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Gil e Caetano, ligados ao tropicalismo, e Chico Buarque, da MPB: emblemas da rivalidade na música dos anos 60 que seguiriam caminhos particulares | Reprodução/Agência O Globo
Gil e Caetano, ligados ao tropicalismo, e Chico Buarque, da MPB: emblemas da rivalidade na música dos anos 60 que seguiriam caminhos particulares| Foto: Reprodução/Agência O Globo

Jornalista e crítico por mais de uma década e autor de outros quatro livros da área, Hugo Sukman colecionou princípios e sutilezas sobre a história da música popular do Brasil que, reunidos em seu novo trabalho, vão além de apenas mais uma versão do tema. Histórias Paralelas: 50 Anos de Música Brasileira (Casa da Palavra, 2011) propõe uma nova visão para a trajetória entre a revolução da bossa nova, nos anos 50, e o surgimento de compositores como Marcelo Camelo, nos anos 2000.

Em estilo ensaístico e utilizando episódios emblemáticos da autonomia de cada linhagem, Sukman conta a história da música brasileira dos pontos de vista do samba, da MPB, do tropicalismo, do brega, dos regionalismos e da música instrumental.

A abordagem propõe uma mudança de paradigma, de acordo com Sukman, porque difere da "linha evolutiva" sugerida por Caetano Veloso na década de 60, que se tornou predominante. Caetano, que queria atualizar a música jovem brasileira em sintonia com aquilo que acontecia no resto do mundo, criou uma lógica evolutiva para a música brasileira que sai da época de ouro do rádio, passa pela bossa nova e é continuada pelo tropicalismo. "Mas havia momentos de inflexão tão influentes quanto a Tropicália", disse Sukman, por telefone, à Gazeta do Povo. "A linha evolutiva explica o tropicalismo, o rock e o pop brasileiro até o Rock in Rio de 1985. Mas não explica o pagode, o funk, a nova MPB", diz.

Revoluções

Sukman elege, em ensaios independentes, alguns episódios que representam pequenas revoluções dentro de cada linhagem relatada no livro. O disco Elis (1966), de Elis Regina, seria a consolidação da geração de compositores da música popular que sucederia a bossa nova. No capítulo do samba, o encontro de Hermínio Bello de Carvalho com Clementina de Jesus e Paulinho da Viola em 1963 resume a renovação do gênero nesta aproximação das origens mais antigas e de seu modernizador mais sofisticado. O espetáculo Opinião, o disco Nara (1964), de Nara Leão e a apresentação de "Arrastão" por Elis Regina no festival de 1965, marcariam a criação da MPB. E o "não" que Gilberto Gil recebeu ao convidar o Quarteto Novo para acompanhá-lo em "Domingo no Parque", em 1967, marcaria duas linhas distintas – a dos tropicalistas, que queriam seguir a linguagem dos Beatles, e a de Hermeto Pascoal e Airto Moreira, que influenciariam definitivamente a canção brasileira a partir da música instrumental.

"Na visão tropicalista, resgatar um tipo de música esteticamente anterior à bossa nova seria regressista, reacionário, passadista ou conservador. Estou dizendo que há vários pontos de vista paralelos igualmente modernizantes, evoluindo em outra linha", explica Sukman.

"Todas essas linhas são igualmente ricas e importantes, artística e afetivamente. Elas podem conviver na nossa estima, no nosso toca-discos mental. Você não precisa eternamente tratar isso como um embate político e estético. Tem que conviver, mas para conviver tem que entender cada ponto de vista." GGG

Serviço:

Histórias Paralelas: 50 Anos de Música Brasileira, de Hugo Sukman. Casa da Palavra, 264 págs. R$90.

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