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Big Brother Brasil 10: o programa vale como um estudo de caso de um micro Brasil do século 21 | Divulgação
Big Brother Brasil 10: o programa vale como um estudo de caso de um micro Brasil do século 21| Foto: Divulgação

Há pouco mais de dez anos, estreava no Brasil um programa diferente. Emulando parte do enredo de 1984, de George Orwell, o reality show se propunha a confinar pessoas em uma casa e submetê-las ao crivo do público. Este, tão poderoso quanto a mão do Big Brother, personagem do livro do britânico que ditava as regras na Oceania, escolhia quem deveria permanecer até o final para, enfim, recolher o seu pote de ouro.

Pois no princípio eram Adriano, Vanessa, Sérgio, Caetano, André, Alessandra, Xaiani, Cristiana, Helena, Estela, Bruno e Kléber "BanBan". Os 12 concorrentes da primeira edição tinham características comuns, que acabavam se anulando embora delineassem parte de sua geração e servissem de atração, ainda que exótica, ao telespectador.

No primeiro caso, havia Kléber "BanBan". Sua personalidade mezzo infantil mezzo palhaço de circo contrastava com seu corpo esculpido a custo de muitas puxadas de ferro. Sua cabeça servia mais para fazer piadas do que para elaborar estratégias de jogo, conversar ou defender sua permanência na casa. No segundo caso, Estela. A paulistana fazia o estilo moderninha. Cursava design gráfico em São Paulo, tinha cinco tatuagens e vários piercings pelo corpo. Os outros dez eram Winston Smiths (narrador de 1984), que tornavam-se igualmente insignificantes. A maioria estava lá devido ao ibope que proporcionavam ao se refestelarem na piscina. E era essa a conjuntura na maioria das edições.

Em dez anos, a seleção brasileira de futebol ganhou uma Copa do Mundo. A banda The Strokes lançou Is this It, disco que era considerado a salvação do rock. Um negro foi eleito presidente da nação mais rica do mundo. Dercy Gonçalves morreu. Dez anos é muito tempo.

Se os participantes desta edição forem pinçados como exemplares possíveis da sociedade brasileira atual, é fácil perceber que o Big Brother também não parou no tempo. Ainda que sejam estereótipos bem demarcados, seria raro ver um gay assumido, uma lésbica muito bem resolvida, uma drag queen profissional, um jovem que é envolto por boatos sobre sua possível bissexualidade, uma doutora em linguística e uma menina curitibana que se tornou celebridade devido à utilização profissional do twitter, rede social virtual que explodiu no Brasil em 2009, se exporem em rede nacional.

Se, no BBB 9, as "atrações" eram os personagens mais velhos, como Norberto e a vovó Naná, os observados do BBB 10 poderiam ser encontrados tanto na saída de um metrô de São Paulo quanto em uma balada GLS. São tipos vivos, que andam por aí. Michel, por exemplo. Além de ter como ganha pão um site pornográfico, exibe uma barriga encontrada facilmente nas areias de Matinhos. Ele é normal.

Claro, ainda há os tipos clássicos do programa, como Fernanda e Dourado, que devem muito ao seu corpo e não particularmente a algum fator diferencial em seu modo de ser, de existir.

O Big Brother Brasil 10 torna-se então uma sala de experimentos interessantes, em que o cabeça-dura do Dourado abraça uma drag queen. Em que um homossexual dá "selinho" nas amigas. Em que uma doutora em linguística ensina que não se diz "menas", e sim "menos".

Quando da escolha dos participantes, o critério do culto ao corpo, ao que parece, deu lugar a um tipo de honestidade social e à sua pluralidade. O programa vale como um estudo de caso de um micro Brasil do século 21. E por isso se torna tão interessante. Mesmo depois de dez anos e muitos discursos de Pedro Bial.

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