• Carregando...

O diretor israelense Amos Gitai ficou mais bonito em seu último filme, Free Zone (2005), recém-chegado às locadoras brasileiras. Ele é Rebecca, personagem interpretada por Natalie Portman, atriz israelense naturalizada norte-americana.

Explica-se. O filme nasceu de uma experiência pessoal. O diretor viajou até a free zone (espécie de zona franca ao leste da Jordânia onde israelenses, palestinos, sírios, egípcios e iraquianos negociam) com um motorista israelense que tinha um sócio palestino em um negócio de venda de carros montados em Israel para países árabes. Concluiu que aquela promiscuidade profissional entre povos não muito amigáveis entre si renderia uma boa história para discutir seu tema predileto: a dinâmica das relações no Oriente Médio.

No filme, ele, o motorista de táxi e o sócio palestino se transformaram em três mulheres – respectivamente, Rebecca, Hanna (Hana Laszlo) e Leila (Hiam Abbass). São desconhecidas que se cruzam em um road movie inusitado por um cenário de desertos e escombros de guerra.

O filme começa com a bela imagem de Portman chorando, enquanto olha através da janela de um carro, na chuva. Uma canção de raízes hebraicas dura exatamente o tempo de seu choro, acompanhando-o como uma espécie de ladainha sem fim. Em tradução livre, diz a letra: "Na feita do leste, por dois soldos/ um camundongo meu padre comprou/ e veio o gato, que comeu o rato/ que no mercado meu padre comprou/ e vem o cão, que mordeu o gato/ que comeu o rato/ que no mercado meu padre comprou...".

Depois de quase dez minutos de choro, com a câmera imóvel, o espectador já não encontra posição na cadeira. Quando a seqüência, enfim, acaba, começa a viagem. Sem rumo, após romper com o noivo, Rebecca, uma nova-iorquina que se sente identificada com os sentimentos judeus, decide acompanhar a decidida judia Hanna à free zone, onde pretende cobrar uma dívida do marido, que está ferido. Lá, ela enfrentam a palestina Leila, mulher do homem que deve dinheiro à motorista de táxi, nenhum um pouco disposta a pagar a dívida.

Inicia-se um embate entre povos, que Gitai trata de maneira instigante. Ao invés dos conflitos militares ou políticos comuns a muitos filmes sobre as questões do Oriente Médio, ele optou por entreveros do cotidiano que devem ser resolvidos por mulheres, gênero que, como é senso comum, costuma conversar antes de partir para a briga. Gitai "femininiza" seus personagens como uma forma de mostrar que as mulheres talvez se saiam melhor para resolver as questões políticas dos dois povos, o que seus compatriotas do sexo oposto ainda não conseguiram.

O resultado é um filme delicado que, com certa comicidade, extrapola questões políticas e geográficas para tratar das relações humanas de modo geral. No entanto, o discurso enfadonho das personagens, em muitos momentos, e a quase nula agilidade da câmera pode tornar-se um suplício para os espectadores. GGG1/2

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]