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Rodrigo Bozan atua em Oxigênio | Elenize Dezgeniski
Rodrigo Bozan atua em Oxigênio| Foto: Elenize Dezgeniski

Ainda antes do sucesso do espetáculo Vida, o diretor Márcio Abreu se deparou com um texto impressionante de um dramaturgo russo inédito no Brasil, enquanto percorria a prateleira da editora Les Solitaires Intempestifs, de Jean-Luc Lagarce, numa livraria parisiense.

O livro continha duas pe­­ças de Ivan Viripaev: Rève e Oxygen (Sonho e Oxigênio, respectivamente). Abreu leu cenas da primeira – todas, descrições de so­­nhos – e só largou a segunda quando chegou ao fim.

Radicalmente narrativa, Oxi­­gênio tinha tanto a ver com as in­­quietações que movem a Cia. Brasileira de Teatro, que eles in­­vestiram na tradução do texto do russo e do francês e, passados os principais compromissos com Vida (reconhecida pelo prêmio Bravo! e indicada ao Gralha Azul), estreiam o novo espetáculo hoje às 19h30, na sede do grupo, no Largo da Ordem.

Basicamente, um homem e uma mu­­lher contam a história de um casal. Deles mesmos? Não se sabe. "A história acaba sendo pretexto para rever o lugar do teatro e como se estabelece a presença diante do público", diz Abreu.

Os protagonistas da narrativa são Sacha (ele) e Sacha (ela), um russo interiorano e uma moscovita tomados por um amor louco que o levará a esquartejar a golpes de pá a esposa traída, enquanto a amante se torna cúmplice. Como Viripaev não oferece personagens delineados, cabe aos atores Pa­­trícia Kamis e Rodrigo Bozan mais sugerir do que representar. "No fundo, eles são aquilo do que se fala", sintetiza o diretor.

Os narradores polemizam so­­bre temas que, na visão de Abreu, definem a geração nascida nos anos70: o avanço do consumismo, o fanatismo religioso e o terrorismo. Também as relações amorosas e questionamentos existenciais. "Viripaev coloca posicionamentos politicamente incorretos, tem uma postura iconoclasta, tripudia – mas não só por tripudiar. Pega elementos fundamentais da tríade cristianismo, judaísmo e islamismo e tritura."

Os assuntos se sucedem sem obedecer à organização mental racional. É a lógica do caos. Cada cena parte de uma menção ao Sermão da Montanha, que detona novas questões éticas. O oxigênio surge em metáforas e imagens va­­riadas. Uma delas iguala o objetivo do bombeiro e do piloto do avião terrorista: ambos "procuram oxigênio entre as injustiças que governam o mundo".

Sem rubricas, a peça não indica nada sobre como deve ser o cenário ou figurino (criado por Ranieri González). O trabalho de invenção, assim, fica maior e mais livre. Márcio Abreu interpretou a obra como uma peça-concerto, a partir dos elementos da cultura pop e underground que identificou.

Bateria, baixo, guitarra e mi­­crofone se tornaram os principais objetos em cena. O músico Gabriel Schwartz criou a trilha sonora e a interpreta ao vivo (Vadeco reveza com ele). Chegou-se a pensar em am­­bientar o espetáculo num bar, como o Jokers, mas a companhia preferiu a concentração de um espaço menor. A sala ampla com janelas para o Largo da Ordem foi fechada e revestida de preto, ganhou palco e rampa. Um cenário de show que comporta desfile de moda, onde os atores (e a plateia) se perguntam: "Como eu vivo a minha vida?"

Serviço:

Oxigênio. Sede da Cia. Brasileira de Teatro (R. José Bonifácio, 135 – sala 1 – Lgo. da Ordem), (41) 3323-7996. Dia 2 às 19h30, dias 3 e 4 às 22h e 23h59. Dia 5 às 18 e 21h. A partir de 8 de dezembro: 4ª e 5ª às 20h; 6ª e sáb. às 20h e 23h59; dom., às 18h e 21h. R$15 e R$7,50 (meia). *Ingressos somente com reserva antecipada por telefone. Até 19 de dezembro.

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