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Crise

Uma relação muito desafinada

Fundação da Orquestra Sinfônica Brasileira e músicos demitidos estão há quatro meses em uma crise sem precedentes

Músicos da Sinfônica fazem protesto diante do Theatro Municipal do Rio de Janeiro | Monica Imbuzeiro/Agência O Globo
Músicos da Sinfônica fazem protesto diante do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Foto: Monica Imbuzeiro/Agência O Globo)
Roberto Miczuk: no olho do furacão. |

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Roberto Miczuk: no olho do furacão.

Quatro meses após o início da crise na Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), o cenário não parece apresentar uma solução iminente. Desde que, no início de janeiro, uma avaliação individual obrigatória dos músicos foi idealizada pelo maestro e diretor artístico Roberto Minczuk, e apresentada aos músicos na forma de um comunicado, já ocorreram diversas reuniões e audiências públicas para tentar conciliar os representantes da orquestra e os 41 músicos que se recusaram a se submeter ao método e foram demitidos por insubordinação.

Na última dessas reuniões, realizada no dia 18 de abril, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, os deputados Jandira Feghali e Robson Leite prometeram aprofundar as investigações das causas da crise.

O quadro foi particularmente agravado no último dia 9, quando a maior parte dos músicos integrantes da OSB Jovem, que substituíam o corpo orquestral principal, deixou o palco do Theatro Municipal no Rio de Janeiro em protesto, após o maestro se apresentar.

Além de assédio moral — por obrigar os músicos a participar de uma avaliação sem precedentes — Minczuk também é acusado de acumular também o cargo de diretor artístico do Theatro Municipal, o que, segundo Robson Leite, é uma violação de direitos do Estatuto dos Músicos. Na última segunda-feira, o maestro deixou seu cargo no Theatro Municipal.

O maestro não se pronuncia sobre a crise, mas a Fundação da Orquestra Sinfônica Brasileira (Fosb), em comunicado oficial, afirmou que o objetivo da avaliação é "conhecer a fundo as de­­­mandas do conjunto, seguindo no propósito de atingir o patamar de qualidade almejado".

Para o músico e regente gaúcho Alex Klein (ex-diretor artístico do Teatro Municipal de São Paulo), o que aconteceu foi uma manobra discriminatória. Segundo ele, nenhum músico deve ser avaliado dessa forma. "A avaliação do músico acontece todos os dias em sua prática, e qualquer maestro é capaz de avaliar a competência de cada músico já nas primeiras semanas de trabalho com eles", afirma.

Tamara Campos, assessora de imprensa do Sindicato dos Músicos, que apoia a Comissão dos Músicos da OSB, explicou a razão pela qual os músicos consideraram a proposta de Minczuk suspeita: "Ao mesmo tempo em que anunciaram essa decisão vertical, a Fosb abriu audições para a contratação de novos músicos em Nova York e Londres, e ainda criou um programa de demissão voluntária, que consideramos imoral e insuficiente. Todos tiveram certeza de que haveria demissões".

Alex Klein concorda com as suspeitas dos músicos: "Isso me parece discriminação contra os músicos brasileiros. Eles sabiam que os poucos que se submeteriam à avaliação eram os estrangeiros, pois caso não o fizessem, perderiam seus vistos de trabalho. Acho que é possível manter padrões internacionais com músicos brasileiros e não é preciso uma avaliação para isso".

A presidente do Sindicato dos Músicos, Déborah Cheyne, declarou que pretende encaminhar outra proposta para a Fosb, pois considerou que a última posição da fundação em relação à crise não considerava a demanda dos músicos. Embora seja líder sindical, o que deveria garantir estabilidade em seu cargo, Déborah recebeu na última terça feira um comunicado anunciando a suspensão de seu contrato com outros três músicos.

O número de demitidos pela Fosb sobe agora para 37. Segundo a assessoria do Sindicato dos Músicos, os outros quatro músicos que não compareceram à avaliação têm seus casos tratados de forma especial. Somados a três músicos que aderiram ao programa de demissão voluntária da Fundação, são 44 profissionais que não compactuaram com a avaliação de Minczuk.

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