• Carregando...
À vontade, os seis integrantes da Banda Gentileza dentro de um ofurô, em um apartamento na região central de Curitiba | Pedro Serápio/Gazeta do Povo
À vontade, os seis integrantes da Banda Gentileza dentro de um ofurô, em um apartamento na região central de Curitiba| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Opinião

Proposta ambiciosa

Marcio Renato dos Santos, repórter do Caderno G

A Banda Gentileza tem muitas ambições. Caso contrário, os seus seis integrantes não investiriam na produção de seu primeiro álbum, produzido por Plínio Profeta.

O que eles pretendem? Ter músicas veiculadas em rádios, participar de programas televisivos, vir a ser contratados por uma grande gravadora?

A Banda Gentileza valoriza música e letra ou, em outras palavras, é um conjunto que aposta nas canções, umas ligeiras, outras lentas. Tem rock, tem samba, tem mais. Há, sobretudo, o texto de heitor Humberto, o vocalista, que chama a atenção.

Mais da metade das canções fala de amor. "Se eu bato nessa porta/ é por rancor", canta, gritando, Humberto em "33 B". Em "O Estopim", a letra revela questionamento em relação ao bem querer como solução: "Eu preciso me pôr/ No meu lugar/ Parar de achar ou de supor/ Largar mão da solução/ Que dizem ser o amor."

Mas o letrista Heitor Humberto surpreende ao problematizar questões existenciais. Em "Preguiça", um samba, a melhor faixa do álbum, ele faz uma espécie de radiografia de uma geração que é cobrada a "ser alguém na vida", mas que se sente incapaz: "Minha vida é quase esteira ergométrica/ Eu ando, ando e não chego a lugar nenhum".

A verve irônica de Humberto atinge o ápice em "Sempre Quase", que tem pérolas como "Telefono pra mim mesmo e não aceito a ligação" e "Vou usar os meus chinelos na altura do joelho/ me intregar socialmente conversando com o espelho".

Se a Banda Gentileza vai acontecer? Basta ouvir o álbum para ter a resposta: eles já aconteceram. GGGG

Hoje, a Banda Gentileza promove o lançamento de seu primeiro álbum em Curitiba. Até aí (realizar um show para divulgar um CD), pouca novidade. O que chama a atenção é o local e as circunstâncias. O sexteto fará uma apresentação, a partir das 18 horas, na Casinha (R. São Sebastião, 784 – fundos, Ahú) durante um piquenique: além da música ao vivo, estarão sendo comercializados bolo de cenoura, sanduíche natural de frango, sanduíche vegan, amendoim, café com leite, refrigerante, água e cerveja.

O show que acontece logo mais é uma espécie de celebração de 2009, ano em que o conjunto dedicou todas as energias para viabilizar esse registro sonoro. O projeto começou a ser elaborado em janeiro. Eles abriram uma conta bancária, onde depositaram todas as economias, até dinheiro de empréstimo familiar. Contrata­­ram o produtor carioca Plínio Pro­­feta, que burilou o som de Pedro Luis e a Parede da cantora Tiê. Du­­rante dez dias, entre o fim de junho e o início de julho, realizaram a gravação de 12 canções no Nico’s Studio, em Santa Felicidade.

Heitor Humberto, o letrista, vo­­calista e líder da Banda Gentileza, diz, em nome do conjunto, que o resultado (da gravação do CD) foi surpreendente. Ele elogia o profissionalismo do produtor, que soube extrair o melhor da banda, além de ter feito sugestões "as mais oportunas". Antes mesmo de prensar o CD, eles haviam disponibilizado as 12 faixas para download gratuito por meio do site www.bandagentileza.com.br. O álbum, com tiragem de 1 mil exemplares, foi materializado em formato de CD para ser distribuído para jornalistas, formadores de opinião e produtores musicais.

Amigos de fé

A Banda Gentileza é resultado do encontro de colegas na universidade, algo um tanto comum: os Titãs e o REM, por exemplo, também surgiram nos corredores de faculdades. A primeira apresentação aconteceu em 2005, durante a cerimônia de premiação do 2º Festival Universitário de Cinema e Vídeo de Curitiba (PUTZ), na Cinemateca de Curitiba. Coincidência ou não, Humberto conta que, neste momento, pelo menos seis pessoas ligadas ao audiovisual se ofereceram para fazer videoclipes de canções do álbum. "Dizem que nossas canções sugerem imagens", diz Humberto.

Eles amadureceram o repertório autoral nas apresentações que realizaram em 2006 e 2007 no palco do extinto Porão Rock Club (atual The Basement Pub). Também fizeram shows no James, no Korova, no Retrô, no Era Só o Que Faltava, no Wonka, e no Hermes Bar, onde surgiu o nome do conjunto. Lá, durante um show, Heitor, ainda em carreira-solo, contou com o apoio do amigos, que ele apresentou como Banda Gentileza. A brincadeira tornou-se realidade.

O sexteto hoje é formado, além de Humberto (guitarra, violino, cavaquinho), por Emílio Mercuri (guitarra, viola caipira, violão, ukelele, bandolim e voz), Diego Perin (baixo e concertina), Artur Lipori (trompete, baixo, guitarra e kazuo), Tetê Fontoura (saxofone e teclado) e Diogo Fernandes (bateria). Eles já estiveram em cartaz em espaços paulistanos, e receberam algumas dezenas de críticas positivas em sites especializados e na revista Rolling Stones. Humberto conta que a banda só teve um único comentário negativo, no twitter. "Mas os fãs saíram em defesa", conta Humberto.

Essa unanimidade, que Hum­­ber­­to parece procurar, pode ter al­­guma relação com o nome do conjunto, ideia presente no texto da canção "Maior com Sétima": "É só usar bem as palavras/ E um pouco de gentileza." O cantor ainda diz, com muita convicção: "O profeta já dizia: gentileza gera gentileza. É isso."

Serviço

Piquenique de lançamento do álbum Banda Gentileza. Casinha (R. São Sebastião, 784, nos fundos, Ahu). Dia 28, a partir das 15. Abertura com a banda Lívia e os Piá de Prédio. R$ 8.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]