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Seto, o pioneiro do mangá em território brasileiro: homenagem póstuma | Katie Muller/ Gazeta do Povo
Seto, o pioneiro do mangá em território brasileiro: homenagem póstuma| Foto: Katie Muller/ Gazeta do Povo

Na noite da última quinta-feira (7), a comunidade curitibana fez uma homenagem a Claudio Seto (1944-2008), na Praça do Japão. Ele, o introdutor do mangá (histórias em quadrinhos japonesas) no Brasil, em 1967, teve o livro Flores Manchadas de Sangue lançado durante o evento. A obra reúne cinco histórias que o artista produziu no final da década de 1960 para a revista Histórias de Samurais, da editora Edrel, de São Paulo.

Gonçalo Jr., autor de 12 livros sobre quadrinhos, verbaliza aquilo que estudiosos e quadrinistas repetem continuamente: "Seto foi e é o mais importante quadrinista brasileiro. Superior a Ziraldo e a Angeli." Pode até parecer, mas não é exagero. De 1964 a 1972, Seto imprimiu sangue novo nas artérias dos quadrinhos tupiniquins – ele era um dos mais ativos desenhistas editados pela Edrel (a mais importante editora do gênero). Posteriormente, da década de 1970 até meados dos anos 1980, na Grafipar, em Curitiba, atraiu e coordenou 50 desenhistas, que produziam 30 gibis por mês, o equivalente a 800 páginas (inventivas) mensalmente.

"Além de ter introduzido o mangá no Brasil, o Seto conseguiu inserir a realidade brasileira nos quadrinhos", diz Gonçalo Jr., baiano radicado em São Paulo, que conheceu Seto na década de 1990. Desde então, houve uma ininterrupta interlocução. Gonçalo Jr. armazena 900 e-mails trocados com o artista, além de pesquisa sobre a produção do quadrinista, o que deve se materializar no livro A Guerra dos Gibis 2 – a ser lançado ainda este ano (o primeiro volume foi publicado em 2004 pela Companhia das Letras).

O quadrinista e ilustrador curitibano José Aguiar, aluno de Seto durante a década de 1990, na Gibiteca de Curitiba, lembra que a primeira manifestação de mangá foi O Samurai, que Seto publicou em 1967. Aguiar acaba de ler Lobo Solitário, um clásssico do mangá, publicado no Japão em 1970 (com roteiro de Kazuo Koike e desenho de Goseki Kojima), e constata que Seto antecipou tendências. "No mangá, as histórias têm começo, meio e fim. Há mais ‘gasto de energia’ para mostrar em cena. Já nos quadrinhos ocidentais, tudo é resolvido mais rapidamente. Mestre Seto foi, de fato, um mestre", explica Aguiar.

Há quem diga que o mangá é, antes de mais nada, um folhetim ilustrado. Gonçalo Jr. é um dos adeptos dessa teoria. "O mangá, no fim das contas, é uma maneira de entreter o público, mesmo com enredos sombrios e muita violência", completa. Gustavo Machado, que já desenhou o personagem Zé Carioca para a Editora Abril, e conviveu com Seto, acrescenta que, no Japão, há mangás para donas-de-casa, executivos etc. "Há edições semanais, e o governo ainda não cobra pela distribuição. Lá, tem gente que compra, lê no metrô e joga fora", afirma Machado.

O Brasil dá as mãos ao Japão, também, com o mangá. E esse elo tem em Seto, como já se falou, mas é importante repetir, um elemento fundamental e catalisador. O "craque" do desenho inventivo Franco Rosa, em texto de apresentação de Flores Manchadas de Sangue, reforça que as cinco histórias são as manifestações seminais do mangá no Brasil. "São obras absolutamente pioneiras. Trabalhos realizados de forma experimental. Os primeiros traços de um mestre. A gênese de um autor de valor internacional, Claudio Seto."

Serviço

Flores Manchadas de Sangue. Claudio Seto. Devir/Jacaranda. 128 págs. R$ 28.

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