Um mestre de sua arte

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O Festival de Nova Iorque – que acontece de 28 de setembro a 14 de outubro – divulgou detalhes da homenagem que prestará a Joaquim Pedro de Andrade, um dos diretores mais importantes do Cinema Novo e do cinema brasileiro como um todo.

Alice Andrade, filha do cineasta, informa por e-mail de Paris, que seus irmãos Maria e Antonio acompanharão o evento em Nova Iorque. "Talvez eu não possa ir, pois deverei estar em Madri seguindo outra mostra dedicada a ele, a da Filmoteca Espanhola/Casa de las Américas", complementa. Para Alice, a obra de Joaquim Pedro é ainda pouco conhecida no Brasil e no exterior. "Ele era um artista muito lúcido e profundamente coerente na evolução do seu trabalho, mas seus filmes foram pouco vistos", afirma.

A retrospectiva conterá as principais obras que Joaquim Pedro realizou ao longo de sua carreira, composta de seis longas, um média e sete curtas. O primeiro deles O Mestre do Apicucos e O Poeta do Castelo (1959) – que depois passaram a ser exibidos separadamente – mostra dois grandes escritores brasileiros, o sociólogo Gilberto Freyre e o poeta Manuel Bandeira, em meio às atividades da rotina diária.

Não podia faltar o já clássico Couro de Gato (1960), que articula documentário e ficção retratando meninos da favela na época do carnaval. Na seqüência, será mostrado o média-metragem Brasília, Contradições de uma Cidade Nova, realizado em 1967 com financiamento da Olivetti, com fortes críticas ao desenvolvimento da capital do país.

Outro curta a ser exibido é o pouco conhecido Linguagem de Persuasão, realizado para o Senac em 1970, versando sobre aperfeiçoamento profissional. Por fim, o ótimo Aleijadinho, que Andrade realizou em 1978, retomando os passos do início de sua carreira, quando participou, em Congonhas do Campo, da equipe de restauração dos Passos da Paixão, do mestre mineiro.

A mostra de longas é liderada por aquele que é considerado sua obra-prima, o lírico e arrasador O Padre e a Moça (1965), baseado num poema de Carlos Drummond de Andrade, com Helena Ignez e um ótimo Paulo José estreando no cinema; e o cultuado Macunaíma (1969, lançado este ano em DVD pela Videofilmes, em edição especial remasterizada), uma adaptação de uma obra chave do modernismo brasileiro escrita por Mario de Andrade: um filme inovador, atual, reunindo uma profusão de gêneros e referências. Como definiu numa entrevista o próprio Joaquim Pedro a respeito de seu filme: "Assim como Macunaíma é o herói sem caráter, sua história nas telas é um filme sem estilo".

Na mostra de longas constam ainda Garrincha, Alegria do Povo (1963), Os Inconfidentes (1972), Guerra Conjugal (1975) – adaptação de vários contos de Dalton Trevisan, com seu humor extremamente mordaz – e O Homem do Pau Brasil, seu último filme, realizado em 1981.

O cultuado cineasta – que em boa hora será objeto dessa homenagem – morreu precocemente em 1988, aos 56 anos. Como define o release distribuído pelo festival, foi um mestre no exercício de sua arte.