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O maior lançamento do cinema brasileiro em 2005, 2 Filhos de Francisco, conta a história da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. Mas o tema não inibiu ricos, pobres, roqueiros ou pagodeiros. O filme fez 266 mil espectadores no fim de semana de estreia. É a melhor abertura de um título brasileiro no ano e o quinto melhor desempenho da chamada "retomada" – período de recuperação dos cinema nacional a partir de 1994, após a estagnação do mercado no início daquela década.

"O aspecto mais positivo foi o fato de o filme não ter destoado em nenhuma região do país, em nenhuma classe social. Foi muito bem nas nas salas que atentem às classes mais altas", comemora o distribuidor da fita, Rodrigo Saturnino Braga, da Columbia Pictures.

Na segunda-feira passada, o filme acumulou 57 mil entradas vendidas, um número superior ao do dia da estréia. Segundo Saturnino, o motivo é o perfil de público peculiar, mais "adulto e familiar", que não cria expectativa para conhecer os lançamentos nas estréias. "Todos os outros filmes do mercado, sem exceção, fizeram menos bilheteria na segunda-feira do que nos outros dias da semana", afirma o distribuidor. O lançamento é, também, a maior esperança para que o cinema nacional recupere sua participação no mercado em 2005, depois de sucessivas quedas ao longo do ano.

Os distribuidores e especialistas consultados pelo Caderno G não acreditam em uma reverão de quadro (apenas em melhoria) e apontam a fraca safra de filmes nacionais e estrangeiros como o principal motivo desse desempenho. Outros fatores mencionados incluem o competitivo mercado de DVDs, que estaria roubando o público dos cinemas, e a administração emperrada do setor pelo governo federal.

"Esse quadro de queda mostra que os filmes não estão agradando ao público. Não vejo nenhuma razão estrutural, de crise de mercado, falta de poder aquisitivo ou inflação alta. É uma questão de conjuntura do momento", explica Saturnino. O distribuidor não acredita que o mercado de locação de DVDs represente a principal razão para que as pessoas deixem de ir aos cinemas. "Desde 2003, notamos um crescimento brutal do DVD no Brasil, e, naquela época, as pessoas estavam indo ao cinema, porque há determinados filmes que você só vê no cinema", conta.

Para ele, a conjuntura macroeconômica e política também não é determinante. O poder aquisitivo das classes A e B está de acordo com o valor dos ingressos dos cinemas, segundo Saturnino. "O preço do ingresso no Brasil é barato se comparado com as outras formas de entretenimento que você faz fora de casa na região em que você mora. Se o filme não está agradando, as pessoas vão fazer outras coisas", afirma.

O município de Carapicuíba, próximo a São Paulo, é um exemplo. Na região não há cinemas e o público é obrigado a viajar para Osasco para assistir aos filmes. "Ainda assim, ir ao cinema é mais barato do que um baile funk, principalmente se você leva em consideração o preço médio do ingresso, que é de R$ 7. Isso não é caro, é mais barato que futebol", diz Saturnino.

Crise global

O jornalista Pedro Buchter concorda com o distribuidor. Ele é editor da Filme B, empresa especializada em levantamentos estatísticos do mercado de cinema nacional e internacional. "O ingresso de cinema no Brasil é um dos mais baratos do mundo", afirma. No exterior, explica Butcher, também há uma estagnação do mercado e uma maior procura pelo DVD, o que pode indicar que o Brasil reflete uma tendência globalizada. O raciocínio reforça a idéia de que a atual temporada de filmes não tem suscitado o interesse das pessoas.

"A questão da oferta é fundamental. A queda de público se deu também nos Estados Unidos, na Europa, na América Latina, e isso está diretamente vinculado ao tipo de produção fornecida", reforça Bruno Wainer, da Luimère Filmes, responsável pelo lançamentos de Cidade de Deus e Olga.

Sua postura, porém, é mais crítica em relação à administração Lula. Wainer explica que o ciclo médio para criação de um filme, da pré-produção ao lançamento, é de aproximadamente dois anos. "Estamos em 2005, há dois anos estávamos em 2003. Então você pode concluir que o fato específico de o cinema brasileiro estar tendo essa performance ruim, não apenas na questão do público, mas na oferta de filmes fortes, é vinculada ao novo governo", afirma.

O mercado brasileiro lançou de seis a oito grandes lançamentos nas temporadas anteriores, o que não se repetiu em 2005. "Salvo O Casamento de Romeu e Julieta e 2 Filhos de Francisco, o que tivemos? O que vem sendo plantado de dois anos para cá está se colhendo agora. As parcerias criadas entre empresas estatais e produtoras foram quebradas. Parou-se tudo para discutir e a conseqüência é que a gente está sem filmes em 2005", afirma Wainer. O distribuidor afirma ainda que o país está "perdendo a oportunidade" de preencher a brecha aberta pela fraca oferta de filmes estrangeiros.

Para Adhemar Oliveira, diretor da rede de cinemas Unibanco Arteplex, a crise política interfere na medida em que pode alterar o ânimo do público. "Com uma crise política, você tem ânimos de consumo diminuídos, mas esse é um componente bem subjetivo. Que as pessoas estão vendo mais televisão e noticiário em função da crise, é evidente. Mas alegar isso como motivo da baixa de público é uma coisa estapafúrdia", afirma.

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