
O cantor e compositor Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha (1945-1991), havia se tornado uma sensação nacional, com canções gravadas pelas principais vozes da Música Popular Brasileira e com inúmeros sucessos no currículo, quando sua madrasta, Helena, o procurou. Embora a relação entre os dois sempre tivesse sido turbulenta, ela tomou coragem para fazer ao músico um apelo. Pediu-lhe que ajudasse o pai, Luiz Gonzaga (1912-1989), o lendário Rei do Baião e expoente maior das sonoridades nordestinas, que no fim dos anos 70 estava relegado ao esquecimento, e enfrentando sérias dificuldades financeiras.
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VÍDEO: Assista a trecho do filme Gonzaga De Pai para Filho
EM CARTAZ: Veja as sessões do filme nos cinemas do Paraná no Guia Gazeta do Povo
Embora o relacionamento entre pai e filho nunca tivesse sido dos melhores, Gonzaguinha, que nutria pela figura paterna um misto de admiração e mágoa, ambas em grandes proporções, partiu para Exu, cidade do sertão do estado de Pernambuco. Levava na bagagem, além de muito ressentimento e uma imensa afeição mal resolvida, uma proposta de trabalho: uma turnê conjunta que possibilitaria ao veterano Gonzagão ser descoberto pelas novas gerações, e lembrado pelas antigas, por meio agora da notoriedade do filho, que acabara de estampar a capa da revista Veja, que bradou ao país "Explode Gonzaguinha".
Nesse reencontro, tenso e emocionalmente muito intenso, Gonzaguinha fez o que sempre desejou. Não apenas descarregou toda a mágoa que guardava do pai, que embora sempre o tivesse sustentado, foi muito ausente em sua vida, mas iniciou um processo fundamental para saúde mental do jovem compositor. Conhecer, em primeira pessoa, a história tanto do homem quanto do artista Luiz Gonzaga.
Com um gravador cassete portátil, registrou entre 15 e 20 horas de conversas entre os dois, nas quais o pai contou lhe a história de sua vida e os dois discutiram uma relação marcada pelo distanciamento, pela falta de diálogo e por meias verdades, inclusive o fato de Gonzaguinha não ser seu filho biológico.
Essas fitas, hoje pertencentes aos descendentes de Gonzaguinha, serviram de base para o roteiro do longa-metragem Gonzaga De Pai para Filho, que estreia nesta sexta-feira, dia 26 nos cinemas de todo o Brasil.
Em entrevista à reportagem da Gazeta do Povo, o diretor do filme, o carioca Breno Silveira, contou que levou sete anos para conseguir tirar do papel o projeto. Ele foi procurado pelas pesquisadoras Maria Raquel e Márcia Braga, que mais tarde se tornaria produtora do longa, depois do estrondoso sucesso de bilheteria de 2 Filhos de Francisco, que conta a história da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano e levou mais de cinco milhões de espectadores aos cinemas. Elas tinham, em seu poder, as fitas contendo a entrevista com o Rei do Baião, que a elas tinham sido confiadas pelas família de Gonzaguinha.
"Eu havia decidido que não iria mais fazer cinebiografias de músicos, mas quando ouvi aquele material, fiquei profundamente emocionado, e percebi que havia ali uma grande história", disse Silveira.
As gravações também serviram de base para o livro Gonzaguinha e Gonzagão Uma História Brasileira, de Regina Echeverria (de Furacão Elis), cujos direitos foram adquiridos para o longo processo de gestação do roteiro de Gonzaga De Pai para Filho.
Silveira conta que, desde o início do projeto, sempre quis utilizar o encontro entre pai e filho como coluna vertebral do roteiro do longa-metragem, que também teria a ambição de contar a mirabolante e fantástica história de Luiz Gonzaga, sem também deixar de falar de Gonzaguinha. "Mas a jornada de Gonzaga é tão rica, com tantos acontecimentos extraordinários, que poderia render um filme de mais de três horas. Por isso, foi tão difícil alinhavá-lo."
Ainda que seja assinado por Patrícia Andrade, com quem Silveira também trabalhou no filme À Beira do Caminho, lançado no início do segundo semestre, Gonzaga De Pai para Filho contou com a colaboração de outros roteiristas, entre eles o próprio diretor.
Atores
Uma superprodução de R$ 12 milhões, a cinebiografia de Luiz Gonzaga atravessa décadas, iniciando-se nos anos 20, e regiões do país. Começa no interior de Pernambuco e se estende até o Rio de Janeiro, onde o Rei do Baião foi descoberto e elevado à condição de astro da música popular depois de ter passado pelo programa do compositor Ary Barroso, A Hora do Calouro, nos anos 40.
O maior desafio enfrentado por Silveira e sua equipe, no entanto, foi, alem de criar um roteiro que conseguisse dar conta de uma história tão complexa, encontrar um elenco que o ajudasse a fazer Gonzaga De Pai para Filho alçar vôo.
Segundo o diretor, foram testados dezenas de atores conhecidos para viver Gonzagão nas várias fases de sua vida, mas nenhum o satisfez. "Eles ou não se pareciam com ele, ou não sabiam cantar e tocar sanfona e acordeão." Então, a solução acabou sendo percorrer o Nordeste, fazendo anúncio da seleção em rádios do interior, em busca dos talentos ideais para o papel.
"Chegamos a receber mais 5 mil inscritos de toda a região, e de outros lugares." Desse processo, que durou meses e passou por várias fases, foram escolhidos os atores, todos não profissionais, a quem foi delegada a enorme responsabilidade de encarnar um dos maiores mitos da cultura brasileira.
Para Silveira, era fundamental a escolha de quem iria interpretar Gonzaga entre os 30 e os 50 anos, período em que o Rei do Baião atingiu o estrelato. O papel acabou indo parar, após sucessivos testes, nas do músico Chambinho do Acordeon, que não apenas tem enorme semelhança física com o "Velho Lua", como conseguiu tocar e cantar o repertório do artista.
Nascido em São Paulo em uma família de sanfoneiros piauienses, Chambinho teve de perder dez quilos para interpretar Gonzagão e, segundo, Silveira, dificilmente fará outro filme. "Ele é um músico talentoso, e tem um ótimo desempenho, mas atuar diante das câmeras foi um sofrimento para ele, que é muito tímido."
Já Adélio Lima, que vive Gonzaga na fase madura, em que reencontra o filho em Exu, parece ter gostado da "brincadeira" e tem chances de se tornar ator profissional. "Além de ter adorado a experiência, ele se saiu muito bem, à altura do Júlio Andrade, como Gonzaguinha", disse o cineasta, em referência ao ótimo ator gaúcho, que estrelou o longa Cão sem Dono, de Beto Brant, e foi o mordomo Arthurzinho, da novela Passione, de Silvio de Abreu.
Apelo
Questionado se Gonzaga De Pai para Filho terá apelo fora do Nordeste, onde o artista pernambucano é objeto de culto até hoje, Silveira disse que buscou fazer um filme que atingisse todos os tipos de público, guiado pela emoção, elemento que considera essencial a todos os seus filmes. "Gonzaga é um dos pilares da cultura brasileira e sua história não diz respeito apenas ao Nordeste, mas a todo o país.
Imagens do filme sobre Luiz Gonzaga
CADERNO G | 2:43
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