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Marília Vargas percorre três séculos de música na Capela Santa Maria | Felipe Lima/Gazeta do Povo
Marília Vargas percorre três séculos de música na Capela Santa Maria| Foto: Felipe Lima/Gazeta do Povo

Quem sabe do reconhecido trabalho da soprano paranaense Marília Vargas na música barroca e clássica pode se surpreender com as duas apresentações que a cantora faz hoje e amanhã, às 20 horas, na Capela Santa Maria – Espaço Cultural (R. Cons. Laurindo, 273), com o tenor Tiago Pinheiro e o instrumentista Guilherme de Camargo (ambos do grupo paulista Novo Ovo Novo, caracterizado por experimentos com a música antiga). Com Tom Jobim e Gilberto Gil no repertório, a cantora está, aos poucos, colocando "um pezinho" na música brasileira moderna.

Mas sem precipitações. Esses compositores modernos surgem no concerto Raízes e Frutos da Canção Brasileira depois de uma longa história. Marília e Camargo, que já haviam gravado juntos o segundo disco da cantora como solista– Tempo Breve Que Passaste (2011) – percorrem, com Pinheiro, a trajetória do gênero a partir dos seus primórdios. Canções como "Eu Namoro uma Menina", de Domingos Schiopetta (1788-1835), e "Landum", de um anônimo do século 19, já haviam sido registradas no trabalho, baseado em modinhas levantadas em pesquisas de manuscritos.

E elas são o ponto de partida dessa trajetória, junto com os maxixes e lundus que definiram algumas características que continuam como alicerces das canções contemporâneas, onde a linha cronológica se encerra. "Claro que não canto Tom Jobim como a Marisa Monte", brinca Marília. "Mas acho que só tenho a crescer e que não atrapalha o resto das coisas que eu faço. É enriquecedor para a carreira, e espero estar podendo fazer isso bem", diz a soprano, que escolheu, com os companheiros, algumas das canções que mais gostava e que se encaixavam na proposta. Entre elas, estão músicas muito conhecidas no imaginário do país, como "Lua Branca", de Chiquinha Gonzaga (1847-1935), e "Quem Sabe?", Carlos Gomes (1836-1896).

"É possível cantar com bom gosto, usando minha proximidade com música barroca e renascentista de forma refinada, pensando na técnica como se eu pensasse em John Dowland [músico inglês do período renascentista]. Não é nada mais que uma canção, que tem uma melodia bonita, e precisa ter um texto muito claro. Preciso colocar na voz a cor do que o texto está dizendo. É dessa maneira que eu penso a música brasileira moderna", explica a cantora.

Suingue

Mas o gênero, no Brasil, tem suas especificidades, conforme explica Guilherme de Camargo, responsável pelas cordas dedilhadas do concerto – ele toca viola portuguesa (a viola de arame) e violão. "A primeira coisa que a gente percebe, mesmo em músicas mais antigas, é a presença da síncope. É justamente o que dá a característica do suingue brasileiro que vai se desenvolver no samba e no choro", diz o músico.

"Nenhum musicólogo foi capaz até hoje de traçar uma definição clara quanto à origem [da música brasileira], mas a grande riqueza é justamente ter importado misturado gêneros de Portugal e africanos. É o que diferencia a música brasileira dos séculos 18 e 19 da europeia", explica Camargo.

Liberdade rítmica que é também um desafio técnico para os cantores, reconhece Marília. "Demora um pouco mais para conseguir a interpretação", diz. "Tem que ganhar o suingue."

Serviço

Raízes e Frutos da Canção Brasileira, com Marília Vargas, Tiago Pinheiro e Guilherme de Camargo. Capela Santa Maria – Espaço Cultural (R. Cons. Laurindo, 273), (41) 3321-2840. Hoje e amanhã, às 20 horas. Ingressos a R$ 15 e R$ 7,50 (meia-entrada). Na sexta-feira (18), haverá uma master class gratuita com os músicos a partir das 15 horas. Informações podem ser obtidas pelo telefone da Capela Santa Maria.

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