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Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar | Roberto Custódio/JL
Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar| Foto: Roberto Custódio/JL

Séries eternas

A paulistana Amelia Toledo fez suas primeiras aulas de pintura aos 14 anos. No fim da década de 30, freqüentou o ateliê da modernista Anita Malfatti e, anos depois, estudou desenho, pintura e modelagem com Yoshiya Takaoka e Waldemar da Costa.

Nos anos 50, começou a produzir jóias de fio de cobre e estanho, que a inseriram no movimento de renovação dos objetos. Assim, lançaria-se, definitivamente na produção de séries "que nunca se encerram" – visto que obras pensadas nos anos 50, para serem feitas em cobre, por exemplo, só foram finalizadas nos dias de hoje, em aço inox.

A retrospectiva Novo Olhar, que ocupa duas salas do MON, revela essa renovação constante da artista de 82 anos ao longo de 60 anos de trajetória e a variedade de materiais e formatos utilizados, da tela tradicional às instalações, da tinta a óleo e o papel às pedras e conchas.

Amelia Toledo não gosta de explicar as razões de sua arte. Na tour que fez com a reportagem pelas duas salas do MON que recebem, a partir de hoje à noite, uma retrospectiva de seu trabalho, a cicerone de 82 anos foi simples como suas obras: falou dos materiais que utiliza, como pedras, conchas, juta, vidro e resina, revelou os nomes de cada peça e, quando necessário, seu funcionamento.

Para explicar porque batizou um conjunto de pedras colocadas lado a lado, em um semicírculo, de "Dragões Cantores", não precisou nem falar. Bateu em cada rocha com uma pedrinha e recebeu como resposta sons graves e agudos, nenhum deles igual ao outro.

Depois, pediu à reportagem para que se sentasse em outro conjunto de pedras dispostas no chão e rodeadas por espelhos. A experiência de se sentar em meio a uma infinidade de rochas refletidas foi o suficiente para entender o significado do nome "Bambuí", "lugar que já foi mar", em tupi.

"O fundamento de seu trabalho é a matéria, o objeto, e ele não significa outra coisa", diz o curador, artista plástico e filho da artista, Mo Toledo, sobre as 57 peças produzidas ao longo de 60 anos que compõem a exposição Novo Olhar.

O nome já dá a pista de como esta paulistana encara sua trajetória artística, uma das mais importantes da arte contemporânea brasileira. Nada ficou para trás. "Não tenho fases propriamente definidas, mas séries que comecei a desenvolver nos anos 40 e 50, e que desenvolvo até hoje", conta. Um exemplo é a série de frutos do mar, formada por trabalhos de várias épocas que, juntos, se somam e se renovam.

Criada na cidade grande, Amelia Toledo conta que não precisou viajar muito para visualizar os cenários da natureza que transformou em arte. "Viajei dentro da minha cabeça", conta. Nos anos 60 e 70, a artista chegou a criar obras em que manifestava o seu descontentamento com a ditadura militar, como as bocas fechadas da imagem acima. Mas, não considera essa faceta de sua arte mais política do que as cores e fenômenos naturais do restante das obras expostas no MON.

"Minha arte é política na medida em que é propositiva, afirmativa", explica. Esta visão positiva é absorvida pelo público que se sentirá livre para tocar as obras, sentar nas rochas, deitar sobre elas e se ver refletido em uma projeção, passear por telas de juta banhando-se em cores.

Os objetos, esculturas, jóias, instalações e projeções estão rodeados por pinturas à óleo e telas com fotografias ampliadas de pedras que a artista octogenária escaneou no computador, outra prova do "novo olhar" que ela lança constantemente ao mundo e ao seu trabalho.

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Serviço: Novo Olhar, de Amelia Toledo. Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999 – Centro Cívico), (41) 3350-4400. Abertura para convidados hoje (30), às 19 horas. Abertura para o público no dia 31. Até 20 de janeiro. De terça a domingo, das 10 às 18 horas. Ingressos a R$ 4 e R$ 2 (estudantes). Não pagam crianças de até 12 anos, maiores de 60 anos e grupos agendados de estudantes de escolas públicas, do ensino médio e fundamental.

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