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Agora É Que São Elas: poucos risos | Divulgação
Agora É Que São Elas: poucos risos| Foto: Divulgação

Em Agora É Que São Elas – montagem dirigida por João Luiz Fiani, em cartaz no Teatro Lala Sch­­neider –, a fumaça causada pelo gelo seco, abundante, serve de metáfora à própria encenação. É clichê. E acinzenta o espetáculo, impedindo a nitidez do que se vê no palco. Não permite nu­­an­­ces, ne­­nhuma sutileza, tampouco tintas mais fortes que delineiem o conflito existencial do personagem.

Agora É Que São Elas, o romance de Paulo Leminski, não é mesmo um texto simples de ser convertido em boa encenação. Meta­­lin­­guístico, dialoga com a obra do for­­malista russo Vladimir Propp, que listou as funções a serem cumpridas por personagens de contos folclóricos.

Leminski criou sua história a partir das categorias de Propp e ficcionalizou o estudioso, transformando-o em Dr. Propp (Gua­­rany Jr.), psicanalista do personagem central de Agora É Que São Elas. "Ele" (Daniel Marcondes), o pro­­tagonista, é uma síntese dos personagens dramáticos. Um heroi sem nome, à deriva em três narrativas.

Em uma delas, se envolve se­­xual­­mente com Norma Propp (Bruna Louise), filha de seu mestre. Em outra, se apaixona pela cantora Norma (Jeruza Quadros), durante uma festa. Na terceira, uma Norma garotinha (Raquel Almeida) lhe conta histórias sobre seres interestelares.

Seu impasse, no romance, é seguir as "normas" (as mulheres mas, também, as regras da narrativa) ou arriscar-se ao lívre-arbítrio. Na peça, porém, só um exercício extremo de interpretação aproximaria o espectador de igual conclusão.

Antes de tudo, porque o texto verborrágico é dito pelos atores sem que as intenções (fundamentais numa trama ilógica) sejam marcadas. Para uma "frase de efeito" surtir – enfim – efeito, a sonoplastia precisa intervir, compensando, à força, a ineficiência das palavras ditas.

Essa preocupação com o efeito, em vez do cuidado em burilar a causa (e deixar que ele ocorra naturalmente), é um dos problemas mais evidentes. Tentando voltar à festa da qual saiu há pouco, Ele não encontra nem sombra da agitação. O mordomo (per­­so­­nagem que fará rir os que acham graça de piadinhas infames sobre gays) o confundirá: "A festa vai ser... (diz, afetadamente, como se arregalasse os olhos, e com pausa para o efeito nonsense) amanhã à noite".

O que sobrevive nessa história, então, é a mulher reduzida a uma silhueta sexy e a fixação masculina por "bundas, pernas e seios", como se refere Ele às suas lembranças juvenis. GG

Serviço

Agora É Que São Elas. Teatro Lala Schneider (R. Treze de Maio, 629), (41) 3232-4499. Dias 24 e 25 às 21 horas. R$ 30 e R$ 15. Classificação indicativa: 14 anos.

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