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Sandrini e Venturelli: escritores de gerações diferentes afirmam que Curitiba tem autores de qualidade inquestionável, mas falta diálogo e fomento | Fotos: Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Sandrini e Venturelli: escritores de gerações diferentes afirmam que Curitiba tem autores de qualidade inquestionável, mas falta diálogo e fomento| Foto: Fotos: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

A prosa dos Paulos - Saiba mais sobre os escritores Paulo Venturelli e Paulo Sandrini

Paulo Venturelli (foto 1) já publicou 17 livros, entre os quais Composições para Meus Amigos, Fantasmas de Caligem e A Morte, mas tem duas dezenas de obras inéditas, de todos os gêneros: romance, conto, prosa poética, poesia etc.

Paulo Sandrini (foto 2) é autor de quatro livros, o mais conhecido é O Estranho Hábito de Dormir em Pé, e, a exemplo de Venturelli, também tem inéditos.

Venturelli é professor na UFPR. Sandrini faz doutorado na mesma instituição.

Sandrini aponta para as vantagens de um autor estar, neste momento, em Curitiba. "Aqui, diferentemente de São Paulo e Rio de Janeiro, há muito ainda para ser feito. Podemos inventar novas possibilidades e estratégias", diz o paulista de Vera Cruz, que viveu durante mais de uma década em Bauru e desde o início do século 21 mora em Curitiba.

Venturelli, catarinense de Brusque, veio para Curitiba na década de 1970 porque imaginava que aqui poderia construir uma trajetória literária. Jamais deixou de escrever.

Os dois Paulos sugerem que os curitibanos deveriam seguir o exemplo de gaúchos, mineiros e pernambucanos. "Os autores deveriam se ajudar, mutuamente, para formar uma cena com mais força", dizem os escritores.

A literatura curitibana vai bem, mas poderia estar ainda melhor. A avaliação é feita por Paulo Venturelli, 59 anos, e Paulo Sandrini, 39. Os dois têm muito mais do que apenas o primeiro nome em comum. Ambos são leitores, nasceram em outras cidades e fixaram residência em Curitiba, têm um pé dentro da academia e o outro na ficção.

Venturelli já poderia estar aposentado, mas segue a lecionar na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele diz encontrar na sala de aula oportunidades para a interlocução. Sandrini está à frente de cursos de criação literária em Faróis do Saber e Bibliotecas da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e, desde 2007, interagiu com dezenas de interessados no processo de escrita criativa. Venturelli e Sandrini di­­zem, a partir da experiência como professores, que há muitos leitores curiosos em Curitiba.

Sandrini chama a atenção para o fato de Curitiba já ter estabelecido uma tradição de literatura experimental. Jamil Snege, Valêncio Xa­­vier, Manoel Carlos Karam e Wilson Bueno escreveram obras pouco convencionais, aparentemente "difíceis", mas que costumam cair no gosto dos alunos. "Apresento os livros desses autores e os alunos ficam surpresos pelo fato de eles (alunos) não conhecerem anteriormente a literatura de um Karam ou de um Snege", diz Sandrini.

As oficinas de criação, conta Sandrini, acabam preenchendo uma outra lacuna: a falta de espaço para o diálogo. Ele acredita que teriam de ser realizados mais debates, seja para colocar os autores locais em evidência, como para formar público e promover o confronto de ideias. O escritor diz que esses encontros deveriam ser patrocinados pelo poder público, mas também pela iniciativa privada.

Venturelli observa que o poder público não investe, de fato, no trabalho intelectual. "O Paraná parece movido pelo seguinte slogan: ‘Aqui se trabalha’. Mas isso é muito pouco. O slogan deveria ser o se­­guinte: ‘Aqui se pensa’".

A argumentação do catarinense radicado, desde 1974, em Curitiba aponta para uma questão muito séria: política e cultura (e literatura) estão interligadas. "O Paraná não tem expressão nacional, no que diz respeito à política porque não fo­­menta a cultura", afirma, referindo-se ao fato recente, no qual o senador paranaense Alvaro Dias não conseguiu se manter como vice na chapa de José Serra na disputa pela presidência da República.

"Tudo está interligado. Mas enquanto o governo não investir em cultura, de maneira geral, ampla e permanente, continuaremos sendo inexpressivos em âmbito nacional", diz Venturelli.

Os escritores sabem que, en­­quanto o governo permanece inoperante, o negócio é encontrar alternativas. Sandrini criou a Kafka Edições, que já publicou cinco títulos, e deve viabilizar outros cinco em 2010. A meta, para 2011, é editar obras de autores locais e disponibilizar gratuitamente toda a tiragem, mesmo porque as edições são viabilizadas com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba.

Venturelli, autor de 17 títulos, nunca quis ganhar dinheiro com a literatura, apenas publicar seus livros. E, como sabe que uma andorinha, sozinha, não faz verão, toda vez que é convidado para palestras e mesas de debate, costuma falar dos muitos autores curitibanos, como Luci Collin, Assionara Souza, entre tantos. Não por bairrismo. Mas por ter a convicção de que, em Curitiba, está sendo feita, e já faz tempo, uma literatura de extrema qualidade, refinamento e experimentação.

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