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Ian Curtis: legado deixado pelo vocalista da banda inglesa Joy Division, morto há 30 anos, até hoje perturba e inspira | Reprodução
Ian Curtis: legado deixado pelo vocalista da banda inglesa Joy Division, morto há 30 anos, até hoje perturba e inspira| Foto: Reprodução
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Quando Ian Curtis, líder e vocalista da banda inglesa Joy Division, subiu ao palco pela última vez, há 30 anos – completados na última terça-feira (18) – ele sentia na pele o que era ser um ícone cult. Já famosa na Europa, sua banda estava prestes a embarcar na primeira turnê norte-americana e Ian, a se tornar um ídolo mundial. Duas semanas depois, quando ele cometeu suicídio, aos 23 anos, enforcando-se no varal de sua casa, seu lugar na galeria de rockstars que morreram jovens demais estava garantido para sempre. Desde então, de geração em geração, repetem-se histórias de outros jovens garotos que mergulharam de corpo e alma no sombrio legado musical deixado por Curtis.

É o caso de Cassiano Fagundes, vocalista e guitarrista da banda Cassim & Barbária e um dos músicos mais atuantes do cenário independente curitibano das últimas décadas. "Sou fanático por Joy Division há muito tempo. Comecei a escutar a banda uns cinco, seis anos depois que o Ian Curtis morreu. Lembro de ter lido, na época, uma matéria em que o autor dizia que a impressão que a maioria das pessoas tinha de seu som era contaminada pelo seu suicídio", conta.

Depressivo e epilético, Ian costumava ter ataques convulsivos durante os shows, o que, para muita gente, fazia parte de sua intensa performance. Fora do palco, no entanto, era um rapaz tímido, casado e pai de família, com mais responsabilidades que qualquer outro integrante do grupo. Combinados a letras repletas de imagens de morte, alienação e decadência urbana, seu cantar melancólico e sua voz de barítono criaram uma aura de mistério em torno do vocalista. Tanto que, até hoje, suas canções são associadas à sua tumultuada vida pessoal, o que, para Cassiano, atrapalha um pouco a percepção da obra da banda em sua totalidade. "É só ler as letras de Curtis para perceber que há ali muito mais do que dor, solidão, sofrimento e falta de esperança. Há, sim, muita beleza, muito entusiasmo e movimento. E há tudo o que ele lia, de William Burroughs e Gogol, a J.G. Ballard", ressalta.

Mesmo com apenas dois álbuns lançados – um antes da morte de Curtis e outro póstumo – o legado do Joy Division e seu enigmático vocalista continuou a crescer nas últimas três décadas, com coletâneas, remasterizações, documentários, filmes (saiba mais no quadro ao lado), livros e bandas assumidamente influenciadas por eles, como U2, Editors, Interpol, The Killers, Franz Ferdinand, Radiohead e, no caso do Brasil, Legião Urbana. Renato Russo (1960-1996), aliás, não só era fã confesso de Joy Division, como imitava os movimentos espasmódicos de Ian Curtis em suas próprias apresentações. "Hoje o Ian Curtis é tão influente quanto John Lennon, se não for mais. Provavelmente, é o artista mais copiado da atualidade", diz Emil Tab, vocalista da banda curitibana Subburbia.

Na última terça-feira, quando a morte do vocalista completou 30 anos, inúmeros tributos marcaram o dia em que sua voz foi silenciada pelo desespero de quem sucumbe à depressão. O mais importante deles, talvez, tenha sido o de Peter Hook, baixista e cofundador do Joy Division, que após a morte do vocalista deu origem ao New Order. Ao lado de sua nova banda, The Light, Hook interpretou, na íntegra, o repertório do disco de estreia do Joy Division, Unknown Pleasures (1979), em um clube de Manchester, Inglaterra. A renda do show foi revertida para a Mind, instituição de caridade inglesa especializada em saúde mental. Afinal de contas, até hoje permanece entre as pessoas que conviveram com Curtis a sensação de que algo poderia ter sido feito para evitar seu trágico destino. E, muito possivelmente, a mesma sensação às vezes percorra os pensamentos de quem ouve sua música, que não traz respostas, mas faz pensar.

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