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Gonzagão (Adélio Lima) e Gonzaguinha (Júlio Andrade): reencontro intenso no sertão de Pernambuco | Divulgação
Gonzagão (Adélio Lima) e Gonzaguinha (Júlio Andrade): reencontro intenso no sertão de Pernambuco| Foto: Divulgação

Opinião

Popular em sua essência

Breno Silveira nunca escondeu de ninguém que gosta de fazer filmes que dialoguem com o grande público e sejam guiados pela emoção. Acertou em 2 Filhos de Francisco, derrapou em À Beira do Caminho, e, agora, em Gonzaga – De Pai para Filho, conseguiu, de forma ainda mais notável, realizar um filme que é popular em sua essência, mas jamais subestima o público, oferecendo-lhe uma história bem narrada, com ótimo elenco e uma produção requintada.

O grande acerto de Gonzaga – De Pai para Filho é, em vez de apostar no tradicional formato biográfico, linear e, portanto, previsível, construir toda a narrativa em torno de um momento-chave tanto na vida de Luiz Gonzaga quanto de seu filho, Gonzaguinha.

Após toda uma vida de encontros e desencontros, marcada por sofrimento, silêncio e desentendimentos, pai e filho se enfrentam para uma longa conversa, que tem para Gonzaguinha não apenas o valor de um mergulho na história do pai. As quase 20 horas de entrevista gravadas pelo compositor, que à época tinha 30 e poucos anos, também lhe serviu como uma jornada de autoconhecimento.

Tanto Júlio Andrade, que vive Gonzaguinha com maestria, quanto a revelação Adélio Lima, no papel do Rei do Baião, têm atuações comoventes, até porque, embora invista na evidente carga emocional desse confronto, Silveira o conduz sem exageros, com contenção até.

A incrível história de Luiz Gonzaga, um jovem mulato que saiu nos anos 20 do sertão nordestino, pobre e semianalfabeto, para virar um dos maiores ícones da cultura brasileira, se desdobra na tela com energia, fluidez e exuberância visual. A direção de arte de Claudio Amaral Peixoto e a fotografia de Adrian Teijido são de encher os olhos. E roteiro consegue o feito de entrelaçar vida pública e privada com desenvoltura.

Chambinho do Acordeão, como Gonzaga entre os 30 e os 50 anos, e Nanda Costa, que vive a mãe de Gonzaguinha, a dançarina Léa, estão muito convincentes, assim como todo o elenco de apoio, escolhido a dedo.

Sem fugir da tentação de, em certa medida, até reforçar o mito em torno de Luiz Gonzaga, o que lhe dá um certo caráter oficialesco, o filme consegue problematizar o personagem. E o faz com humor, apuro histórico, romantismo e inegável senso de espetáculo, proporcional às dimensões de seu protagonista. (PC) GGGG

Classificações: GGGGG Excelente. GGGG Muito bom. GGG Bom. GG Regular. G Fraco. 1/2 Intermediário. N/A Não avaliado.

  • Filme conta a história do rei do Baião e expoente maior das sonoridades nordestinas
  • Além da história do músico, o filme mostra a relação conflituosa entre Gonzaguinha e o pai
  • O diretor do filme Breno Silveira contou que levou sete anos para conseguir tirar do papel o projeto
  • Filme conta a história tanto do homem quanto do artista Luiz Gonzaga
  • Filme sobre Luiz Gonzaga estreia dia 26 em todo Brasil
  • Filme mostra relação conturbada de Gonzaguinha com o pai

O cantor e compositor Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha (1945-1991), havia se tornado uma sensação nacional, com canções gravadas pelas principais vozes da Música Popular Brasileira e com inúmeros sucessos no currículo, quando sua madrasta, Helena, o procurou. Embora a relação entre os dois sempre tivesse sido turbulenta, ela tomou coragem para fazer ao músico um apelo. Pediu-lhe que ajudasse o pai, Luiz Gonzaga (1912-1989), o lendário Rei do Baião e expoente maior das sonoridades nordestinas, que no fim dos anos 70 estava relegado ao esquecimento, e enfrentando sérias dificuldades financeiras.

FOTOS: Veja fotos do filme "Gonzaga – De Pai para Filho"

VÍDEO: Assista a trecho do filme Gonzaga – De Pai para Filho

EM CARTAZ: Veja as sessões do filme nos cinemas do Paraná no Guia Gazeta do Povo

Embora o relacionamento entre pai e filho nunca tivesse sido dos melhores, Gonzaguinha, que nutria pela figura paterna um misto de admiração e mágoa, ambas em grandes proporções, partiu para Exu, cidade do sertão do estado de Pernambuco. Levava na bagagem, além de muito ressentimento e uma imensa afeição mal resolvida, uma proposta de trabalho: uma turnê conjunta que possibilitaria ao veterano Gonzagão ser descoberto pelas novas gerações, e lembrado pelas antigas, por meio agora da notoriedade do filho, que acabara de estampar a capa da revista Veja, que bradou ao país "Explode Gonzaguinha".

Nesse reencontro, tenso e emocionalmente muito intenso, Gonzaguinha fez o que sempre desejou. Não apenas descarregou toda a mágoa que guardava do pai, que embora sempre o tivesse sustentado, foi muito ausente em sua vida, mas iniciou um processo fundamental para saúde mental do jovem compositor. Conhecer, em primeira pessoa, a história tanto do homem quanto do artista Luiz Gonzaga.

