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Um único espetáculo local vai estar na mostra oficial deste ano do Festival de Teatro de Curitiba. O curioso é que a peça curitibana selecionada, Mirandolina, será dirigida por Roberto Innocente, que até um ano atrás não fazia idéia de onde ficava a cidade – e muito menos tinha noção de que se fazia um festival de teatro por aqui. O italiano chegou ao Brasil no ano passado, para dirigir uma ópera no Guairão, La Bohème, sem nem sequer falar português. Fez amigos, conheceu uma brasileira, não resistiu ao charme e pronto. Ainda em 2005, trouxe a mala com as roupas e os livros de teatro.

Nos nove meses que se passaram desde que pisou em terras brasileiras, Innocente mostrou que é antes de tudo um apaixonado por sua profissão. Logo depois de La Bohéme, engatou a sua segunda ópera em Curitiba, La Serva Padrona. Seu conhecimento de Commédia dell’Arte, raro por estas bandas, chamou a atenção: logo ele estava dando uma oficina sobre o assunto para atores da cidade, no Ateliê de Criação Teatral. Em seguida, veio outra oficina. Depois, uma direção no Rio de Janeiro. parece muito? Pois, tudo isso aconteceu em apenas um semestre.

Neste ano, Innocente começou no mesmo ritmo. Está dirigindo duas peças simultaneamente, ambas para o festival. Mirandolina, um texto clássico da Commédia dell’Arte, escrito por Carlo Goldoni, será feita em parceria com a Escola do Ator Cômico. "Descobri que quase não há traduções da peça no Brasil", conta o diretor. "E ele é um clássico, tão importante para o teatro quanto Shakespeare", arrisca, dando uma puxada de brasa para a sardinha de seu conterrâneo.

A outra produção de que ele participa é As Calcinhas de Flor, com os alunos de suas duas oficinas e atores do Ateliê de Criação Teatral, o ACT. O projeto envolve não só a criação da história como a confecção em conjunto de tudo o que é necessário para a representação. Os próprios atores, por exemplo, estão construindo as suas máscaras. E criam o texto. Innocente partiu do que, no jargão da comédia clássica italiana, chama-se canovaccio. "É o resumo da história que será contada, mas sem as falas. Isso são os atores que ajudam a fazer", comenta.

Expert

O principal feito de Innocente em sua primeira temporada na cidade, no entanto, parece ter sido conquistar a confiança e a admiração de seus colegas. "O que mais me impressionou no trabalho dele foi o cuidado com as minúcias", comenta, por exemplo, o maestro da Orquestra Sinfônica do Paraná, Alessandro Sangiorgio, que dividiu com Innocente o trabalho criativo da Bohème e da Serva Padrona. "Ele tem muita clareza do que seja comédia", completa Mauro Zanatta, diretor da Escola do Ator Cômico, que convidou Innocente a dirigir a montagem curitibana de Mirandolina depois de trabalhar com ele como ator em 2005.

Nena Inoue, diretora artística do Guaíra e coordenadora do ACT, diz que os convites que fez a Innocente para dirigir as óperas e depois a peça em seu ateliê surgiram da admiração que causou um teste de elenco feito por ele. "Vi ele trabalhando e pensei que seria um cara importante para mostrar aos nossos jovens algumas formas de trabalho", conta Nena. Para ela, a importância de Innocente está no fato de ele não ser apenas um diretor, ou apenas um ator. "Ele já tem muita estrada. Entende de cenário, de dramaturgia, de luz, de figurino. É um homem de teatro", completa.

Innocente diz que está gostando de poder juntar essa experiência à realidade do Brasil. "As pessoas aqui têm mais vontade de fazer projetos novos. Na Europa, se não tem dinheiro envolvido, é mais difícil conseguir que as pessoas entrem em uma idéia", comenta. Por essas e outras, ele não pretende sair daqui por enquanto. Muito pelo contrário. O casamento marcado para breve não só vai uni-lo de vez à medica brasileira que o manteve por aqui. Também vai dar condições legais para sua permanência no país por quanto tempo quiser.

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