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Mayra Andrade carrega na sua música as raízes cabo-verdianas | Divulgação
Mayra Andrade carrega na sua música as raízes cabo-verdianas| Foto: Divulgação

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Lovely Difficult

Mayra Andrade. Sony Music. Preço médio: R$ 24,90.

Ouvir Mayra Andrade pela primeira vez é perceber que, pelo menos quando o assunto é música, o conceito de fronteiras geográficas (e idiomáticas) pode ser um tanto borrado. Lovely Difficult, quarto álbum da cantora, nascida em Cuba mas de origem cabo-verdiana, acaba de ser lançado no Brasil e pode ser uma ótima porta de entrada para se conhecer o intrigante trabalho da artista.

Em seus 28 anos de vida, Mayra, por conta do ofício de seu padrasto diplomata, viveu no Senegal, em Angola e na Alemanha. Em todos esses lugares, ela parece ter sorvido elementos para a construção de sua múltipla identidade musical, cujas raízes mais profundas, contudo, parecem estar mesmo em Cabo Verde, país insular africano, integrado por uma dezena de ilhas e colonizado por portugueses. Lá, a jovem cantora viveu em diferentes períodos da infância e da adolescência, na capital Praia.

Atualmente radicada em Paris, Mayra tem uma bela voz, deliciosa de se ouvir, e uma musicalidade incrível, que por vezes pode fazer quem a escuta pensar, sim, em Cesária Évora (1941-2011), grande estrela da música de seu país. Mas sua música também dialoga com a produção da jovem estrela do jazz norte-americana, premiada com o Grammy de artista revelação, Esperanza Spalding, que com Mayra compartilha a paixão pela MPB.

Lovely Difficult, produzido por Mike "Prince Fatty" Pelanconi (que trabalhou com nomes como Lily Allen e Graham Coxon), pode ser ouvido como um álbum de world music, na falta de um rótulo mais preciso para classificá-lo. Mas o fato é que, por se apropriar de elementos de ritmos nativos da África, como a morna (de Cabo Verde) e a kizomba (de Angola), mas também do jazz contemporâneo e até da chanson francesa, é um álbum um tanto inclassificável.

Mayra transita por diversos ritmos e línguas – como francês, inglês, português e créole – com enorme desenvoltura, mas sempre emprestando às canções uma personalidade toda própria, que a distancia do meramente exótico. E isso é evidente no cuidado com que escolhe seus parceiros de trabalho.

No álbum, Mayra colabora com artistas de origens muito distintas, como a cantora israeli-tunisiana Yael Naim e seu produtor, o multi-instrumentista francês David Donatien; o compositor ítalo-britânico Piers Faccini; o cantor senegalês Tété; o cantor e compositor francês Benjamin Biolay; o intérprete e músico inglês Hugh Coltman; a cantora de folk norte-americana Krystle Warren; o compositor e cantor Pascal Danae, de Guadalupe; e o cabo-verdiano Mario Lucio Sousa, fundador da banda Simentera, muito popular no país africano. De todos esses músicos, a artista, que também assina muitas das canções, absorve traços, mas sem se diluir. Busca reforçar sua identidade, que é multifacetada, porém original. GGGG

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