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O longa-metragem brasileiro Cidade Baixa venceu, em maio deste ano, um prêmio especial no Festival de Cannes, onde foi exibido dentro da mostra paralela Um Certo Olhar. A menção foi conferida por um júri de jovens que o escolheu como o melhor entre os participantes do certame. Não é difícil compreender o porquê da forte identificação dos votantes com a trama do filme brasileiro, que chega hoje aos cinemas curitibanos.

A produção discute, com palpitante intensidade, as implicações decorrentes de um triângulo amoroso, formado pelos amigos barqueiros Naldinho (Wagner Moura) e Deco (Lázaro Ramos) e pela prostituta e dançarina Karinna (Alice Braga, revelada em Cidade de Deus). Até aí, nenhuma novidade. Desde sempre o cinema trata desse tema, que já rendeu grandes obras, como Jules e Jim – Uma Mulher para Dois, de François Truffaut.

O inovador em Cidade Baixa está no fato de que, ao contrário do clássico da Nouvelle Vague, o dilema entre as três partes envolvidas não se resolve por meio de um desfecho trágico e irreversível. O roteiro, assinado pelo diretor Sérgio Machado e o também cineasta Ka rim Aïnouz, opta por dar tanta importância à paixão de Naldinho e Deco por Karinna quanto à amizade que une os dois protagonistas masculinos. Essa escolha altera os rumos do enredo de forma surpreendente, rendendo um dos melhores epílogos vistos no cinema nacional nos últimos anos.

Rodado em Salvador com o apoio do governo estadual da Bahia, o filme de Machado também tem o grande mérito de explorar a geografia física e social da cidade sem cair nos clichês que contaminam quase todas as obras que têm a capital baiana como cenário. Nada de Pelourinho, Baía de Todos os Santos, Farol da Barra e outros cartões-postais soteropolitanos. O cineasta prefere explorar o submundo, o bas-fond, de forma realista, sem jamais folclorizá-lo ou embalá-lo com exotismo. Cidade Baixa tem odores, sons e, sobretudo, cores que remetem à sordidez inerente a esse universo, mas sem fazer julgamento de valor.

Outro mérito de Cidade Baixa é devolver ao cinema nacional o erotismo, um de seus ingredientes essenciais. As várias seqüências de sexo entre os três personagens, entretanto, não têm a proposta de vender sensualidade pura e simples. As cenas, magnificamente fotografadas por Toca Seabra (de O Invasor), expõem os personagens em toda sua fisicalidade, mas para falar de seus sentimentos e instintos, e não explorá-los como mercadoria.

Elenco

Os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, revelados pela montagem teatral A Máquina(que acaba de virar longa-metragem com os dois no elenco), já são nomes em ascensão no cinema, teatro e tevê nacionais. E estão ótimos em seus papéis. A grande surpresa no elenco de Cidade Baixa, no entanto, é a ainda novata Alice Braga, sobrinha de Sônia Braga. Embora viva uma prostituta, ela consegue escapar dos clichês que costumam marcar esse tipo de personagem, compondo uma Karinna ao mesmo tempo sexual e ensimesmada, que pouco deixa entrever sobre suas motivações. GGGG

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