• Carregando...

Em 2000, o ator Paulo Alves inscreveu um projeto de adaptação de Macbeth, de Shakespeare, na Lei de Incentivo à Cultura. A aprovação só veio em 2004, mas neste meio tempo, ele já havia desistido de produzir uma peça de tal envergadura. Quando recebeu a notícia da Fundação Cultural de Curitiba, perguntou, surpreso: "Macbeth quem?". Estava criado o nome da "comédia bipolar" que, dois anos depois, daria lugar à tragédia shakespeariana.

A partir de hoje, o teatro Espaço Dois se transforma em uma versão contemporânea do Castelo de Inverness, cenário da trama britânica. Durante cinco semanas, o prédio de 1917 vai abrigar a trupe de nove atores que integram a montagem de estréia de Alves na direção, Macbeth Quem – Comédia Bipolar.

"Não é um elenco, é uma excursão", brinca o diretor. Ele foi obrigado a manter o número de atores previsto no projeto original. Uma prova de fogo para o diretor iniciante, que até então só mirava o palco de dentro. Tomou gosto pela vista panorâmica. Pretende dirigir outras montagens, mas sem deixar de lado o seu trabalho de mais de 20 anos como ator. "Foi o trabalho como ator que me calçou, que viabilizou meu trabalho como diretor", afirma.

Sua atuação inclui a participação em espetáculos de diretores locais destacados como Felipe Hirsch (Avenida Dropsie, A Morte de um Caixeiro Viajante, Alice, Nostalgia e A Vida é Cheia de Som e Fúria), Cleide Piasecki (Eis o Cidadão), Marcelo Marchioro (A Flauta Mágica), e Edson Bueno (Histórias Urbanas). Atualmente, integra o elenco de Linha, mais recente direção de Fernando Kinas, em cartaz em São Paulo.

A peça explora os grandes temas de Macbeth: a vilania, o comportamento escuso, a ob-sessão. Mas, ao invés da grandeza da corte britânica, Alves optou por um ambiente próprio à realidade miúda dos dias de hoje: em uma clínica psiquiátrica, um ex-paciente (Mac, interpretado pelo próprio Alves) e sua analista e amante (Beth, na pele de Renata Briani) põem em prática um plano de desmoralização do Dr. Duncan (o ator Álvaro Bittencourt), presidente da Fundação Nacional de Psico-Análise. "Sempre se fala de corrupção de políticos ou de pessoas que saem freqüentemente nos jornais. Escolhi falar de gente comum. O mau-comportamento hoje é algo generalizado", diz.

A trama policial ocorre paralela às pequenas histórias dos pacientes analisados, que sofrem de variações constantes de humor. Para torná-los "mais humanos e críveis", Alves pediu aos atores que resgatassem casos familiares de depressão e esclerose. Misturou-os a fatos retirados de notícias de jornais e ao anedotário em geral para criar uma montagem que não pode ser considerada propriamente comédia. "Não é besteirol, mas é engraçado. Eu diria que é uma comédia tensa", explica. A naturalidade retirada da linguagem dos sitcoms – seriados norte-americanos – contribui para realçar a estranheza dos diálogos.

Serviço: Macbeth Quem – Comédia Bipolar. Espaço Dois (R. Comendador Macedo, 431), (41) 3362-6224. Roteiro e direção de Paulo Alves. De quarta a domingo, às 21 horas. Ingresso a R$10, R$ 5 (estudantes, idosos e assinantes da Gazeta do Povo) e R$ 7 (bônus). Às quartas-feiras, troca de um ingresso por um quilo de alimento não-perecível. Até 11 de fevereiro.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]