uma "instabilidade no mercado de entretenimento", a produção do evento — que traria nomes como os Pet Shop Boys e Jamie Lidell — gerou boatos sobre um suposto desaquecimento no setor. Entre a euforia propagada nos últimos anos e o prenúncio de uma crise iminente, qual seria o estado real do ramo de eventos no Brasil?

"O que está acontecendo é um simples ajuste à realidade. Houve um crescimento acelerado demais, que gerou expectativas muito ambiciosas", opina Roberta Medina, produtora do Rock in Rio.

Segundo a empresária, as marcas ficaram mais cautelosas, já que o retorno não foi o esperado. Não haveria, contudo, nenhum sinal de crise no horizonte. O próprio Rock in Rio, informa Roberta, aumentou em 30% sua arrecadação de patrocínios nos últimos dois anos.

"O mercado é grande e pode crescer ainda mais se bandas e artistas se adequarem a valores mais realistas. Entre 2001 e 2011, o custo médio de um ingresso cresceu de R$ 35 para R$ 190. Esperava-se que o brasileiro estivesse disposto a pagar R$ 600 por um festival, mas agora se vê que essa não é nossa realidade."

Para Paulo André Pires, do Abril Pro Rock, não há desaquecimento: a situação está igual aos anos anteriores, e a falta de patrocínio não deveria justificar um cancelamento. Dificuldade em captar recursos, diz ele, sempre existiu. "Se a ‘instabilidade no mercado’ citada pelo Sónar realmente significar ‘perda de patrocínio’, eu discordo dessa postura", afirma o produtor pernambucano, que este ano fará o evento em Recife em apenas dois dias, em vez dos tradicionais três, com atrações estrangeiras como os grupos americano Television e Dead Kennedys. "É mais digno você ter um plano A, B e C. Faz menor, mas faz. É preciso ter compromisso com a cidade, com o público e, acima de tudo, com a música. Tem produtor que vê o festival apenas como uma oportunidade de ganhar dinheiro."

Excessos

Muitos produtores independentes culpam o gigantismo e a ambição desmedida dos eventos, defendendo uma política de pé no chão e festivais autossustentáveis. Mas, para Vinícius Lemos, vice-presidente da Festivais Brasileiros Associados (FBA), hoje é impossível para qualquer evento, seja ele mainstream ou independente, sobreviver sem patrocínio. "A lógica vale para os maiores e para os menores", argumenta. "A diferença é que os festivais grandes têm somas maiores e negociações mais complexas. Consequentemente, quando há uma perda, esta também é maior. Na cena independente, nós nos viabilizamos com a junção de ingressos, patrocínio e permutas. Mas a instabilidade é algo natural no ramo de eventos. Todos passam por isso."

Lemos acredita que o excesso de festivais seja um dos principais responsáveis pelos recentes casos de cancelamento. Não por acaso, já circulam boatos de que o festival Planeta Terra, em São Paulo, possa ser extinto em função da concorrência com o Lollapalooza.

"É muita novidade e briga por um mesmo mercado. Não vejo crise, mas um reposicionamento. A organização do Lolla, com o seu know-how gringo de 20 anos, impactou o ramo e trouxe dificuldades para os demais, até para o Rock in Rio, que vai repetir um monte de atrações. Isso gera, a médio prazo, uma falta de novidades e expectativas. Quando uma espécie de evento se torna lugar-comum, é natural que isso leve a um desinteresse do público e dos patrocinadores."

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