
"Provisoriamente não cantaremos o amor,/ que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos./ Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços (..)" escreveu Drummond no poema Congresso Internacional do Medo. Os versos deram ignição à terceira peça do grupo Espanca!, de Belo Horizonte (MG), que estreou o trabalho por lá em 2008 e agora chega a Curitiba como parte do Festival de Teatro Brasileiro Cena Mineira, hoje e amanhã, no Guairinha.
O nome da peça, homônima ao poema, dá uma pista do assunto de que trata. Quatro letrados, vindos de países imaginários e falando suas próprias línguas, são convidados a palestrar num simpósio em que devem explicar ou tocar de alguma forma no tema "medo".
E o medo da morte se prova algo que eles têm em comum, ainda que cada um mantenha sua idiossincrasia, que uma tradutora tenta interpretar.
Primeiro, sem sucesso: os palestrantes não se entendem, talvez porque não consigam ouvir uns aos outros. Então uma inversão ocorre, num momento bizarro-mágico que transforma o conteúdo da argumentação dos personagens. No lugar do medo e dos monólogos, eles iniciam um diálogo e acabam tocados pela generosidade.
"O congresso se torna quase um encontro do mundo, e, com imaginação, cria-se uma situação surreal", disse à Gazeta do Povo a diretora e dramaturga Grace Passô.
A criação coletiva, proposta por ela para esse trabalho, se tornou uma experiência ainda mais enriquecedora pelo fato de seis dos oito atores que compõem o elenco terem sido convidados especialmente para o projeto.
"A dramaturgia foi escrita ao longo do processo. Foi um projeto para trocarmos ideias com artistas", diz.
A peça é mais um capítulo da relação do Espanca! com Curitiba, que Grace define como uma "ligação afetiva". Em 2005, foi aqui que o grupo estreou sua primeira montagem, Por Elise, no Festival de Teatro. No ano seguinte, o grupo voltou com Amores Surdos.
E, na semana que vem, o Espanca! faz oficina na cidade (leia mais no quadro), poucos meses depois de experiência semelhante durante o útimo Festival de Curitiba, quando ministrou um curso de práticas de ideias teatrais. No momento, o grupo se dedica a programar as apresentações de seu recém-inaugurado espaço próprio, no centro de Belo Horizonte.
Intercâmbio
O Festival de Teatro Brasileiro ocorre desde 1999, como parte de um projeto patrocinado por Petrobras e Caixa Econômica Federal. Já levou peças das cenas baiana, cearense e pernambucana a diversos estados, em anos anteriores.
Nesta etapa paranaense, começou trazendo a Curitiba, em maio, O Negro, a Flor e o Rosário, e vai até julho, com Mania de Explicação.
Neste fim de semana, o festival traz ainda duas peças. Concessa Tecendo Prosa, no Guairinha, é um solo da atriz Cida Mendes, que roda o país há 13 anos. Ela interpreta uma dona de casa que se agarra a seu modo de ser interiorano, em plena cidade grande.
No José Maria Santos, o festival traz BarbAzul, com o grupo Teatro Andante, que apresenta o conto centenário com um misto de teatro, dança, música, drama e comédia.
E a cena paranaense, para onde vai? A boa notícia é que a meta dos organizadores do Festival de Teatro Brasileiro é promover a circulação de um dos estados do Sul no ano que vem. Fortes candidatos são os grupo paranaenses e gaúchos. "É muito importante termos o apoio do governo do estado que participará da mostra", avisa o coordenador do projeto, Sergio Bacelar.
Serviço
Congresso Internacional do Medo. Guairinha (R. XV de Novembro, s/nº), (41) 3304-7900. Direção de Grace Passô. Dias 23 e 24, às 20 horas. R$10 e R$5 (meia).
BarbAzul. Teatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655), (41) 3322-7150. Classificação indicativa: 10 anos. Dias 25 e 26, às 20 horas. R$10 e R$5 (meia).
Concessa Tecendo Prosa. Guairinha (R. XV de Novembro, s/nº), (41) 3304-7900. Dia 25 e 26, às 20 horas. R$10 e R$5 (meia).