Com um gravador cassete portátil, registrou entre 15 e 20 horas de conversas entre os dois, nas quais o pai contou lhe a história de sua vida e os dois discutiram uma relação marcada pelo distanciamento, pela falta de diálogo e por meias verdades, inclusive o fato de Gonzaguinha não ser seu filho biológico.

Essas fitas, hoje pertencentes aos descendentes de Gonzaguinha, serviram de base para o roteiro do longa-metragem Gonzaga – De Pai para Filho, que estreia nesta sexta-feira, dia 26 nos cinemas de todo o Brasil.

Em entrevista à reportagem da Gazeta do Povo, o diretor do filme, o carioca Breno Silveira, contou que levou sete anos para conseguir tirar do papel o projeto. Ele foi procurado pelas pesquisadoras Maria Raquel e Márcia Braga, que mais tarde se tornaria produtora do longa, depois do estrondoso sucesso de bilheteria de 2 Filhos de Francisco, que conta a história da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano e levou mais de cinco milhões de espectadores aos cinemas. Elas tinham, em seu poder, as fitas contendo a entrevista com o Rei do Baião, que a elas tinham sido confiadas pelas família de Gonzaguinha.

"Eu havia decidido que não iria mais fazer cinebiografias de músicos, mas quando ouvi aquele material, fiquei profundamente emocionado, e percebi que havia ali uma grande história", disse Silveira.

As gravações também serviram de base para o livro Gonzaguinha e Gonzagão – Uma História Brasileira, de Regina Echeverria (de Furacão Elis), cujos direitos foram adquiridos para o longo processo de gestação do roteiro de Gonzaga – De Pai para Filho.

Silveira conta que, desde o início do projeto, sempre quis utilizar o encontro entre pai e filho como coluna vertebral do roteiro do longa-metragem, que também teria a ambição de contar a mirabolante e fantástica história de Luiz Gonzaga, sem também deixar de falar de Gonzaguinha. "Mas a jornada de Gonzaga é tão rica, com tantos acontecimentos extraordinários, que poderia render um filme de mais de três horas. Por isso, foi tão difícil alinhavá-lo."

Ainda que seja assinado por Patrícia Andrade, com quem Silveira também trabalhou no filme À Beira do Caminho, lançado no início do segundo semestre, Gonzaga – De Pai para Filho contou com a colaboração de outros roteiristas, entre eles o próprio diretor.

Atores

Uma superprodução de R$ 12 milhões, a cinebiografia de Luiz Gonzaga atravessa décadas, iniciando-se nos anos 20, e regiões do país. Começa no interior de Pernambuco e se estende até o Rio de Janeiro, onde o Rei do Baião foi descoberto e elevado à condição de astro da música popular depois de ter passado pelo programa do compositor Ary Barroso, A Hora do Calouro, nos anos 40.

O maior desafio enfrentado por Silveira e sua equipe, no entanto, foi, alem de criar um roteiro que conseguisse dar conta de uma história tão complexa, encontrar um elenco que o ajudasse a fazer Gonzaga – De Pai para Filho alçar vôo.

Segundo o diretor, foram testados dezenas de atores conhecidos para viver Gonzagão nas várias fases de sua vida, mas nenhum o satisfez. "Eles ou não se pareciam com ele, ou não sabiam cantar e tocar sanfona e acordeão." Então, a solução acabou sendo percorrer o Nordeste, fazendo anúncio da seleção em rádios do interior, em busca dos talentos ideais para o papel.

"Chegamos a receber mais 5 mil inscritos de toda a região, e de outros lugares." Desse processo, que durou meses e passou por várias fases, foram escolhidos os atores, todos não profissionais, a quem foi delegada a enorme responsabilidade de encarnar um dos maiores mitos da cultura brasileira.

Para Silveira, era fundamental a escolha de quem iria interpretar Gonzaga entre os 30 e os 50 anos, período em que o Rei do Baião atingiu o estrelato. O papel acabou indo parar, após sucessivos testes, nas do músico Chambinho do Acordeon, que não apenas tem enorme semelhança física com o "Velho Lua", como conseguiu tocar e cantar o repertório do artista.

Nascido em São Paulo em uma família de sanfoneiros piauienses, Chambinho teve de perder dez quilos para interpretar Gonzagão e, segundo, Silveira, dificilmente fará outro filme. "Ele é um músico talentoso, e tem um ótimo desempenho, mas atuar diante das câmeras foi um sofrimento para ele, que é muito tímido."

Já Adélio Lima, que vive Gonzaga na fase madura, em que reencontra o filho em Exu, parece ter gostado da "brincadeira" e tem chances de se tornar ator profissional. "Além de ter adorado a experiência, ele se saiu muito bem, à altura do Júlio Andrade, como Gonzaguinha", disse o cineasta, em referência ao ótimo ator gaúcho, que estrelou o longa Cão sem Dono, de Beto Brant, e foi o mordomo Arthurzinho, da novela Passione, de Silvio de Abreu.

Apelo

Questionado se Gonzaga – De Pai para Filho terá apelo fora do Nordeste, onde o artista pernambucano é objeto de culto até hoje, Silveira disse que buscou fazer um filme que atingisse todos os tipos de público, guiado pela emoção, elemento que considera essencial a todos os seus filmes. "Gonzaga é um dos pilares da cultura brasileira e sua história não diz respeito apenas ao Nordeste, mas a todo o país.

Imagens do filme sobre Luiz Gonzaga

CADERNO G | 2:43

Assista a trecho do filme Gonzaga – De Pai para FilhoVER MAIS VÍDEOS

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