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Larry David: chega-se a torcer para que ele desapareça um pouco da tela, para o filme ficar mais leve | Divulgação
Larry David: chega-se a torcer para que ele desapareça um pouco da tela, para o filme ficar mais leve| Foto: Divulgação

Paulo Francis dizia que todo otimista é, no fundo, um mal informado. Claro que ninguém é obrigado a concordar. Mas que a frase é boa, é. Woody Allen parece concordar com ele em quase todos os seus filmes. Tudo Pode Dar Certo, apesar da má tradução do título em português, começa com essa mesma teoria.

O personagem principal, afinal de contas, é um suicida. Mas um suicida para quem nem mesmo o suicídio dá certo. Ele sobrevive e segue ranzinzando sobre a vida, o universo e tudo o mais. Houvesse um campeonato mundial de pessimismo, ele seria declarado fora da competição, por não poder ser batido.

A impressão é que Allen decidiu nem fazer ele próprio o papel porque o mau humor necessário não se encaixaria na persona que criou. Allen é um pessimista pateta na maioria das vezes. Larry David foi escalado para fazer o pessimista radical, rancoroso, que deixa os outros enfurecidos.

O ator acaba não funcionando muito bem no papel. É grosseiro demais, falastrão, não consegue criar empatia do público. Talvez fosse até essa a idéia do diretor. Fazer com que você nemsimpatizasse muito com o sujeito. Se for isso, funcionou. A certa altura, você chega a torcer para que ele desapareça um pouco da tela, para o filme ficar mais leve.

Mas aí vem o grande truque de Woody Allen. Ele arma toda a tensão para depois, perto do fim do filme, mostrar que no fundo até mesmo o resmungão que criou é capaz de achar um jeito de se encaixar na vida. As coisas acontecem duma maneira improvável, mas todos os personagens, de uma ou outra maneira, vão se acertando, descobrindo que é possível passar por cima do que for e tentar uma vida melhorzinha.

É como se o diretor, que está prestes a completar 75 anos, dissesse que, agora, na velhice, descobriu que não adianta ficar reclamando o tempo todo. Que sempre tem algo que a gente pode fazer para ser feliz. Podemos fazer "qualquer coisa que funcione", diz o título no original, se melhor traduzido. Basta a gente querer.

Otimista demais? Pode ser. Ninguém vai poder dizer que Woody Allen é mal informado. No máximo, que está ficando velho e sentimental. E cada vez melhor em escrever roteiros. GGG1/2

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